O Mito de Hermes
Por Vanilde Gerolim Portillo
14/02/2007
Para Carl Gustav Jung, Os deuses são expressões particulares daquilo
que denominamos arquétipos - padrões primitivos e instintivos de
comportamento, comuns a toda a raça humana, que estão eternamente
atuantes no interior da psique, e que vêm à superfície em momentos
particulares da vida empurrando-nos nessa ou naquela direção,
segundo as necessidades de desenvolvimento da psique.
Principais Epítetos:
Psicopompo: (Acompanhador/condutor de almas)
Mensageiro: (Mensageiro dos Deuses)
Crióforo: (Deus agrário, protetor dos pastores e rebanhos)
Trickster: (Companheiro, amigo e protetor dos comerciantes e
ladrões)
Mestre dos Magos: (Conhecedor profundo da magia e mestre nos
ensinamentos )
Etimologia:
Hermes não possui etimologia confiável, muitos autores relatam que a
origem do seu nome vem de Herma, porém, Herma é uma coluna de pedra
com o busto do deus em cima, entendemos, assim, que o nome do deus é
então anterior ao da Herma que o simboliza.
Genealogia:
Filho de Zeus e de Maia, sendo esta a mais jovem das Plêiades.
Hermes teve numerosos filhos, entre eles :- Dáfnis, Pã e
Hermafrodita.
Sua História:
Nasceu num dia 4 (número que lhe era consagrado), numa caverna no
monte Cilene no sul da Arcádia.
Enrolado nas faixas foi colocado no vão de um Salgueiro, árvore
sagrada, símbolo de fecundidade e imortalidade (rito iniciático).
Criança precoce; no mesmo dia em que nasceu livrou-se das faixas
(poder de ligar e desligar-se), viajou até a Tessália, onde furtou
uma parte do rebanho de Admeto, o qual era guardado por Apolo, seu
meio irmão (audaz).
Muito esperto, amarrou ramos na cauda dos animais para que, enquanto
andassem, os rastros fossem apagados (perspicaz).
Numa gruta, sacrificou duas novilhas aos deuses e dividiu-as em doze
partes; sendo onze os deuses, auto promoveu-se a décimo segundo.
Escondeu o resto do rebanho e retornou a Cilene.
No caminho encontrou uma tartaruga. Retirou-lhe a carapaça e com as
tripas das novilhas sacrificadas fez a Lira (apreciador da música).
Seu meio irmão, Apolo, que era um Deus Mântico, descobriu o roubo e
reclamou, primeiramente com Maia, mãe de Hermes, porém esta não
acreditou que o filho recém-nascido pudesse ter cometido tal feito.
Apolo, então, apelou para Zeus.
Hermes, quando interrogado por Zeus, persistiu na negativa, porém,
Zeus convencido da mentira do filho, obrigou-o a prometer que nunca
mais mentiria no que Hermes concordou, porém acrescentou que não
estaria obrigado a dizer a verdade por inteiro (mentiroso,
enganador).
Apolo ficou encantado com o som que Hermes arrancava da lira, trocou
o rebanho roubado pelo instrumento.
Mais tarde, Hermes inventou também, a “flauta de Pã”; como Apolo
também gostou da flauta, propôs-lhe uma troca:- ofereceu o “cajado
de ouro” (Caduceu), que usava para guardar o gado, em troca da
flauta. Hermes aceitou, pedindo, além do cajado de ouro, lições de
adivinhação.
Atributos e Funções:
Hermes foi um Deus com múltiplas funções.
Como Hermes era um Deus companheiro dos homens, - gostava de se
misturar entre eles, tendo, portanto, laços estreitos com este mundo
que está sempre em mudança e evolução - veremos seus primeiros
atributos sempre sendo reinterpretados, fazendo deste Deus uma
figura cada vez mais complexa.
1. No início – foi um Deus agrário (protetor dos pastores / protetor
dos rebanhos), às vezes representado com um carneiro sobre os
ombros.
2. Por ter Hermes roubado o rebanho de Apolo e, considerando como o
fez, tornou-se o símbolo de tudo quanto implica em: astúcia, ardil e
trapaça. É um trickster (é um trapaceiro, velhaco, protetor dos
ladrões e dos comerciantes).
