Pais Dependentes, Filhos Dependentes
Por Dr. Wagner Paulon
24/12/2009
No tempo em que, não se trata com cuidado da Biofilia (amor à vida)
que é o princípio de existência, não é verdade que se possa cuidar
das dos alheios, ainda quando esses alheios sejam a nossa legitima
prole. Observado de outro modo, isso significa que um pai que assume
sua vida sobre a base de uma visão insensata da existência de fato e
de sua própria consciência, por mais boa vontade que pense empregar,
não poderá evitar transmitir, através de suas atitudes ou de
preceitos, essa mesma idéia sem fundamento a seus filhos.
Uma criatura para a extinção não o é somente para a própria, mas
também para a extinção daqueles que o cercam.
Asseveração essa, que se aludi a uma cadeia delituosa, a um ajuste
sinistro, não tem por objetivo julgar os culpados, mas sim tratar de
apontar um dos pontos em que se depararam as origens de uma conduta
dependente (necessidade de estar subordinado a outrem).
Grande parte das vezes as drogas dos pais fazem muito mais do que
gerar filhos toxicodependente. Suficiente recordar que uma gestante
que fuma 20 cigarros por dia está exposta a dar a luz a um filho de
peso inferior ao normal, sem entrar nos detalhes horripilantes de
heroinômanas (vício mórbido de tomar heroína) que geram filhos que
ao nascer sofrem de convulsões ou apresentam quadros de lesões
neurológicas muito sérias.
Atentemos agora para os modelos de procedimentos que os pais
imprimem aos filhos e que, (parece ser, mas não o é), não os
conduzem à destruição nem à deturpação, mas que de fato e através de
eventos que se contemporizam ao longo de toda a sua vida inferem-no
a uma vivência tóxica. Explicando melhor, trazem-nos para mais perto
de hábitos que representam agressões a si mesmos e fazem-nos entrar
em uma competição para o aniquilamento.
Indubitavelmente, os jovens e adolescentes que consomem drogas foram
involuntária e passivamente induzidos a esse consumo pela
dependência alcoólica dos pais. Eles sofrem uma predisposição que
contraíram no lar.
É muito difícil encontrar algum jovem paciente dependente de drogas
que não tenha chegado a esse estado depois de uma longa convivência
com o exemplo dos progenitores, que são "alcoólatras sociais", e
genitoras que são "viciadas em fármacos", consumidoras de todas as
espécies de pílulas (calmantes de suas dores e tranqüilizantes de
suas angústias e preocupações, inclusive as drogas usadas para
combater a obesidade os fenoproprorex).
Pesquisadores afirmam que os pais são, por sua vez, as causas
motrizes de uma "sociedade dependente de drogas", causadora do
fenômeno atual da proliferação de pacientes crônicos adultos jovens,
que a ciência psicanalítica e a psiquiatria não pode ignorar.
Adolescentes, geralmente agressivos ou, em sua deficiência,
retraídos demais, infringidos por dificuldades afetivas e por uma
interpretação deformada da existência de fato, freqüentemente
apresentam dependências a algum tipo de droga, ou pelo menos contam
com antecedentes desse modelo.
A família prefere designá-los de "dependentes espontâneos", (mas não
o são), eles são o resultado de uma sociedade que trabalha suas
ansiedades com álcool e medicamentos. Adolescentes que somente
contam com esses exemplos que não opõe suficiente resistência e que
com essa bagagem única devem enfrentar um mundo que lhes oferece
poucas possibilidades de obter êxitos em seus estudos ou qualquer
ocupação manual ou intelectual.
No Brasil como em muitos outros países, o alcoolismo registra
vítimas cada vez mais jovens. Começando pela cerveja, para depois
passar a bebidas mais fortes, os estudantes universitários iniciam
um caminho que, em uma porcentagem significativa, os levará a outro
tipo de dependência. Se isso não ocorrer, não é para alegrar-se: o
álcool é provavelmente a droga mais devastadora e mais amplamente
difundida que se conhece.
Os progenitores costumam equivocar-se em sua valorização das drogas
que podem atrair seus filhos. Se como conseqüência de um transtorno
de conduta ou da participação de um de seus filhos em um distúrbio
grave se lhes chama a atenção sobre o grau de álcool ingerido por
esse jovem, a reação imediata será de alívio, "pois se trata de
bebida e não de drogas".
Estudos e pesquisas recentes inclusive às estatísticas realizadas no
Brasil indicam que em poucos anos a porcentagem de escolares entre
13 e 15 anos que se habituaram à bebida aumentou de 11% para 23% por
cento. No que se refere aos estudantes dos graus superiores, de
idades que vão dos 16 aos 18 anos, a porcentagem chega a 40% por
cento, e as alunas mulheres não estão excluídas das estatísticas,
embora registrem porcentagens menores de dependência entre seu
renque.
