O que eu faço com essa minha timidez?
Por Sirley Bittú
12/08/2002
A definição de timidez mais conhecida é a que se refere ao tímido
como aquele que tem temor, receoso, acanhado, covarde. Pessoa que
tem vergonha, sensitiva, pessoa que com tudo se melindra ou de
grande suscetibilidade, aquele que facilmente se ofende. A definição
de temor também é descrita em alguns dicionários como ato ou efeito
de temer – susto, sentimento de reverencia ou respeito.
Prefiro dizer simplesmente, tímido é aquele que tem medo. Na
infância o comportamento em relação ao medo é explicado e entendido
pela capacidade da criança em discriminar fantasia de realidade. Ao
passo que esta capacidade vai sendo aprimorada em sua relação no
mundo, o medo naturalmente vai se adaptando ao que é esperado, ou
seja, passa a ser um parâmetro de auto proteção.
As pessoas mais tímidas tendem a supervalorizar os possíveis riscos,
assim o novo e o desconhecido torna-se assustador. O tímido está
sempre muito preocupado em passar uma boa imagem para as pessoas,
torna-se extremamente exigente consigo mesmo, apresentando por isso
mais dificuldade de se relacionar, paquerar, namorar, expressar o
que sente e o que pensa sobre as coisas.
A inibição geralmente é resultado do medo de falhar e com isso se
sentir ridículo e incapaz. A timidez está diretamente relacionada ao
amplo sentimento de competência. A nossa auto imagem é a percepção
daquilo que acreditamos ser, e, quando ela é negativa,
encontramo-nos numa prisão interna que nos leva a distorcer a
realidade e por conseqüência nos retraímos.
O ser humano tem uma demanda de amor, necessita ser amado para se
desenvolver, precisa sentir-se visto, percebido e aceito. Existem
muitos estudos que relatam, que a falta de amor ou o desamor,
principalmente nos primeiros anos de vida, interferem no
desenvolvimento e na maturidade emocional do ser humano. O nosso
sentimento de segurança e de auto confiança se configura ainda nesta
fase, através das vivências de afeto e de confirmação pelas quais
passamos.
Costumo dizer que nós passamos por dois úteros, um físico e um
psicológico. Ambos nos geram para o mundo. O psicológico é formado
por nossa matriz social, ou seja por nossa família, pelas pessoas
com quem nos relacionamos e com as quais aprendemos e entendemos
como devemos nos comportar. A educação é a via desse processo. E
através dela aprendemos quem somos, o que somos e como somos. Nossa
individualidade vai sendo lapidada pela visão de mundo de nossos
pais, suas crenças, seus mitos e suas verdades.
São desses entendimentos que se desenvolve nossa AUTO-ESTIMA. A
auto-estima é o resultado do afeto que aprendemos a dar a nós mesmos
através do respeito e da aceitação daquilo que pensamos, sentimos e
somos. Através dela conquistamos nossos espaços e percebemo-nos
merecedores de felicidade. É o resultado do amor que recebemos, não
o amor gratuito mas aquele que ensina a retribuir, que ensina a
noção de respeito ao outro e a si mesmo. Na primeira infância
necessitamos da aprovação externa, e a reação das pessoas aos nossos
atos também constitui fonte formadora da nossa auto-imagem e pode
modificar ou influenciar nosso autoconceito que carregaremos durante
a vida.
Este autoconceito, esta percepção de si, dos próprios potenciais, de
limites, e principalmente de seus desejos, estará sendo estimulado
durante toda a nossa vida, através das diversas relações que
estabelecemos. Isto significa que a nossa família influencia a forma
de nos percebermos, mas não a determina. A maturidade psicológica
pode ser medida também pela nossa capacidade de nos
auto-alimentarmos emocionalmente, passando então da necessidade de
confirmação para apenas o desejo de sermos aceitos.
Isto não significa que somos como argila, moldados apenas pelas
experiências externas. Nascemos com características físicas e com
algumas psicológicas, herdadas. Trazemos conosco em nosso nascimento
um potencial de saúde mas que precisa dessas provisões externas para
se desenvolver.
Resumindo, a auto-estima é a capacidade do ser humano de sentir-se
bem em relação a si próprio, o bastante para aceitar a rejeição não
como uma afronta pessoal, mas como parte inevitável da vida. O
indivíduo com auto-estima tem a capacidade de deixar a rejeição para
trás e prosseguir. Aqueles que se aceitam agem livremente,
permitindo a si mesmos atuar próximo ou no máximo de seu potencial.
Expressar-se é contar sobre si, relacionar-se, assumir que se faz
parte do mundo.
O TÍMIDO tem sua AUTO-ESTIMA baixa, frágil, ele sempre acha que
todos estão olhando para ele, que o mundo roda em torno de sua
atuação. Está preocupado em como os outros vão avaliar suas atitudes
e comportamentos e com isso não tem coragem de assumir seus próprios
desejos.
A timidez torna as pessoas propensas a interpretarem os
acontecimentos de uma maneira ameaçadora, com isso sua autonomia
torna-se prejudicada, precisando de algo ou alguém para sentir-se
seguro e tranqüilo.
Em nossa atuação no mundo trabalhamos sempre em duas áreas a da
ilusão (fantasia, crenças) e a da realidade (mundo objetivo). Nossas
escolhas e formas de entender e de sermos no mundo nascem destes
focos de atenção. Se temos uma boa noção sobre quem somos e do que
somos capazes, ou seja, de nossos potenciais e de nossas
possibilidades, atuamos no mundo de forma mais autônoma e segura. O
conhecimento de si mesmo, aliado à auto-estima são os fatores
determinantes para mudar sua forma de se relacionar com o mundo.
A timidez incomoda cada vez mais. Em nossa sociedade competitiva
aquele que não ousa, aquele que teme ser visto, ser percebido ou
questionado em suas opiniões, tem mais dificuldade em se relacionar,
conquistar seu espaço profissional e com isso alcançar o sucesso
esperado pela sociedade e muitas vezes por si próprio. Torna-se
invariavelmente comum, receber em meu consultório pessoas que buscam
se livrar desse sofrimento. Desde jovens que não conseguem se expor
em sala de aula, apesar de saberem a matéria, ou mesmo não conseguem
fazer amizade ou pertencer a um grupo, ou arriscar uma paquera,
sentindo-se excluídos e rejeitados.
Ou quando adultos, muitas vezes já profissionais, que sentem
dificuldade de expressar seus conhecimentos, liderar grupos, agir
com autoridade, estabelecer limites. Os tímidos sofrem e perdem
oportunidades profissionais, relacionamentos pessoais, vivências,
experiências, porque não se lançam no mundo. A sociedade prefere
aquele que saiba defender suas idéias e seus pontos de vista.
Sirley Bittú é Psicóloga Especialista Clínica pelo Conselho Federal
de Psicologia
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br