3. Hermes é um dos menos Olímpicos dos imortais, pois gostava de se
misturar com os homens. Zeus disse-lhe certa vez; -“Hermes, tua mais
agradável tarefa é ser o companheiro do homem; ouves quem estimas”,
ampliando-lhe, assim, as funções (companheiro do homem, dispensador
de bens).
4. Hermes é também o Deus das estradas. Para os gregos, Hermes regia
as estradas porque andava com incrível velocidade, pois usava
sandálias de ouro. Não se perdia na noite porque dominava as trevas
e com isso, conhecia bem o roteiro.
Para agradecer ao Deus ou para obter bons lucros os viajantes
lançavam pedras nos caminhos, em honra ao Deus. Formavam-se, assim,
montes de pedras na beira das estradas. A pedra tem, neste caso, um
significado especial, simboliza a união do crente com o Deus ao qual
as mesmas são consagradas; na pedra está a força, a perpetuidade e a
presença do divino (protetor dos viajantes, das estradas).
5. Com a rapidez de suas sandálias divinas e com o domínio dos três
níveis, tornou-se o mensageiro predileto dos deuses, principalmente
de Zeus e do casal ctônio Hades e Perséfone (mensageiro dos deuses).
6. Hermes executava suas tarefas não somente com a astúcia e a
inteligência que lhe eram características, mas principalmente com a
gnose e a magia (conhecimento - sabedoria).
7. Hermes era inventor de práticas mágicas, conhecia profundamente a
magia da Tessália, conduzia as almas na luz e nas trevas, executava
bem ambas as funções, era, portanto, “o vencedor mágico da
obscuridade”, porque “sabe tudo e, por isso, pode tudo” (mestre dos
magos).
8. Hermes era, assim, o Deus psicopompo; acompanhava as almas até os
domínios de Hades e também as traziam à luz, quando solicitado (um
condutor de almas).
9. Hermes é o Deus do Hermetismo e da Hermenêutica, do mistério e da
arte de decifrá-lo (coisa fechada/ eloqüência).
10. Hermes personifica o arquétipo da iniciação em ambos os sexos. É
encontrado trabalhando nas sombras de todas as principais transições
da vida – especialmente na adolescência, na meia-idade, na hora da
morte e também na hora do nascimento (indicador do caminho).
11. Hermes simboliza os meios de troca entre o céu e a terra, a
mediação, em suma meios que tanto podem perverter em comércio
Simoníaco ou elevar-se, ao contrário, até a Santificação (assegura a
viagem, a passagem entre os mundos infernais, terrestres e
celestes).
12. Por ter, o Deus, habilidade de lidar com os três níveis, -
Hermes desce ao plano inferior e retorna com mensagens - podemos
inferir que ele traz as mensagens do inconsciente, através dos
sonhos, como também, é o guia dos seres na sua transmutação, na sua
individuação (segurança na mudança mental de estado em estado, de
grau em grau, de condição em condição, de pólo em pólo, de vibração
em vibração).
13. Hermes é um Deus civilizador, patrono da ciência e imagem
exemplar das gnoses ocultas. É o sábio, o judicioso, o tipo
inteligente do grego refletido, o próprio logos. Hermes é o que sabe
e, por isso mesmo, aquele que transmite toda ciência secreta
(patrono de todas as artes que dependem da escrita).
14. Todo aquele que é iniciado por Hermes torna-se invulnerável a
toda e qualquer obscuridade. Mercúrio costumava ser invocado nas
cerimônias dos magos como transmissor de fórmulas mágicas (guia dos
magos).
15. Mercúrio funciona também, como mediador e protetor nas
artimanhas amorosas.
16. Hermes é também o Deus modelo dos atletas, visto que, para
executar suas funções com a agilidade e rapidez que lhe eram
exigidas, o Deus é representado, na maioria das vezes, como um jovem
com corpo atlético (patrono dos esportes e jogos olímpicos).
Entre os Feitos Atribuídos a Hermes Podemos Ressaltar:
1. Usando o capacete de Hades que o deixava invisível, lutou ao lado
dos deuses e matou o gigante Hipólito.
