Mundo Virtual e tecnologia a favor do ser humano, sem gerar dependências
Por Marcus Facciollo
04/11/2009

Mundo virtual e tecnologia a favor do ser humano, sem gerar dependências
Marcus FacciolloMarcus Facciollo
marcusmf@gmail.com
reflexoeseredescobertas.blogspot.com/
Computadores, informatização, internet... Que bom que tudo isso existe, facilita muito a vida de todos nós, que temos cada vez mais atividades e menos tempo. Hoje pode-se trabalhar em casa, graças à internet, desempenhar funções que antes exigiam a presença física da pessoa numa empresa. Podem-se fazer transações bancárias, compras, travar contato com pessoas de diferentes lugares, adquirir muita informação e cultura, divertir-se, fazer amizades, iniciar relacionamentos afetivos via web. Evitam-se deslocamentos, trânsito, poupa-se tempo, dinheiro, há mais comodidade. O que antes demandaria um esforço muito grande hoje em dia é bem mais fácil de fazer graças aos computadores, há diversos programas para os mais diferentes campos da atividade humana: artes, comércio, administração, editoração, medicina, engenharia... Poderia ficar aqui escrevendo muitos e muitos aspectos positivos e acredito que esqueceria de mencionar alguns. São inegáveis os benefícios.

Porém, toda essa tecnologia deve ser usada a favor do ser humano, ser "escrava" dele, e não o contrário. É a tecnologia que precisa se adaptar ao homem, e não o homem a ela. Se isso muitas vezes não acontece exatamente assim, nós é que temos de aprender a lidar com essas novas ferramentas, ok, certo grau de adaptação e reformulação pessoal e de conhecimentos faz parte. Também há formas de auxílio, seja uma pessoa com mais conhecimento que nos oriente ou mesmo um site, grupo de discussão virtual ou manual que esclareça nossas dúvidas. Procuremos ajuda sempre que for necessário, pois isso nos trará o conhecimento para dominarmos a tecnologia.

O que mais chama a atenção, entretanto, é que muitas pessoas, agora falando da internet, acabam se tornando dependentes dela para viver. Sem exageros, há pessoas em situações extremas que se sentem totalmente perdidas se não puderem acessar a internet e ficar on-line o máximo de tempo possível, que pode ser até 24 horas por dia ou mais, como casos que temos conhecimento pela mídia, de gente que passou dias e dias on-line sem comer, sem fazer mais nada, algumas vindo até a morrer. Não, isso não é exagero, por mais incrível que pareça. A coisa vira um vício, na mesma gravidade de muitos outros. A culpa não é da internet, que é algo com muitas possibilidades boas (e muitas ruins, cabe a cada um perceber isso e escolher o que quer), é um problema de cada indivíduo, que usa a vida virtual para compensar ou mascarar deficiências em sua vidas social, afetiva, por vezes trocando o mundo real pelo virtual. Poderia ter caído em outro tipo de vício? Sim. O que a internet tem de tão atrativo justamente são as infinitas possibilidades que apresenta e a relativamente fácil acessibilidade a ela. Atualmente, aqui no Brasil, muita gente tem acesso à web, seja em casa ou noutro lugar. É mais fácil acessar a web do que comprar drogas, por exemplo, não é fora da lei, não é crime o acesso.

Casos de pessoas viciadas no mundo virtual são casos extremos, e não cabe a mim, que não sou psiquiatra, psicólogo, médico, ficar tecendo considerações sobre razões que levam à dependência e soluções para isso. O que quero abordar é que, mesmo não sendo viciadas, dependentes, muitas pessoas acabam passando mais tempo do que seria o ideal conectadas e deixando de ter outras vivências, muito produtivas.

Há quem desista de sair, de encontrar pessoas, para ficar na net. Quem tenha centenas de amigos virtuais (e às vezes não conhece pessoalmente quase nenhum) e deixe de cultivar as amizades reais, muito mais ricas e calorosas. Claro, os relacionamentos virtuais têm seu valor, sim, você pode criar vínculos com pessoas que na vida real não poderia ter contato, mas eles não devem substituir os reais. "Namorar" alguém que você nunca conheceu pessoalmente, via web, é uma relação artificial. Você não conhece de verdade quem é o outro, não tem ideia de como seria no dia a dia a convivência, nem se continuaria a gostar dessa pessoa. Passar madrugadas inteiras na net em bate-papos, sites de pornografia e deixar de tentar construir relacionamentos verdadeiros é uma escolha que preenche o tempo e até gera algumas emoções passageiras, mas não preenche as necessidades reais de carinho, troca, envolvimento, crescimento interior de forma satisfatória.

O intuito deste artigo é fazer-nos refletir sobre o quanto temos vivido nossas vidas reais, se somos equilibrados ente esses dois mundos, o real e o virtual, se temos trocado o real pelo virtual, o que nos impele a fazer isso. Timidez, medos, baixa autoestima, falta de disposição, de tempo? O que pode ser feito a esse respeito, tendo-se em mente que pode, sim, haver espaço para a vida virtual, mas que ele não inviabilize muito o espaço que deve ser garantido para nossa vida no mundo real.



Marcus Vinícius P. Oliveira - Psicólogo organizacional, palestrante e consultor de empresas. Autor do livro de bolso “O passo além da competição”. Diretor da Liner Consultoria.