"PÂNICO" E PSICODRAMA - CIÊNCIA E ARTE
Por Zenaide de Faria Neves Regueira
14/03/2007

METODOLOGIA INOVADORA

"Se não podemos ver as coisas com clareza, mas pelo menos tenhamos clareza em vê-las na obscuridade". (Freud)

"A arte procura o belo, a ciência procura a verdade, a medicina procura minorar o sofrimento e a dor dos homens."

"Pânico" originariamente do "Deus Pan", mitologia grego-romana, um ser horrendo de orelhas pontiagudas, rosto e corpo humano, com rabo e patas de bode, abandonado por sua mãe logo ao nascer e desenvolvendo em si profunda tristeza, sentimento e desamparado. Não recebendo a proteção materna, vivendo em permanente estado de alerta e medo.

Pânico: Medo real diante de uma situação de perigo.
Crises de Pânico: Mal-estar súbito, que surge espontaneamente, sem motivo aparente, mas, sempre acompanhado de angústia e sensação de medo, perigo ou morte iminente, além de múltiplos sintomas e sinais de alerta.
Transtorno do Pânico (TP): São as "Crises de Pânico" repetidas e/ou contínuas, crescentes que impossibilita o seu portador de executar suas atividades normais, mesmo que sejam em pessoas anteriormente ativas e capazes. Os ataques inesperados e recorrentes de vários sintomas cognitivos e somáticos acompanhados de intensa ansiedade, com diferenças a cada indivíduo. Caracteriza-se por um conjunto de sintomas, sendo classificado na CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) e DSM (Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais).

O quadro clínico apresenta sintomas fisiológicos e/ou comportamentais, mas sempre acompanhado de ansiedade que provoca angústia no indivíduo, produzindo impulso de sair da situação em que se encontra, pois se sente diante de alguma ameaça, como se algo estivesse à acontecer com seu corpo.

As sensações, em forma de sintoma, sem necessariamente estarem todos presentes são as seguintes: palpitação, sudorese, tontura, tremor, irrealidade (despersonalização), dispnéia, asfixia sufocante, instabilidade, vertigem, desmaio, náuseas, desconforto abdominal, calafrios, ondas de calor, dor no peito, desconforto no peito, parestesia, sensação de enlouquecimento, perda de controle do corpo, perda do controle do pensamento e sensação iminente de morte.

Sempre vêem acompanhados de ansiedade em indivíduos que não apresentam depressão visível ou que possuam aparentes distúrbios psiquiátricos, nem comprometimento clínico. O descomando de "si mesmos" obriga-os a pedir ajuda, o que não fariam antes, pois não conseguem ficar sozinhos, precisando permanentemente de proteção (amparo). Fogem de situações num processo de evitação e, mesmo quando passam as crises, permanecem na expectativa de um novo ataque que sempre surge aleatoriamente, assim ficam medrosos, e não conseguem freqüentar o lugar onde a primeira crise ocorreu. O medo de ficarem sozinhos, ou de ir a lugares públicos, tornarão suas vidas insuportáveis. Seus pensamentos acelerados provocam o famoso "branco", têm pavor de falar em público. Não conseguem ficar desacompanhados e, quando se agravam os sintomas, não conseguem sair nem de casa. Quando conhecedores de sua doença, mesmo com convicção de que não é real o que sentem, mas não conseguem controlar o surgimento dos sintomas, nem combatê-lo depois de instalado.

Vários fatores podem desencadear as crises, tais como: uma situação de confronto; de decisão; a visualização de uma cor; um olhar; uma sensação fisiológica de mal-estar gástrico ou qualquer estímulo não claro, mas que tenha semelhança ("pareamento") com alguma situação do passado traumático do paciente, mesmo de fatos não lembrado que o fará relacioná-los.

A incidência do TP é alta, responsável por aproximadamente 5,5% da população mundial, sendo, no Brasil elevada a 9,6 %. Atinge pessoas em torno de 20 a 35 anos em plena vida produtiva, contudo acomete todas as idades, mais as mulheres que os homens, sendo de 3 para 1 em relação mulher/homem; são mais de 8% os pacientes que procuram os serviços especializados em Psiquiatria, embora o número de pacientes não tratados é em torno de 11% (estatística realizada na USP).