2. Roubou os tendões de Zeus que fora arrancado por Tifão e recompôs
fisicamente seu pai.
3. Libertou Ares que fora aprisionado num pote de bronze pelos
Alóadas (filhos de Posidon).
4. Salvou Ulisses e seus companheiros, usando a erva Móli, que foram
transformados em animais semelhantes a porcos pela feiticeira Circe.
5. Anunciou a Deucalião que Zeus conceder-lhe-ia a satisfação de um
desejo.
6. Por intermédio de Hermes, Anfião (músico) recebeu a lira;
Héracles recebeu a espada, Perseu, o capacete de Hades.
7. Levou à Calipso ordens para que permitisse a partida de Ulisses
que há sete anos era prisioneiro da paixão da ninfa da ilha Ogígia.
8. Foi ele quem adormeceu e matou Argos que havia aprisionado a vaca
Io, por ordem da ciumenta Hera.
9. Levou Hera, Atená e Afrodite ao Monte Ida para que Páris dissesse
qual era a mais bela.
10. Atendendo, ainda, ordem de Zeus, levou a Prometeu o ultimatum
para que revelasse o grande segredo que tanto preocupava o pai dos
deuses e dos homens.
11. Conduziu Dionísio de asilo em asilo.
12. Conduziu Psique para o Olimpo para se casar com Eros.
13. A tarefa, porém, mais importante de Hermes era interpretar a
vontade dos deuses.
LONGEVIDADE DE HERMES
Apesar da grande crise que passou a religião grega com a destruição
dos templos e de seus deuses, Hermes sobreviveu a tudo através de
mil vicissitudes.
Hermes Trismegistos sobreviveu através da Alquimia e do Hermetismo.
Segundo Jung, a alquimia é a expressão de um processo simbólico que
acompanha o desenvolvimento psíquico chamado de individuação.
Segundo Von Franz, o processo de desenvolvimento psicológico é
análogo aos estágios na transformação alquímica – da matéria básica
ao ouro.
A alquimia é uma ciência, ou melhor, uma filosofia e baseia-se na
seguinte teoria: “tudo no mundo obedece às mesmas leis e todos os
objetos da natureza contêm a energia vital”. “Toda matéria contém
vida.”
O trabalho do alquimista é o de unir os opostos; cada matéria possui
seu par e nesta união alcança-se o casamento alquímico. Para tanto,
é necessário purificar a natureza ou buscar sua perfeição.
A alquimia, entretanto, é mística; os alquimistas acreditavam que
para realizar a grande obra, a regeneração da matéria, deveriam
procurar a regeneração de sua alma; é um processo paralelo:- a busca
da pedra filosofal e a purificação da alma, tornando o homem um ser
luminoso, revelando o “ouro” que possui.
Os alquimistas que procuravam apenas fabricar ouro não eram
verdadeiros adeptos, pois, segundo palavras atribuídas a Hermes: “O
meu ouro não é ouro vulgar”. Ou seja, o ouro que o alquimista deve
procurar não é o metal.
O fundamento simbólico é a separação dos sexos e sua re-união, ou
seja; oposição e equilíbrio dos dois grandes princípios do universo.
A base desta busca encontra-se na célebre obra “Tábua de Esmeralda”,
que teria sido gravada pelo próprio Hermes, numa linguagem
criptográfica, cifrada, esotérica, Hermética, só para iniciados.
Segundo a Tábua a distribuição simbólica, masculino - feminino é a
seguinte:
Masculino: O sol, o ouro, o fogo, o ar, o rei, o espírito de
Enxofre.
Feminino: A luz, a prata, a água, a rainha, o espírito de Mercúrio.
Onde o Mercúrio dos alquimistas quer dizer Hermes e é Hermafrodito,
pois é feminino porque é branco e líquido e é masculino porque é um
metal seco.
Este Hermafroditismo provém exatamente do fato de simbolizar a união
dos opostos (contrários).
A pedra oculta renascerá das cinzas, será o homem novo, a fênix, a
rosa.
Sendo o universo formado de quatro elementos, ar, fogo, água e
terra, sob o aspecto de quatro estados, gasoso, sutil, líquido e
sólido, a “pedra”, que representa a unificação dos quatro elementos,
é, por conseguinte, a quintessência, simbolizada pelo número cinco
ou pela rosa que possui cinco pétalas.
