No Amor, escolhemos ou somos escolhidos?
Por Sirley Bittú
05/08/2005
Quando alguém me procura para iniciar uma psicoterapia por se sentir
sozinho, ou descontente com algum aspecto de sua vida, costumo
sugerir inicialmente uma checagem de sua vida emocional e afetiva.
As perguntas Por que estou sozinho? Porque não consigo encontrar
alguém para mim? Podem ser substituídas por: O que fiz com minha
vida? Que pessoas eu encontrei e quais eu não me permiti encontrar?
O que estou buscando? Quem estou realmente buscando? Ou mesmo: Quero
ter alguém neste momento em minha vida?.
As escolhas que fazemos estão sempre ligadas a nossos desejos, sejam
eles conscientes ou não. Se você hoje tem alguém ao seu lado que não
lhe satisfaz, ou que te traz algum sofrimento, certamente esta
pessoa atende alguma outra necessidade que pouco você percebe, mas
que no momento é a mais importante e a mais forte.
Se você não tem ninguém ao seu lado pode ser porque de alguma forma
preferiu isso; ou por medo ou por egoísmo ou por achar que ninguém é
bom o suficiente, ou por algum outro motivo que nem você tem
consciência ainda.
Ninguém está fadado a ficar sozinho, pois a solidão afetiva é uma
escolha pessoal como a maior parte dos caminhos que tomamos em nossa
vida.
É verdade! A solidão não é obra do acaso ou de falta de sorte. Você
escolhe estar sozinho ou acompanhado baseado - é claro - no seu
entendimento do que é melhor para você e no que vai lhe fazer sofrer
ou não. Muitas pessoas entram em depressão por sentirem-se sozinhas,
não escolhidas, abandonadas, pouco interessantes e na maioria das
vezes elas se tornam assim mesmo, confirmando suas próprias
previsões. Interagir, relacionar-se é viver; vida é emoção, é saúde,
é alegria e amor.
Não existe um lugar certo para encontrar alguém especial, o que
existe é a percepção do quanto você é especial e importante em sua
própria vida. Estar disponível para viver a própria vida,
permitir-se saboreá-la, seja de que forma for, é uma atitude que
interfere e modifica a qualidade dos relacionamentos que você
empreende.
Você pode ter alguém a seu lado que você nunca realmente olhou como
homem ou como mulher, simplesmente por estar muito preocupada(o) com
um ideal de companheiro(a), ou mesmo de namorado(a).
A pessoa perfeita não existe, porque o ser humano é genialmente
imperfeito, o que faz com que as relações sejam ainda mais
interessantes e excitantes. Para entender isso, basta olhar a
natureza, onde a diferença e complementaridade propicia a interação
das espécies e sua sobrevivência.
Nas relações dos contos de fadas a princesa precisa ser bela,
ingênua e pura em seus sentimentos para, no final da estória, ser
recompensada com um lindo, ingênuo e puro príncipe. No mundo real
queremos ser felizes já! Além do mais, estas relações não se
sustentariam, afinal, qual príncipe suportaria uma princesa
mal-humorada, em TPM, com dor de cabeça, mimada e eternamente
insatisfeita? E o inverso então? O príncipe viraria sapo rapidinho!
As relações que fazemos de forma saudável têm o caráter da troca e
relacionam-se a um entendimento mais amplo desse forte sentimento
humano que é o amor. Amar significa relacionar-se ao pacote
completo, encantar-se com as qualidades sem negar os defeitos, ou
seja, amar apesar dos defeitos.
Na relação estamos aprendendo e ensinando algo também. Dando e
recebendo. Para isso é preciso primeiro saber que você tem algo a
oferecer ao mundo. Sempre terá e não é necessário ser o ápice da
beleza e perfeição corporal, ou um Einstein, tampouco a própria
gueixa subserviente e passiva aos caprichos e desejos de alguém,
para merecer ser amada(o).
Respeito próprio, amor próprio, auto-estima, autoconfiança,
aceitação, determinação. São as bases para uma possibilidade de
relacionamento. Veja que todos esses conceitos remetem primeiro a
você próprio e depois ao outro.
A forma de buscar relações muda, mas a necessidade humana continua a
mesma. O ser humano necessita se relacionar, precisa desse élan
vital que a troca de experiências propicia para sobreviver, se
desenvolver e se sentir feliz. Encontramo-nos então com um novo
desafio: como conseguir estabelecer uma relação mais íntima mais
cúmplice, baseada na confiança verdadeira e genuína?
Primeiramente comece com você mesmo, estreite as relações consigo
mesmo, se conheça mais, se respeite e acima de tudo se aceite, olhe
para seus medos, trabalhe-os, procure resolvê-los, valorize o que
tem de bom e cuide do que te atrapalha, só assim conseguirá ser
livre o suficiente para se relacionar com alguém.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br