São três, as principais causas responsáveis por esta falta de procura ao tratamento:

Falta de coragem em procurar psiquiatra;
Por tratar-se de tratamento dispendioso, de longa duração;
Falta de diagnóstico por outros especialistas que, muitas vezes, desconhecem seu quadro clínico.

No Transtorno do Pânico, são reaparecidos fatos ocorridos na infância, em paralelo aos fatos do presente, que produzirão as sensações atuais. Fatores biológicos mais as condições da vida somam-se para desencadear as crises, as patologias, envolvendo o biológico, o psicológico e o social. Uma teoria consistente, alicerçada no "Biopsicossocial".

A nosso ver o início da etiologia do TP, corresponde às emoções alojadas na fase de 0 a 2 anos (Núcleo do Eu), e ainda, na fase de 0 a 5 anos (Matriz de Identidade) período este onde a memória ainda não havia sido formada em nível de maturidade neurológica. Sem a memória, os registros dos fatos não desaparecem, ficam em forma de marcas mnêmicas (situadas na formação límbica). As sensações de desamparo e de rejeição dessa época somadas às demais no decorrer da vida, formarão este sentimento de desabastecimento (não complementada), criando áreas de carência na personalidade da criança. Para combatê-las, os bebês tentam uma nova forma de comportamento (as reparações) para serem aceitas e amadas. No adulto, essas sensações retornam por "pareamento" voltando a sentir o que sentia anteriormente em sua complementaridade, gerando angústias, a crise de Pânico. Há, portanto, uma correlação entre os mecanismos reparatórios do passado e os sintomas (as sensações) do presentes, assim, tratamos a etiologia reparando o que havia sido reparado inadequadamente na tentativa de menor sofrimento, e de desamparo.

Demonstraremos sob este tema um extenso estudo e pesquisa, apresentando como resultado uma proposta de tratamento inovador.

Não consideramos exata a nomenclatura de "Transtorno de Pânico" nem mesmo "Síndrome de Pânico" na designação para este distúrbio, e sim, "Sensação de Pânico", pois expressaria com mais exatidão o que realmente ocorre como seus sintomas. Estes, aparecem sempre em forma de sensações e, ao ser investigado clinicamente, não revela nenhuma patologia orgânica, confirmando serem apenas sensações, e não sintoma.

Com este enfoque "Pânico" e Psicodrama - Ciência e Arte, pretendemos mostrar como tratar do Transtorno de Pânico, usando abordagem psicodramática na modalidade terapêutica, conseguindo o desaparecimento dos sintomas, o que possibilita a liberação do uso da medicação, caso esteja sendo necessária, e finalmente a cura.

Consideramos, também, que é comum a depressão, que sempre está presente, ser considerada como comorbidade (um sintoma paralelo), em lugar de ser entendida como sua verdadeira causa (a etiologia), aparecendo em forma de angústia.

Ressaltamos a importância dos medicamentos no início do tratamento para combater o sintoma da depressão, angustia e ansiedade: os antidepressivos como tratamento de base e os ansiolíticos para alívio do principal sintoma na crise aguda, que deverão ser mantidos para apoio durante todo o tratamento. Orientamos para que o paciente os leve sempre com ele para todos os lugares, garantindo-lhe a sensação de segurança, "o amparo" de que tanto necessita. Depois de algum tempo o próprio paciente passará a esquecer de levá-lo, assim será evidente estar sendo desnecessário seu uso, libertando-se desta forma e sem dependência.

A nosso ver, a psicoterapia é a única ação verdadeiramente curativa, sendo a medicação para uso temporário, antes que tenha se efetivado a ação do tratamento psicológico. Nas psicoterapias, especialmente "a psicodramática", são tratadas as causas da depressão, libertando assim o paciente dos conflitos armazenados desde seu nascimento que pareciam inexistentes, desaparecendo a ansiedade e a angústia.

Surpreendemo-nos ao constatar quantos pacientes são diagnosticados e tratados apenas por seus distúrbios somáticos, sem que se vejam vistos os psíquicos. O diagnóstico do TP é conhecido por médicos experientes no assunto, porém desconhecido para outros que, receando serem negligentes não fornecem um diagnóstico claro, abstendo-se, prorrogando o tratamento, fazendo inúmeras avaliações laboratoriais e encaminhamento a outros médicos . Temendo que eles venham a estar realmente doentes do "corpo", e que seu quadro patológico se agrave com risco de óbito, atrasam o tratamento especializado, o da "mente". Esta conduta é conhecida como: "Angústia do Médico".