O alquimista tratará a matéria tal qual o Deus era tratado nos
Mistérios: os minerais padecem, morrem e renascem em uma outra
forma, isto é, são transmutados.
Essa transmutação, efetuada pela grande operação, faz a matéria
passar por quatro fases, que são designadas segundo as cores que
tomam os ingredientes na operação: nigredo (preto), albedo (branco),
citrinitas (amarelo), rubedo (vermelho).
Antes iniciar a recriação da matéria era necessário alguns ritos:-
fogão adequado, vaso especial, etc., Logo após os contrários são
fechados no vaso (atanor ou ovo filosofal), dando início ao processo
de purificação.
Tendo Hermes natureza dupla, também assim se apresenta sendo
Mercúrio; como Mercúrio-planeta é o mais próximo do sol, o que lhe
confere sua natureza de ouro, como Mercúrio-metal dissolve o ouro
apagando, assim, o brilho solar.
Hermetismo
Hermeticus (latim) – “maneira especial de fechar completamente
vasilhas”. O sufixo “ismo” – Indica doutrina filosófica.
Hermetismo: conjunto de crenças, idéias, práticas e ritos
transmitidos através da vasta literatura Hermética. Divide-se em
dois grandes grupos: tratados concernentes ao Hermetismo popular
(magia, alquimia, astrologia, ciências ocultas) e Corpus Hermeticum
de cunho muito mais erudito.
Hermético: tem sentido de “fechado, impenetrável, sigiloso,
misterioso”.
Opostamente; Hermenêutica: “é a interpretação, esclarecimento,
exposição”.
Ambos, tanto Hermético quanto Hermenêutica, derivam do teônimo grego
Hermes que é uma divindade detentora de inúmeros segredos,
considerada capaz de revelá-los.
Para a acepção teológica da palavra Hermenêutica, “arte de
interpretar o verdadeiro sentido dos textos sagrados”, concorre com
o fato de Hermes ser também deus tutelar da escrita.
Atualmente, empregamos o termo “Hermético” no sentido de secreto,
fechado de tal maneira que nada escapa etc., pela razão de que os
discípulos de Hermes sempre observaram o princípio do segredo nos
seus preceitos.
Os preceitos Herméticos estão espalhados em todos os países e em
todas as religiões, mas não pertencem a nenhuma seita religiosa
particular, por orientação dos antigos mestres evitaram que a
doutrina secreta fosse cristalizada num credo.
O CAIBALION
Há tempos, existiu uma compilação de certas doutrinas básicas do
Hermetismo, transmitida de mestre a discípulo, a qual era conhecida
sob o nome de “Caibalion” (tradição ou ensinamento manifestado por
um ente superior).
Estes ensinamentos eram transmitidos dos lábios aos ouvidos.
Estes preceitos constituíam realmente os princípios básicos da arte
da alquimia Hermética, que se baseia no domínio das forças mentais,
em vez de no domínio dos elementos materiais; na transmutação das
vibrações mentais em outras, em vez de na mudança de uma espécie de
metal em outra.
Os Sete Princípios Herméticos:
Os sete princípios Herméticos que se baseia a filosofia Hermética
reconhecidas no Caibalion são:
I – O Princípio do Mentalismo
“O todo é mente; o universo é mental”.
II - O Princípio da correspondência
“O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo
são como o que está em cima”.
III - O Princípio da Vibração
“Nada está parado; tudo se move; tudo vibra”.
IV - O Principio de Polaridade
“Tudo é duplo; tudo tem pólos; tudo tem seu oposto; o igual e o
desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza,
mas diferente em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são
meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados”.
V – O Princípio do Ritmo
“Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce;
tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento
à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a
compensação.”
VI - O Princípio de Causa e Efeito
“Toda causa tem o seu efeito, todo efeito tem a sua causa; tudo
acontece de acordo com a lei; o acaso é simplesmente um nome dado a
uma lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada
escapa à lei.”
VII - O Princípio do Gênero
“O gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu
princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos.”
