Onde estão os líderes
Por Rogerio Martins
13/08/2008
Há muito tempo tenho pesquisado e desenvolvido trabalhos sobre
liderança e gestão de pessoas. Neste período presenciei muitas
coisas intrigantes sobre o tema. Uma delas é o fato de haver tanto
investimento na formação e desenvolvimento de lideranças, mas pouco
resultado prático.
Dave Ulrich afirma em Liderança Orientada para Resultados: “o
trabalho do líder exige mais do que caráter, conhecimento e ação;
ele também demanda resultados”.
Segundo minhas observações e experiência no assunto um fator tem
sido primordial para esta falta de resultados e eficácia dos
programas de treinamento e desenvolvimento de lideranças: a falta de
coragem dos líderes em assumir seu papel.
Um dos pressupostos básicos da liderança é a capacidade de tomar a
iniciativa e assumir os riscos. Em outras palavras, o líder é aquele
que diante do conflito, da dificuldade ou dos problemas toma a
frente e assume a responsabilidade, promovendo as ações necessárias
ou dirigindo os esforços dos subordinados para tal feito. Para
Kouzes e Posner, “as oportunidades de liderança são na verdade
aventuras de uma existência e requerem espírito pioneiro. Começar
uma nova empresa, reverter uma operação perdida, melhorar
intensamente a condição social, aumentar a qualidade de vida – todos
são nobres esforços humanos. Esperar uma permissão para começá-los
não é uma característica dos líderes. Agir com senso de urgência,
sim”.
O que vemos é um tanto de gente em papel de liderança sem coragem
para tomar as decisões necessárias para o bem das empresas, dos
funcionários, da sociedade e deles próprios. Efetivamente sem este
senso de urgência, de realização. Escondem-se atrás do manto sagrado
do trabalho em equipe.
Nos estudos que tenho realizado junto a empresas de pequeno e médio
portes, em grande parte, o medo das pessoas em assumir o risco da
liderança está relacionada com a auto-estima. Geralmente rebaixada
por motivos individuais e coletivos.
Desde criança, em nossa cultura, os pais educam os filhos para não
correr riscos. Frases como: “não corra”, “vá devagar para não se
machucar”, “não faça isso”, “não faça aquilo” e assim por diante,
são constantemente proferidas pelos pais, educadores e outras
pessoas próximas. Cria-se um verdadeiro time de covardes.
As atividades coletivas são mais estimuladas que as individuais. As
pessoas são estimuladas a não se destacarem individualmente, mas
coletivamente. Vemos este tipo de representação nos esportes, nas
empresas e em várias atividades sociais. Os que se destacam por seus
próprios méritos são rapidamente invejados ou depreciados por não
saberem atuar em equipe.
Durante o período escolar são incentivadas a trabalhar em grupo, mas
poucas vezes valorizadas por realizações individuais. Quando isso
acontece há a desconfiança de privilégios.
Obviamente que é cômodo colocar a culpa somente na família, na
sociedade, na escola e em tudo que é externo. Há a parte que cabe a
cada um. O fato de ter sido educado para preferir ficar na zona de
conforto não significa que devemos nos acomodar a isso. Romper esta
barreira emocional criada na infância e na adolescência é o grande
desafio. Para isso é preciso conhecer as limitações e qualidades que
cada um tem. Quem deseja ser um líder precisa ficar atento a isto e
sair do paradigma do “sempre foi assim”. Em resumo, assumir o risco.
Assumir o risco significa, em parte, não ser aceito, não ser
compreendido, não agradar a todos, não abaixar a cabeça, não aceitar
a mediocridade, o erro e o despreparo. Tudo isso tem um preço a ser
pago. Para muitos este preço é muito alto. Pode custar o emprego, a
aceitação do grupo, a imagem de boa pessoa e tudo mais.
Lembrando que um dos valores arraigados em nossa sociedade é o de
viver bem na coletividade, ser um verdadeiro líder conflita com este
estereótipo. Afinal, quem está preparado e predisposto para ir
contra este padrão de comportamento?
O verdadeiro líder sabe disso e ainda assim segue em frente. Ele tem
a certeza de que seu papel é exatamente o de conduzir aqueles, que
por diversos motivos, não tiveram coragem de estar a frente.
Portanto, para ser um verdadeiro líder é necessário conhecer melhor
a si mesmo, suas qualidades e fraquezas; transpor as barreiras do
medo e da insegurança, trabalhando na sua auto-estima; ter
propósitos firmes, porém, com humildade para saber mudar e se
adaptar sempre que necessário. Vai encarar? Sucesso!
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
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