Há pacientes também que demoram a procurar atendimento psiquiátrico, indo a vários clínicos num fenômeno do "doctor-shopping", verdadeira peregrinação e involuntariamente escondem os sintomas emocionais, parecendo preferir os orgânicos, no receio de se prejudicarem profissionalmente, por preconceito social, e serem considerados como "pessoas problemáticas".Assim, continuam sem diagnóstico e sem entrar em contato com seu "Estar emocional". Quando são orientados, admitindo que seu problema é psíquico, ainda pensam serem capazes de controlar por si mesmos, pois se sentem "pessoas fortes". Submetem-se a exames que nada evidenciam, mas, mesmo frustrados, fica-lhes mais fácil aceitar problemas do corpo que da mente, só procurando ajuda de especialista quando surgem os prejuízos sociais, escolares, profissionais e financeiros.

Iniciada a psicoterapia, em seu decorrer, pesquisamos as situações insatisfatórias de carências do paciente na infância, revivendo-as em cenas dramáticas, oferecendo oportunidades de criar uma melhor forma de vida para atender às suas necessidade, diferente das que foram usadas anteriormente para agradar as necessidades do ambiente. Essas situações reprimidas aparecem ao longo do processo terapêutico e devem ser trabalhadas uma a uma. A seqüência dos temas é aleatória, mas, mesmo assim, conduz a seqüência ma criação das cenas, envolvendo o paciente frente à sua possibilidade. Esses temas são trazidos por ele a cada sessão de acordo com seu momento, tornando o tratamento semelhante ao "descascar de uma cebola" (termo da autora).

Apresentamos a hipótese de que as manifestações de "Pânico" seriam a representação das tantas reparações no comportamento da criança, forçando a estruturação de sua personalidade, repetindo a cada nova cobrança do ambiente, na tentava de adaptar-se a ele. Por isso, o indivíduo vai afastando-se cada vez mais das suas necessidades internas básicas.

Com o Psicodrama, é possível reparar o que havia sido "reparado", não modificando o que está na história do paciente, mas permitindo que ele possa se conhecer em toda a sua intimidade, aproximando-o de sua "verdade" interna, desaparecendo o reprimido. Assim, a ansiedade patológica não terá mais lugar para aparecer em forma de angústia. No psicodrama encontramos possibilidade maior que nas outras formas de psicoterapias, em proporcionar aos pacientes condições de encontrar, nas dramatizações, um aquecimento que o leva a entrar em contato com suas emoções em nível corporal.

Assim, ressaltamos que tratando as causas, desaparecerão as conseqüências.

Assumiremos a responsabilidade desta afirmativa, respaldada nos resultados de estudo de 12 anos em pesquisa com todas variáveis, e cada vez mais nos certificamos da validade desta conclusão. Procuramos, assim, trazer algo de novo e tentarei quebrar o conservadorismo (a conserva cultural) de cada profissional, mesmo sabendo que encontrarei dificuldades em demolir aquilo em que se tem acreditado até hoje. Toda mudança sofre resistências, o novo deve mesmo ser questionado, mas nossa crença é bastante forte e otimista em demovê-lo. Sentimos ter encontrado o "Ovo de Colombo" - o que todos vêem e ninguém enxerga, a identificando da etiologia e como tratá-la.

Usamos este momento conclamando a classe científica, para refletir e mudar alguns conceitos que, acreditamos, estão prejudicando a população que vem sofrendo do TP, usando dispensas médicas e aposentadorias, sem lhe ser oferecida esperança para sua cura, pensando ter que tomar remédios por toda a vida com final infeliz.

A maior riqueza do tratamento está na "arte do terapeuta", que, utilizando a sua boa relação com o paciente, conseguirá trazer-lhe de volta a certeza de estar amparado, com condições de descobrir-se e reassumir o comando do seu "Si Mesmo", portanto, não usando o "Pânico" como alternativa de sua fuga, deslumbrando o "Voltando a viver".

Zenaide de Faria Neves Regueira é Psiquiatra, Professora de psiquiatria da UPE, Psicodramatista e Professora de Psicodrama

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