A TÁBUA DE ESMERALDA
Segundo alguns estudiosos, existe um número grande de obras
atribuídas a Hermes (pelo menos 42, segundo Clemente de Alexandria),
sendo: 36 conteriam a ciência dos egípcios, e o restante, os
conhecimentos de medicina.
A mais conhecida de todas, entretanto, é a Tábua de Esmeralda (em
latim, Tábula Smaragdina), cuja origem é também misteriosa: a tábua
teria sido gravada numa esmeralda pelo próprio Hermes e fora
encontrada no seu túmulo.
Esta origem também tem seu paralelo na obra rosacruciana que se
chama "Fama Fraternitatis Rosae Crucis”, referindo-se ao túmulo de
Cristão Rosacruz (Christian Rosenkreuz).
Texto da Tabula de Esmeralda:
Tábula de Esmeralda, Hermes Trismegistos
“É verdadeiro, completo, claro e certo. O que está embaixo é como o
que está em cima e o que está em cima é como ao que está embaixo,
para realizar os milagres de uma única coisa.
Ao mesmo tempo, as coisas foram e vieram do um, desse modo as coisas
nasceram dessa coisa única por adoção.
O Sol é o pai, a lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a
Terra é sua ama; o Telesma do mundo está aqui.
Seu poder não tem limites na Terra.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do espesso, docemente com grande
indústria.
Terra para o céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das
coisas superiores e inferiores. Deste modo obterás a glória do mundo
e as trevas se afastarão.
É a força de toda força, pois vencerá a coisa sutil e penetrará na
coisa espessa.
Assim o mundo foi criado.
Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas. Por esta
razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes
da filosofia universal.
O que eu disse da obra solar é completo.”
(in Corpus Hermeticum – Hermes Trismegistos – Hemus –São Paulo,
1974)
Para aqueles que conhecem a doutrina Hermética e alquímica os
dizeres de cada linha da Tábua é cheia de significados.
A doutrina da unidade cósmica, defendida pelos modernos cientistas e
o princípio da analogia e das correspondências entre todas as partes
da criação está bem claro no texto da Tábua.
A frase mais comentada: “o que esta em cima é como o que está em
baixo,...” Significa que toda a vida está unida por uma espiral de
harmonia.
E o que está em cima é paralelo e correspondente ao que está em
baixo, não igual ou semelhante.
Iconografia de Hermes:
Chapéu de formato especial: O Pétaso
Sandálias providas de asas: O Talário
Segura um Caduceu com duas serpentes entrelaçadas em sentido
inverso, encimado por asas.
Obs.: aparece, também, representado com um falo grande (geralmente
na representação alquímica).
Simbologia:
Chapéu: Autoridade, simbolismo como o da coroa = poder e soberania,
cobrindo a cabeça, sede da psique e da inteligência, o chapéu é
símbolo de identificação.
Segundo Jung, trocar o chapéu é também trocar de idéias, ter uma
outra visão do mundo.
Sandálias: Separa a terra do corpo pesado e vivente, as sandálias
aladas, Para Hermes e Perseu, são símbolos de elevação mística e,
para Hermes, particularmente, configura o domínio dos três níveis.
As sandálias aladas “significam a força da elevação” e a aptidão
para os deslocamentos rápidos.
Caduceu: Em grego kerykeion. É um bastão de arauto. Tem várias
interpretações, porém o caduceu do deus Hermes poderá ser
interpretado das seguintes maneiras:
a) Sendo um bastão em torno do qual se enrolam, em sentido
contrário, duas serpentes, o caduceu serve de equilíbrio aos dois
aspectos da serpente, a direita e a esquerda, o diurno e o noturno,
pois a cobra sendo um réptil ctônio, possui duplo aspecto simbólico:
um benéfico outro maléfico.
Consta que duas serpentes entram em luta e que Hermes as separa,
jogando o bastão entre elas, criando assim, a polarização, porém
mantendo-as enroladas em torno do Caduceu, elas simbolizam o
equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo.
Visto desta maneira o bastão do Deus Hermes é o símbolo da paz.
