Não Me Amarra Dinheiro não, Mas Compostura...
Por Bruno Soalheiro
18/03/2008
"Não Me Amarra Dinheiro não, Mas Compostura... " (Beleza pura –
Caetano Veloso)
Sangue latino, muita paixão, bom humor e descontração em alta! Assim
é o brasileiro médio. Vive um dia de cada vez, faz seu auê com os
amigos no fim do dia e, via de regra, está de bem com o mundo; uns
mais no aperto, outros mais folgados, e quando perguntamos como vai
a vida a resposta quase sempre é: “Vou levando”!
Esta é nossa cultura e nosso jeito de ser. Soltos, intuitivos,
passionais!
Planejar não é muito bem visto por aqui. Escrever o planejamento
então, que saco! “Metas? Métricas? Processos? Ah, sai dessa, eu
quero é ser feliz! Sei... Anhãn... Usar um software de gerenciamento
financeiro em minhas contas pessoais... Você está louco? Acha que eu
vou virar um fanático com objetivos e controles e lançar no PC
aquela empada com suco de goiaba que comi hoje cedo? Já falei, eu
quero é ser feliz!”
Não sou uma pessoa viajada, muito menos conhecedor profundo de
outras culturas para tecer boas comparações, mas de uma coisa eu
sei: A maioria de nós por aqui é avessa ao planejamento,
especialmente quando este se dá no aspecto financeiro.
Aliás, brasileiro parece que tem preconceito com dinheiro; é quase
como se fosse algo sujo, feio, coisa de “gentinha gananciosa” sabe.
Educação financeira é algo que passa longe de nossas escolas, e o
senso comum é que cada um se vire e aprenda como usar seu dinheiro.
Bem, a triste verdade é que há muitos profissionais hoje no mercado
que enfrentarão a terceira idade em consideráveis dificuldades
financeiras. Não porque não ganhem dinheiro agora, e sim porque
detestam ter que planejar, poupar e investir; e se não desconhecem,
pelo menos torcem a cara para aquilo a que se chama na vida de
“previdência”.
Não, não é da previdência pública que falo, nem mesmo da privada, e
sim do comportamento previdente. Particularmente, sou da opinião de
que pensar no futuro com responsabilidade não é ser um sovina mão de
vaca que deixa de viver as boas coisas da vida, e sim entender que
um dia o imprevisto e a idade vêm, o pique diminui e a força vai
minguando. E claro, todos nós queremos conforto e segurança para
viver, especialmente às portas do crepúsculo da vida.
Há quem ande a pé (ou de táxi) e custe a pagar o aluguel, mas não
deixa de freqüentar constantemente bons restaurantes e viver com
tudo “do bom e do melhor”! Vivem o dia!
Prestação de casa? Carro? Patrimônio? “Eu quero é viajar!”
E assim vão vivendo, até chegar aos sessenta anos e perceberem que
mal tem onde cair mortos. Aí terão que continuar a trabalhar em uma
idade na qual o corpo já começa a pedir descanso e a alma já clama
por dias mais amenos. Se derem a sorte de terem filhos previdentes,
estarão amparados, se não, provavelmente vão passar necessidade ou
ter que viver da mísera pensão que o governo (graças a Deus, nesses
casos) o obrigou a pagar através do INSS.
Ora, mas quem sou eu para julgar como as pessoas vivem suas vidas! E
longe de querer dizer a elas se estão certas ou erradas, o que busco
aqui é citar fatos, exprimir meu ponto de vista e, quem sabe, chamar
sua atenção para a questão.
Pra mim dinheiro não é sujo nem sagrado. Dinheiro é permissão, só
isso, e se for ganho com trabalho honesto e inteligente é nada mais
que legítimo ”poder de troca”.
Tenho 29 anos de idade e não vivo como um morto de fome, mas abro
mão de muitos luxos imediatos em nome de garantir investimentos e
bens duráveis que me farão falta no futuro. “Ainda” deixo de atender
a muitos desejos pontuais meus para construir segurança financeira
em médio prazo.
Ok, tudo bem que eu posso morrer amanhã, como me disse outro dia um
colega! Tá bom, mas é que eu posso não morrer também e,
matematicamente falando, se estou vivo até hoje a tendência de que
continue assim é bem grande.
Não me abalo, pois sei que em breve chegará o dia em que as
prestações irão acabar, os investimentos darão retorno e poderei
então “viver com mais estilo”. Mas por enquanto sou assim: guardo,
planejo, invisto e espero. Azar meu, que posso morrer amanhã!
E olha, se você não se comporta assim eu não tenho nada com sua
vida! Isto aqui é apenas um artigo e eu precisava de um bom tema
para a semana; aliás, como já dizia a abolida propaganda de
cigarros: Cada um na sua...
Sei, no entanto, que é muito triste ver alguém já mais velho
trabalhando por obrigação, quando queria e poderia estar descansando
ou trabalhando somente por prazer, para complementar a renda.
Pessoas que tiveram um estilo de vida agradável, viajaram bastante,
comeram bem, divertiram-se a valer e agora pensam: E quando o corpo
e a mente já não agüentarem, o que farei?
E não me amarra dinheiro não, sabe, mas que iria ficar complicado
manter a compostura tomando ônibus lotado pra receber pensão do
governo e matutando se ia ter com o que pagar todas as contas do
mês, isso iria; ô se iria!
Até a próxima.
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.