Grande número dos progenitores desses jovens bebe álcool com
constância: três doses alcoólicas no almoço, “outras três ao chegar
em casa e pelo menos três ou quatro doses alcoólicas depois do
jantar”.
O estado social evita a qualificação de alcoólatras para essas
pessoas; prefere considerá-las "bebedores com problemas", embora não
esteja clara a linha divisória, e embora não seja a quantidade, mas
sim a conduta e os efeitos que permitem definir quando uma pessoa
ingressou no alcoolismo.
Os jovens e adolescentes referidos nas estatísticas não apenas
utilizam bebidas alcoólicas; freqüentemente combinam o álcool pelo
menos com a maconha.
Alcoólatras que em seu anseio de se modificar procuram uma terapia
específica confirmam que a aproximação da bebida se dá — em 80% dos
casos — em idade bem jovem, particularmente na etapa de passagem
entre a puberdade e a adolescência, quando a angústia tudo envolve e
os modelos paternos são os únicos que eles têm à mão, mesmo que para
assumir atitudes que pretendem inabilitá-los.
Dentre 60% e 70% por cento dos enfermos alcoólatras tiveram em sua
família pelo menos um dependente da bebida. Mas isso não significa
que esses filhos de dependentes sucumbam ao álcool através de uma
história que é suscetível de uma só interpretação.
Ao passo que existem muitos casos de filhos de alcoólatras que
apresentam sérios transtornos em sua vida de afinidade e na
aprendizagem, com a saúde pública em geral consagrando a esses os
maiores cuidados, outras crianças parecem ter-se salvo da má
influência e aparecem como meninos-modelo, responsáveis,
precocemente maduros, quase preparados para atuar como progenitores
de seus pais.
Excelentes educandos na escola primárias, porventura até mesmo
conhecido, cercados pelo encanto de professores e companheiros, são
possivelmente garotos que exercem em suas casas mais cargos do que
lhes equivaleriam por sua idade,, por exemplo, a de cuidar dos
irmãos menores, praticamente desamparados por uma mãe constantemente
alcoolizada.
Absolutamente oponente, em algum momento aparecerão as agruras,
empecilhos e as aflições; existente uma grande possibilidade que
esse garoto exemplar, ao atingir à universidade, durante seus
estudos superiores, encare um estado de depressão e retraimento que,
no mais perfeito dos episódios, o leve a profissionais que sejam
capazes para oferecer-lhe ajuda e, no pior dos acontecimentos, o
levem a recorrer às bebida alcoólica.
Pesquisadores e Cientistas afirmam "Encontra-se um grande número de
garotos que adolesceram aparentemente bem, sem embaraços para os
objetivos ambicionados, e agindo de forma aproximadamente primorosa.
Ao atingirem os 20 anos, porventura ao aproximarem-se dos 30,
começam de repente a afastar-se de seus amigos, a desobrigar-se de
suas atividades e a desabar em uma profunda depressão. Os resultados
de pesquisas revelam que pelo menos a metade deles se voltará para a
bebida alcoólica, desempenhando e eternizado uma dificuldade
familiar que talvez tenha gerações de constancia”.
Assistentes sociais unindo a experiência de tratar "meninos
perfeitos", filhos de alcoólatras e paralelamente jovens abatidos e
atraídos pela droga, frutos também de lares dependentes,
evidenciaram coincidência em pelo menos dois pontos: as dificuldades
para apregoar seus sentimentos e o medo de perder o controle de si
próprio.
Aflições e temores visivelmente relacionados com as estruturas de
defesa que devem ter-se intensificado em algum período da infância,
a fim de mover-se em um teto desordenado, atuando em torno da
contradição dos modelos ditados por um dependente grave e, ao mesmo
tempo, da influência auto-imposta a seus anseios e sentimentos, para
evitar transtornar seus progenitores.
Muitos garotos nessas condições ampliaram um senso de compromisso
exagerado, não aludido exclusivamente a eles mesmos, mas sim aos
remanescentes membros da família. Muitos também assumem o papel de
intercessor, para dar algum tipo de ordem na casa, ao passo que um
outro grupo de meninos tende a agirem movidos somente pela obrigação
de fazer com que aqueles que o rodeiam — em particular o alcoólatra
com quem coexistem — não se sintam mal. Sem-razões carregam a culpa
de ser eles que induzem os progenitores a beber bebidas alcoólicas,
com seu mau procedimento.
Já na idade madura, os papéis contraídos quando jovens são difíceis
de serem abdicados, e esses meninos responsáveis ou concessivos
transformam-se em seres que elegem a solidão, pois a companhia lhes
exige que se encarreguem confusamente do outro; que se casam por sua
vez com um alcoólatra ou com um indivíduo incerto, pois carecem
continuar sendo a sustentação de alguém; ou que lançam de si
mensagens ininteligíveis, pois estão incapacitados de ratificar suas
emoções.
Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista),
mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint
Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet)
USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista
por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.