Os dois sentidos; ascendente e descendente das correntes
representadas pelas serpentes, marcam bem duas das funções de
Hermes: mensageiro dos deuses e o guia dos seres na sua
Transmutação.
b) Segundo Henderson - o caduceu simboliza o falo em ereção com duas
serpentes acopladas. Este falo de Hermes Psicopompo penetra, a
partir do mundo conhecido no mundo desconhecido, em busca de uma
mensagem espiritual de libertação e de cura.
As asas:
As asas de seu chapéu, as asas de suas sandálias e as asas do
caduceu mostram que o Deus Alquímico transformou-se num “homem
voador”, significando assim, a força total da transcendência.
Nas representações do Deus Thot o mesmo é visto com cabeça de ave
(Íbis), representado como uma forma alada do princípio
transcendente.
Metamorfoses de Hermes / Sincretismo:
Hermes sofreu muitas metamorfoses e ultrapassou muitas barreiras
religiosas aparecendo, assim, identificado com muitos outros deuses,
entre eles:
1 - Hermes para os Romanos é Mercúrio: tem todas as características
do Deus Grego, porém é enfatizado sua função de protetor dos
comerciantes, dos negócios. Na sua iconografia como Mercúrio,
apresenta-se igual a Hermes com mais um detalhe essencialmente
romano: um saquinho para guardar dinheiro, símbolo dos ganhos
obtidos no comércio.
2 - Hermes Trismegistos (três vezes máximo = rei, legislador e
sacerdote), resultou do Sincretismo do deus Mercúrio - latino com o
deus ctônio Thot.
Para os egípcios teria existido um homem chamado Hermes Trismegistos
e que muito tempo após sua partida deste plano de existência os
egípcios o deificaram e fizeram dele um dos seus deuses sob o nome
de Thot. Anos depois, na Grécia, o deificaram com o nome de “Hermes,
o Deus da sabedoria”. Os egípcios reverenciaram por muitos anos a
sua memória, denominando-o mensageiro dos deuses e ajuntando-lhe
como distintivo o seu antigo título “Trismegistos” que significa
três vezes grande:
Primeiro: como Hermes que era considerado um dos grandes mestres;
Segundo: como Thot que foi considerado duas vezes grande e;
Terceiro: como Hermes Trismegistos: que é o sincronismo de Hermes
com Thot.
O Deus Thot teria criado o mundo por meio do lógos, da palavra;
substituto de Ré, o deus supremo: mensageiro, iluminador, juiz
interior (consciência), guia, mediador. Personifica a revelação da
sabedoria dos homens e do caminho da eternidade.
O Deus Thot é considerado também o mestre da escritura, da palavra e
da inteligência.
3- Segundo Santo Agostinho em “A Cidade de Deus” Trismegistos é o
tataraneto de um contemporâneo de Moisés.
4- Na tradição islâmica é identificado com Idris.
5- Mercúrio penetra no cristianismo como:
- O Deus da eloqüência,
- Hermes-Logos = Cristo-Logos.
- Hermes deus dos rebanhos (Crióforo) = vários santos são
representados com carneiros nas costas, ou pastoreando-os.
- psicopompo - atributo também de Cristo
6- Na renascença:
- Virgílio de Dante faz a função de Hermes.
7- Mercúrio e o tarô - tarô é um método sintético para
desenvolvimento do “sentido dos símbolos”.
Como toda filosofia Hermética, o tarô também tem sua origem
desconhecida. Há estudiosos que afirma que eram, inicialmente,
utilizados por ciganos espanhóis. Outros ocultistas atribuem aos
egípcios a origem do tarô. Existiam, ainda, produções similares na
China e na Índia, na mesma época que o tarô aparece na Europa.
Para muitos pesquisadores, o tarô é o sumário das quatro ciências
Herméticas: Cabala Astrologia, Alquimia e Magia.
Todas estas ciências são atribuídas a Hermes Trismegistos e
representam um sistema amplo e profundo de investigação psicológica
da natureza humana em sua relação com o mundo físico e espiritual.
8- Hermes é identificado nas crenças afro-brasileiras como Exú.
Exú é o Orixá guardião dos caminhos. Caminhos que levam e trazem e
fazem as pessoas se encontrarem ou se distanciarem. É quem faz com
que os ritos sejam cumpridos, principal responsável pela ligação do
mundo espiritual e o mundo material.
