Nas Entrelinhas...
Por Bruno Soalheiro
03/09/2008
Nada do que planejei até hoje para minha vida pessoal e profissional
ocorreu como eu imaginava. Achava que ia morrer solteiro, já me
casei (aos 28!); pensei que ia ficar rico antes dos 30, ainda pago
financiamento do carro e apartamento... Imaginava ser "O consultor"
ainda jovem, e vejo que há muito, mas muito, o que estudar e
trabalhar.
É assim, a gente "compra" os tecidos e linhas, tece a trama com
cuidado - às vezes com ingenuidade- aí vem a vida e desfaz os
pontos, embola as linhas, rasga as tramas e transforma a composição.
É preciso então redesenhar, re-costurar, mudar linhas e cores,
conceber novas tramas e conhecer novos tecidos; em uma palavra
"re-imaginar" como disse Tom Coelho.
Muito fácil é fazer planos, mais fácil ainda é vê-los ser
modificados pelas contingências de viver; difícil é aprender a ver,
aprender a ler, não no papel, mas nas entrelinhas do destino.
Destino X Decisão; são dois aspectos da vida que sempre acreditei
serem antagônicos. Preto ou branco, frio ou quente, claro ou escuro.
Tenho aprendido... Que decepção? Que descoberta!
Descobrir que o destino leva, mas que pode ser balizado,
influenciado e gentilmente convencido. Notar que entre o preto e o
branco existe o cinza, e que as tonalidades da existência às vezes
se colorem a si mesmas, misteriosamente pintando um quadro do qual
somos co-autores.
Aquele traço? Deu-se por si mesmo. E a linha reta tornou-se côncava,
o amarelo vivo desbotou um pouco e, o vermelho- imaginado pálido-
acabou por se mostrar de um escarlate assombroso.
Na escola da vida ainda sou aprendiz de aprendizes, e descubro
diariamente que jamais me graduarei. Que bom! Vejo à minha frente
sonhos se erguerem e se tornarem majestosos. Não que eu os tenha
concebido assim: majestosos! Concebi-os enormes, é verdade, mas
muito menos complexos e ricos do que na verdade se mostram. Imaginei
caminhos lineares, mas fiquei às voltas com as voltas da vida; e
quantas voltas ela dá...
Hoje, tudo caminhando, o que era para ser cabeça virou pé, e aonde
eu farejava poeira mostrou-se o ouro. As tintas se misturaram, as
tramas se desfizeram, se refizeram, e as cores me confundiram; mas o
quadro está sendo pintado, por um artista imperfeito, ansioso,
deslumbrado.
Tenho notado que a vida me leva, e que me leva para onde quero,
mesmo quando nem sei se sei o que quero. Mas sempre sei, e sempre
vou, por viadutos inesperados, rotas mal desenhadas e acostamentos
desconfortáveis; não paro na estrada.
Se eu caio, tenho que me erguer, engarrafamentos já não mais me
desesperam; apenas reduzo a marcha e afrouxo o pé, a aceleração não
pára. As placas? Umas caídas, outras tortas, mais tantas "borradas";
mas não me importo; vou firme, reto e confiante; porque estou
aprendendo a viver, estou aprendendo ansiar e a esperar. Estou
aprendendo a ler...
Até mais.
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.