Múltiplos Eus, nossa verdadeira constituição
Por Silvia Malamud
28/01/2011
Somos constituídos por diversos personagens sendo que todos estes se
tornaram vividos por conta de importantes experiências passadas ao
longo da vida. Se você já presenciou a personalidade de alguém, ou
mesmo a sua, mudar da água para o vinho e de um minuto para outro,
sabe sobre o que estamos abordando.
Existem situações onde perdemos totalmente a conexão com o Eu e nos
encontramos literalmente possuídos por aspectos desconhecidos,
porém, nossos. Trata-se de identidades provavelmente geradas em
momentos difíceis e assustadores do passado permanecendo congeladas
no curso das nossas histórias de vida, como se estivessem dentro de
bolhas no tempo visando proteger a nossa integridade. Por não
conseguirmos lidar com determinadas situações de vida, pedaços
nossos ficam retidos na nossa linha do tempo enquanto o resto de
nossa totalidade continua seguindo em frente.
Dentro deste contexto, já notou que um evento aparentemente
aleatório pode disparar as mais diversas reações em cada pessoa?
- Já se perguntou sobre quais os motivos dessas situações ocorrerem
praticamente em todos nós?
Interessante notar as mais diversas culturas conhecerem este mesmo
assunto pelas mais diversas maneiras. Isso por si só já fala de uma
verdade que poderia ser concebida como universal aos seres humanos.
Vejam a seguir apenas algumas indicações a respeito.
Sabemos que ao redor do mundo existem inúmeras tribos xamânicas.
Elas existem nas regiões brasileiras indígenas, peruanas, nas
regiões Russas do Altai, entre outras tantas. Nessas culturas,
existe uma modalidade de cura emocional e mesmo de cura para doenças
costumeiramente chamada de Resgate de Alma. Nesta, o Xamã entende
que um pedaço da alma da pessoa em aflição se encontra escondido em
algum local e por conseqüência impedindo-a de ter saúde. No
procedimento de cura que conheço, o Xamã faz uma viagem psíquica ao
interior da pessoa, encontra-se com o pedaço da alma escondido e não
atuante na totalidade, negocia para que este volte a fazer parte da
alma total do indivíduo mostrando a sua importância para a
completude da vitalidade e alegria. Muitas vezes o resgate é penoso
e o pedaço de alma conta sua história e também o motivo pelo qual se
mantém exilado e o tempo em que se escondeu. Não poucas vezes este
pedaço aparece numa vivência de quando a pessoa era criança,
mostrando o lugar onde se esconde, na maioria das vezes por medo.
Algumas vezes o resgate também se dá por algum episódio recente.
Durante o processo, o enfermo permanece deitado ao lado do Xamã e
este faz sua viagem resgate até que o mesmo promova cura, libertação
e reintegração. Quando o acordo de volta da alma é selado,
geralmente o Xamã, num ato simbólico (ou não) sopra o pedaço de alma
faltante no topo da cabeça e coração da pessoa. Uma cerimônia
sagrada e, na crença xamânica, altamente eficiente.
Outro modo de reconhecer e resgatar esses nossos aspectos
traumatizados passa pela área da psicologia, numa analogia de quando
aspectos do inconsciente que comandam a cena podem integrar-se de
modo saudável na vida. O reprocessamento que o EMDR promove também
funciona como uma abordagem altamente competente dentro da
psicologia e que ajuda a reprocessar os momentos difíceis que
passamos. Será mais explicitado a seguir.
Também a física quântica aborda o tema ao pesquisar sobre universos
paralelos nos quais poderíamos coexistir e numa conexão
desconhecida, todos os eus seriam afetados ininterruptamente com a
qualidade das vivências experenciadas por cada um em sua lâmina de
realidade. Ou seja, cada eu seria um aspecto total em si e de algum
modo estaria influenciando os outros eus.
A nossa questão refere-se à invasão que estes supostos eus, mediante
suas histórias, frequentemente fazem em nossas vidas, muitas vezes
ocasionando estragos indesejáveis em condutas reconhecidamente
escolhidas e honrados por nós.
Ocorre que quando o eu assustado e congelado na bolha se percebe
ameaçado, acaba emanando seus conteúdos emocionais para fora da
mesma de modo totalmente desconexo e, pior, sem avisar. Nesses
momentos somos invadidos por reações cegas que ao nos atravessarem
exteriorizam-se de forma desmedida. Costumam se apresentar pelos
excessos ou mesmo pelo medo, acanhamento ou retração. E a incógnita
para nós, leigos do real sentido que move estes aspectos, é pensar
logo depois e de modo racional o porquê de não conseguirmos frear
estes impulsos tão estranhos e paradoxalmente conhecidos.
Nessas ocasiões, dissociados de nós mesmos, aspectos que permanecem
paralisados no tempo do sofrimento surgem como fantasmas atuantes no
palco de nossas vidas e nenhum de nós esta livre de ser vitima de si
mesmo.
Todos passaram experiências de difícil digestão. Por conta disso,
paralisamos e congelamos estes Eus em meio às historias e
entendimentos da realidade de modo disfuncional, associando crenças
irracionais exatamente pela visão distorcida que situações de trauma
promovem.
A pergunta que fica é: - Como tratar dessas possíveis possessões de
nós para nós mesmos quando ficamos totalmente descontrolados? E o
pior é sabermos que fatalmente essas situações se repetirão em
nossas vidas se não tomarmos alguma atitude... E que atitude poderia
ser esta quando inúmeras vezes custamos a acreditar que fomos nós
mesmos que agimos de modo violento, agressivo, ou mesmo nos
esquivando quando supostamente deveríamos ter agido?
Dificilmente, temos noção exata sobre o que do mundo externo dispara
em nós determinadas reações emocionais e irracionais. Quando
compreendemos, mesmo assim, há dificuldades em acessar chaves de
transformação interior.
Na abordagem do EMDR (busque mais explicações sobre em outros
artigos meus sobre EMDR) podemos acionar e trabalhar esses Eus
negociando com eles, na real possibilidade de libertá-los de
situações difíceis.
Por intermédio do EMDR, o Eu consciente, numa atenção dual consegue
entrar em contato com estas estâncias sofridas reprocessando
conteúdos congelados que ressurgem sem aviso prévio e em nome da
sobrevivência de algum momento antigo...e desconectado com a
realidade total do momento presente.
Dá o que pensar, não é?
Uma das nossas metas existenciais refere-se a conquistarmos o status
de sermos de verdade senhores de nós mesmos, movidos por uma
completude de experiências saudáveis.
Desejo que todos nós possamos usufruir da vida em meio aos seus
supercoloridos tons. Que possamos sair dos lugares que nos paralisam
com a maestria de quem realmente participa. E que possamos nos
sentir literalmente VIVOS!
Tenha o EMDR como um dos caminhos possíveis.
Oriente-se e seja feliz. 2011 - Escolha ser este, o Ano da sua
transformação. Aproveite!
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado. Autora do Livro: Projeto
Secreto Universos. Email: silvimak@gmail.com