Emissário/mensageiro entre os homens e os Orixás: faz o elo de
ligação entre o homem e os demais Orixás, tanto na passagem como na
comunicação.
Exú é um Orixá tão importante quanto os outros Orixás. Por ser mais
ligado ao mundo terrestre, possui certos costumes e temperamentos
próprios dos seres humanos.
Por ser também um orixá que cuida dos caminhos onde percorrem
homens, Orixás, espíritos, etc. e sendo o elo entre esses mundos,
Exú possui múltiplos contraditórios, sendo bom e mau, astuto,
grosseiro, indecente, protetor, alegre, brincalhão, violento, etc.,
Por isso foi erroneamente sincretizado com o diabo cristão.
Ferramentas e símbolos de Exú:
Chave, tridente, vulto (pênis ereto),etc.
Arquétipos de Exú:
Filhos de Bará / Exú = caráter imprevisível; às vezes são bravos,
intrigantes e ficam muito contrariados, às vezes são pessoas
inteligentes e compreensivas com os problemas dos outros.
Não aceitam derrotas, temperamento difícil, melindrosos, vingativos.
Possuem muita energia, portanto precisam estar sempre em atividade.
Dia da Semana: Segunda-feira
Resumo
Hermes Trismegistos (Mercúrio): em grego Hermes é também “Herma,
Cipó, Pilastra, estela com cabeça de Hermes”. Filho de Zeus e Maia
nasceu num dia 4. Hermes governa as funções da inteligência,
memória, astúcia e criatividade. Inventou a lira e a flauta de Pã,
pela qual trocou com Apolo pelo cajado de ouro o “Caduceu” e por
lições de Mântica, que aperfeiçoou auxiliando a leitura por meio de
pequenos seixos. Hermes é símbolo de tudo quanto implica em astúcia,
ardil e quando em desequilíbrio “trapaça”. É o deus do comércio,
protetor dos comerciantes e dos ladrões. Hermes Trismegistos, “o
três vezes grande”, resultou do sincretismo com o deus egípcio Thot.
Thot era o mestre da escritura e, por conseqüência, da palavra
(comunicação) e da inteligência, mago terrível e patrono dos magos.
Governa deste modo também a filosofia, a religião, a alquimia, magia
e astrologia. Hermes é o pai dos alquimistas, Deus mensageiro,
Psicopompo, tem por missão mostrar o caminho da elevação da
consciência dos homens, transformando o chumbo da ignorância em ouro
da sabedoria (pedra filosofal) e dispensar bens como fazia Robin
Hood. É um deus alquímico do oportunismo (em grego kairós), dos
caminhos e protetor dos viajantes.
Templos de Hermes:
Em Samotrácia, Arcádia, Beócia, Atenas, Acaia e Creta.
Árvore sagrada: O salgueiro, como símbolo da fecundidade e
imortalidade.
Floral de Bach: Chestnut bud.
Mês do ano: Outubro.
Dia da Semana: Quarta-feira - Mercuri (i) dies, dia de Mercúrio;
francês mercredi, italiano mercoledi, espanhol miércoles, romeno
miercuri.
Habilidade: Negociação, comércio, comunicação, inteligência e
astúcia.
Obstáculo: A mentira, a ansiedade e o desrespeito pelo ritmo do
outro.
Canto a Hermes:
“Canto a ti, óh Hermes Trismegistos, óh três vezes grande, senhor
dos caminhos, o imortal mais próximo e companheiro dos homens: ouves
a quem estimas! Falo a ti, filho do trovão e da mais jovem das
Plêiades, dai-me a sabedoria e o discernimento para falar com a voz
do coração e com a agilidade do pensamento! Óh mensageiro do Olimpo,
protetor dos viajantes, dispensa teus bens, para que o corpo não
pereça e o espírito aproveite a oportunidade da aprendizagem!
E caso pereçamos em nosso tempo, guia-nos o espírito no caminho da
redenção! E que encontrando o caminho Hermético do saber, consigamos
transformar o chumbo da ignorância no ouro da compreensão, porque no
fim todos somos filho de um único Deus!”(João Ronaldo Soares “Poemas
Épicos Nos Moldes Homéricos – 1998.”).
Referências Bibliográficas
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Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
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