Neurose Obsessivo Compulsiva
Por Dr. Wagner Paulon
11/06/2008

O termo "sintomas obsessivas" significa experiências de compulsão subjetiva decorrente de algum pensamento involuntário, sentimento ou idéia, associados com uma resistência interna e consciente aos mesmos.
Uma preocupação contínua e mesmo intensa com uma idéia em indivíduos normais, é, muitas vezes, chamada genericamente de obsessão.

As obsessões são pensamentos recorrentes que interferem com a consciência, sem que o indivíduo seja capaz de fazer nada a respeito. As compulsões são atos repetitivos que devem ser executados, não importando o quão irracionais e inúteis possam parecer. O paciente sente-se extremamente desconfortável com os seus sintomas (geralmente os 2 tipos), tenta sem sucesso resistir-lhes e apresenta ansiedade se for impedido de realizar seus rituais. Como no paciente fóbico, o obsessivo-compulsivo necessita de seus sintomas como um escudo contra a ansiedade. Ao contrário do paciente fóbico, entretanto, ele não pode objetivar seus receios e, portanto, evitar o objeto ou a situação, mas deve enfrentá-los no seu próprio estilo característico o qual se assemelha ao pensamento mágico (esperando que as coisas aconteçam pelo seu desejo e não através de uma atitude ativa ou outros meios lógicos). Torna-se inútil apontar-lhe a irracionalidade de suas obsessões ou compulsões, pois ele o sabe e sofre por isto.

Exemplos: o paciente que receia ter atropelado alguém com seu carro, sem estar certo disto e refaz seu caminho para verificar se há alguém caído na estrada; o paciente que tem uma inexplicável necessidade de matar alguém a quem ama; mas este receio de matar persiste mesmo que a pessoa envolvida esteja fora do país. Do mesmo modo, o medo obsessivo da sífilis não poderá ser desarmado evitando-se o coito ou através de contínuos e repetidos testes sorológicos negativos.

A despeito das tentações e medos obsessivos quase nunca se realizarem, eles freqüentemente levam a execução de certos atos inocentes que parecem servir como contra-medidas. Estes atos (freqüentemente denominados de rituais) geralmente consistem de uma repetição cerimoniosa de atividades diárias comuns, como por ex. - rotinas especiais no lavar-se, vestir e arrumar o quarto. O significado do ato pode parecer claro para o paciente, por ex. - mantendo as mãos escondidas nas mangas do paletó, como um mandarim, como se prevenindo para não agredir a alguém ou então o ato de lavar continuamente as mãos para prevenir contaminação por germes. Às vezes, entretanto, não é claro o que a ação significa, por ex. - o contar ou pisar sobre fendas de modo compulsivo. Quer o ato tenha algum significado ou não, ele procede de uma necessidade interior e a resistência a este ato provocará ansiedade.

Os sintomas obsessivo-compulsivos assumem inúmeras formas. O aspecto mais característico é a vacilação e dúvida que ocorrem como conseqüência de uma contínua luta interna contra o sintoma. A convicção periodicamente renovada de que um sintoma absurdo deve ser enfrentado, sempre provoca uma atitude de dúvida e apreensão pelas possíveis e desconhecidas conseqüências.

Normalmente, a dúvida faz parte do pensamento crítico; na sua forma obsessiva, ela derrota a finalidade do pensamento. Conclusões racionais e decisões lógicas tornam-se impossíveis e os infindáveis ciclos de resoluções frustradas tornam a vida mental do indivíduo um disco quebrado que nunca termina. A área confusa entre a dúvida como cepticismo e a dúvida como ruminação compulsiva, separa o mundo mental do obsessivo daquele da experiência cognitiva normal.

Psicodinamicamente pode-se notar que os mecanismos de defesa característicos do obsessivo-compulsivo são constituídos pelo isolamento e a formação reativa.

O isolamento é um fator primordial na patologia obsessivo-compulsiva. Caracteristicamente, o obsessivo-compulsivo se recorda de inúmeros fatos, inclusive os que apresentam carga emocional evidente, mas ele não reage com afeto a estes eventos. Ao contrário do indivíduo ansioso, que parece estar super carregado de afeto por razões que ele não compreende, o obsessivo-compulsivo conhece os fatos, mas não sente a ansiedade, raiva ou depressão que deveriam estar associados aos eventos psíquicos pertinentes de sua vida pregressa. Seu padrão característico é o de se manter alheio das situações emocionalmente carregadas, de permanecer à distância de pessoas que possam pressioná-lo através de seus sentimentos, ignorando ou não participando das necessidades emocionais dos outros.
A formação reativa, em segundo lugar. O paciente obsessivo-compulsivo está constantemente preocupado em balancear duas proposições opostas. Se um dia é bom, o outro será mau necessariamente; se o progresso é alcançado em uma determinada área, o desastre irá ocorrer em outra. Justificativas complicadas são freqüentemente elaboradas na tentativa de tornar aceitáveis estas crenças supersticiosas. O paciente obsessivo-compulsivo não é na realidade um supersticioso, mas ele se comporta como se o fosse, contra os seus desejos e o seu melhor julgamento.


Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista), mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet) USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.