Orientação de pais, educadores e responsáveis - Sexualidade:
esclarecer ou esconder
Por Melissa de Fátima Antunes
18/07/2008
Muitas vezes parece assustador conversar com os filhos sobre alguns
assuntos delicados como: sexualidade, morte, nascimento de um novo
membro da família, aborto, eutanásia ou outros temas polêmicos.
Porém, com o devido esclarecimento favorecemos nossos jovens para
que possam fazer escolhas seguras, as conseqüências sejam esperadas
e o arrependimento não os persiga pela vida a fora.
Para os jovens é muito complicado e embaraçoso aproximarem-se de
seus pais ou responsáveis, demonstrarem seus temores, dúvidas e de
certa forma assumirem sua fragilidade humana e imperfeição. A
adolescência é um período delicado, durante o qual a auto-estima dos
jovens vive sendo testada e contestada.
Os adultos devem favorecer o conhecimento e o esclarecimento dos
jovens, para que eles possam fazer suas escolhas no futuro com
verdadeira ciência, e não por impulso ou “embalo” da sua turma.
Devemos evitar que nosso jovem questione-se com o famoso “se eu
tivesse ...”. Sabemos que a juventude é um momento no qual o jovem
tem muitas escolhas, negar o esclarecimento e a informação para este
jovem é como deixá-lo de olhos atados dentro de um tiroteio.
Alguns “amigos” orientam e informam o jovem de maneira incorreta
e/ou com manias inadequadas, este será pego de surpresa e como
resultado terá algo nada agradável.
Os pais, educadores ou responsáveis devem ser claros, objetivos e
jamais esconderem a verdade de seus jovens queridos. Informando e
orientando-os podemos evitar muitos dissabores. Informar sim,
enganar jamais, muito menos omitir. Devemos deixar claro que as
conseqüências dos seus atos deverão ser assumidas com
responsabilidade e coerência pelo individuo que fez as escolhas.
Assim como cada um deve alimentar-se para manter seu corpo saudável,
também deve trabalhar a relação de escolhas a seu favor, a
responsabilidade e suas conseqüências de ambas é a mesma. Um velho
ditado popular diz: “se plantar limão, no futuro só poderá colher
limão, caso deseje tomar suco de uva, deverá se contentar em fazer
uma bela limonada.” Assim como diz o poeta: “cada um é responsável
pelo que cativas” (Pequeno Príncipe).
A sexualidade deve ser enaltecida e valorizada, pois além de fazer
parte do ser humano é algo belo criado por Deus, que não deve ser
tratado com menosprezo e muito menos vulgarizado.
Hoje, infelizmente, a visão que o mundo moderno transmite aos nossos
jovens é que através da sexualidade podemos conquistar ou facilitar
a conquista dos objetivos pessoais. A banalização da sexualidade é
uma forma de vulgarizar algo precioso.
Devemos incentivar nossos jovens a conhecer primeiro seu próprio
corpo e suas próprias reações, para que depois, no momento certo,
possam sentir a experiência surreal de estarem nos braços do ser
amado, tornando–se um.
Todos os grandes teóricos enfatizam que não devemos enganar os
nossos jovens para fazer com que eles deixem de ter acesso a
informação. É muito mais coerente promover o acesso a informação
para ter certeza que seu amado jovem tem a formação correta e não
está sendo iludido.
Antigamente os pais e responsáveis criavam mitos e histórias para
justificar o porquê não deveriam comentar determinados assuntos,
como por exemplo: se falar a palavra câncer poderá estar sujeito a
adquirir está doença grave; se a moça senta-se ao lado de um moço
está sujeita a ficar grávida porque os espermatozóides são ágeis e
podem escorregar da perna do moço e subir pela perna da moça, vindo
a fecundar o óvulo da mesma. Falar sobre sexualidade não é sinônimo
de estimular a primeira experiência sexual do jovem.
Na Grécia antiga havia pouco conhecimento empírico e o pensamento
mítico era presente para justificar certas ações e comportamentos
dos seres mortais. Contudo não usavam de historietas para não
estimular (amedrontar) os jovens, evitando que estes venham a agir
de forma inconseqüente.
WINNICOTT observava determinadas demandas no dia–a-dia do seu
consultório, daí surgiram muitos de seus escritos em sua vasta obra.
Ele afirma que o ambiente favorece ou não o adoecer psíquico do
indivíduo e a verdade sempre é a melhor opção.
Como é possível formar e instruir os jovens se os próprios pais e
responsáveis mentem, distorcendo a verdade para tentar poupar seu
querido jovem de viver situações duras e difíceis? Nos momentos onde
há o sofrimento psíquico, como a adolescência, está presente também
uma grande vitória: o crescimento interior.
Este crescimento e o aproveitamento serão maiores se a vivência
difícil e dura da adolescência for feita num ambiente saudável e
acolhedor como a comunidade. Tendo Deus não só como criador, mas
como formador.
Lembre-se: cuide da formação do seu valioso jovem, não delegue esta
função e responsabilidade a um estranho. Informe para que possa
cobrar determinadas atitudes de sua jóia preciosa, assim haverá
coerência.
Devemos ser um aliado e amigo, não o carrasco, deste ser que está em
conflito existencial. Ajude-o e verá que sua lealdade e gratidão
virão ao seu encontro. Seja amigo deste que lhe é tão querido.
Bibliográfica:
TORRANO, J.; Teogonia do Hesíodo: a origem dos deuses,
SP,Iluminuras, 2007
BULFINCH, T; Livro de ouro da mitologia grega: histórias de deuses e
heróis, RJ, Ediouro, 2000
CARR-GREGG & SHALE (M. & E.); Como criar adolescentes: como
prepará–los para a vida, SP, Ed. Fundamento, 2006.
WINNICOTT, D. W.; Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil,
RJ, Ed. Imago, 1984
Melissa de Fatima Antunes tem como área de pesquisa e atuação o
atendimento psicoterapêutico de crianças, adolescentes, adultos,
orientação de pais e a terceira idade. É editora de um blog onde
fornece material de leitura para os pais, responsáveis e educadores
em geral: http://afadadodia.blogspot.com/
É pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo - USP, pelo Laboratório APOIAR.