Mulher sozinha, virtude ou problema
Por Silvia Malamud
28/01/2011
Ser sozinha no século XXI é mais uma opção pessoal do que a falta da
mesma. Muitas mulheres atualmente fazem esse tipo de escolha.
Principalmente, quando descobrem que não precisam trocar de
mantenedor ou protetor após saírem da casa dos pais ou se
divorciarem ou mesmo quando ficam viúvas. A mulher de hoje, muito
mais facilmente percebe que pode estar no comando de sua própria
vida.
O estar só, dentro deste contexto, pode significar um momento de
entressafra onde a mulher, por opção, pode decidir se quer ou não
ter um parceiro. A diferença brutal de antigamente para os dias
atuais é que a mulher bem resolvida sabe que não necessita de um
homem a tiracolo para ter um lugar no mundo. Ela mesma pode e faz o
seu lugar, bem como seu status social. O mundo, agora,
principalmente nas grandes metrópoles, não mais instiga, como antes,
que a mulher seja submissa ou que tenha que depender de um homem
para sustentá-la.
O fato de a mulher estar sozinha não implica numa circunstância de
tempo de duração, mas, sim, no aspecto emocional e condicionamentos
culturais. Note que isso não é uma apologia sobre os benefícios de
se estar só. Tanto a mulher, como o homem, quando inteiros, podem
escolher ter um companheiro de jornada autêntico, que não esteja
embolado em meio a uma linha cruzada de projeções recíprocas
embasadas nas necessidades pessoais de cada um.
Por outro lado, num processo de solidão involuntária, existe a
oportunidade para que o sexo feminino dinamize o seu lugar no mundo,
incluindo pesquisa acurada sobre si mesmo. Imagine-se num
relacionamento de anos, algo abrupto ocorrendo onde repentina e
inexoravelmente você se encontra só. O que fazer nessas ocasiões?
- O primeiro passo seria observar o quanto de si mesmo estava no
parceiro e aos poucos ir resgatando pedaços cedidos.
Simultaneamente, parar para refletir sobre o quanto vivia em função
da relação. Por fim, buscar conhecer sua própria identidade que, na
certa, independe de qualquer relacionamento. Essa jornada interior
requer cuidado especial e amorosidade consigo mesmo, nunca pena.
Pesquisar gostos pessoais pode ser o prenúncio de um bom começo.
A solidão involuntária, seja por qual motivo tiver acontecido, é
excelente momento para que um desenvolvimento interior mais profundo
aconteça. Pode até ser um ponto de partida em que novas habilidades
surjam e um preparo, dependendo da situação de vida, para que a
mulher reveja o que deseja conquistar num próximo relacionamento.
Muitas vezes um processo terapêutico é bastante indicado no sentido
de abrir amplo espaço para que o autoconhecimento se instale em meio
a dinamismo e clareza. E em determinados casos, para que uma
depressão maior não se instale. Não devemos desprezar as mudanças de
vida. Se a pessoa tem uma identidade construída no outro, ficar só
repentinamente pode ser desastroso. Equilibrar-se novamente requer
tempo, necessidade de apoio e ajuda de amigos.Lembrando novamente
que bom processo terapêutico também é bem vindo.
Uma das premissas para checar se a solidão passou dos níveis de
suportabilidade é verificar como estão os contatos com amigos e
outros. Se estes estiverem reduzidos demais, o alerta se faz
importante. Quando se perde a motivação para sair, encontrar com
pessoas ou atividades de interesse pessoal, também.
Além disso, ficar atenta o nível de alegria. Às vezes a pessoa pode
estar deprimida, sem se dar conta. Não é porque não se encontra
jogada numa cama, sem ânimo, que não se encontra em estado
depressivo. A vida acontece em ambientes relacionais e sempre
crescemos por intermédio das nossas relações. Momentos de solidão e
de encontro consigo mesmo são extremamente importantes para que nós
possamos dar significados a nós mesmos; quando em excesso, porém,
esses mesmos significados, correm o risco de se perderem.
Tanto a solidão voluntária, como a involuntária pode ser um forte
disparador de questionamentos a ponto de levar a mulher a se
conhecer de modo diferenciado. As que pegam carona nesses
questionamentos têm a oportunidade de construir fortalecimento
inquebrantável. A questão é saber como trabalhar com o novo e saber
tirar proveito.
Nós, mulheres, somos provedoras, não ao contrário, como nos foi
ensinado. Isso me faz lembrar o livro de Rianne Eisler quando conta
sobre nossa história e relata como nossas forças arquetípicas foram
invertidas e que, agora, novamente estamos clamando e conquistando
de volta nossos lugares primordiais.
Quem souber pegar essa onda e incorporar de volta o que já é nosso,
pode se beneficiar tremendamente num caminho de capacitação e
segurança de si mesmo, sem retrocessos. Como exemplo disso, em seu
livro, Rianne revela que a mulher primitiva era muito reverenciada
em todos os seus tempos de vida. Quando menstruava, freqüentemente,
deixava escoar seu sangue na terra, para que a sua força pudesse
arar dando boa colheita. Quando engravidava, a mesma força do seu
sangue servia na crença popular, para alimentar o nenê que estava
sendo gerado... E, finalmente, quando entrava na menopausa, seu
sangue e poder permaneciam definitivamente com ela tornando-a, por
conseqüência, a velha sábia a quem todos reverenciavam pedindo
conselhos.
Cabe a nós, mulheres do século XXI, resgatarmos nossas raízes.
Sozinha ou não, você está pronta? Habilite-se e procure o que for
necessário para entrar em contato com a sua força matriz. Só não
fique parada, busque, ouse e conquiste-se.
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado. Autora do Livro: Projeto
Secreto Universos. Email: silvimak@gmail.com