Paranóia e agressividade nas dependências
químicas (Alcoolismo, drogas e tabagismo)
Por Karina Mendonça Santos e Marzia Muro
14/03/2007
O relato sobre o uso de drogas pela humanidade retoma os tempos mais
remotos. Sabe-se que a maioria dos medicamentos utilizados na
antiguidade originavam-se de plantas. Assim, a palavra droga, é
derivada de drog, que em holandês, significa folha seca. Atualmente
o conceito de droga utilizado no meio científico está relacionado a
qualquer substância capaz de trazer alterações no funcionamento do
organismo de um ser vivo.
Os dependentes químicos, em sua maioria, apresentam diversas
características, tais como: não adequação com relação a tempo e
espaço, vida social e referencial afetivo. Demonstram também alto
índice de racionalidade e cisão entre afeto e razão. Nestes
indivíduos o ego encontra-se incapaz de exercer sua função mediadora
entre consciente e inconsciente, podendo surgir asim algumas
patologias, como: a paranóia e a agressividade, às quais
discorreremos neste artigo.
O termo paranóia é frequentemente usado em conversas cotidianas, mas
nem sempre de forma correta, pois uma simples desconfiança não
significa necessariamente uma paranóia, especialmente se estiver
baseada numa experiência anterior ruim.
Aurélio Buarque de Holanda (1988) define paranóia como sendo uma
psicopatia, caracterizada pelo aparecimento de ambições suspeitas,
que evoluem para delírios persecutórios e de grandeza, estruturados
sobre base lógica. Para profissionais de saúde mental a palavra
paranóia descreve aqueles indivíduos que sofrem de uma desconfiança
exagerada e/ou uma grande suspeita de ser atacado verbal ou mesmo
fisicamente, de forma injustificada.
A paranóia é uma psicose caracterizada por um conceito exagerado de
si mesmo e de idéias de perseguição, reivindicação e grandeza, que
se desenvolvem progressivamente, sem alucinações (Stenio Esteter,
2003).
Sabe-se que a paranóia pode ter várias origens, que ainda estão
sendo estudadas, desde o stress, fatores genéticos, bioquímicos até
o uso de drogas.
Como descrito anteriormente a paranóia caracteriza-se por uma
desconfiança grave, ilusões fixas, um sistema delirante duradouro e
inabalável, mas há manutenção da clareza, da ordem de pensamento, da
vontade e da ação.
O dependente químico se torna paranóico devido a ação neuroquímica
cerebral, uma vez que a droga age diretamente nos
neurotransmissores, que leva o indivíduo a mudanças comportamentais
e fisiológicas. A palavra agressividade é utilizada no senso comum
com algo pejorativo, onde faz-se a exclusão de uma pessoa devido ao
seu comportamento momentâneo.
Porém, a agressividade é algo inerente ao ser humano, vem dos
instintos básicos, sendo um comportamento emocional que faz parte da
afetividade humana. Com isso, pode-se dizer que a pessoa está
agressiva e não é agressiva; o mínimo de agressividade é necessário
e preciso para a sobrevivência do ser humano. O não aceito é a
exacerbação da mesma, pois neste caso o indivíduo é taxado,
erroneamente, como tendo uma personalidade agressiva.
Para os profissionais de saúde mental, a agressividade não pode ser
considerada um transtorno psiquiátrico específico, ela é, antes
disso, um sintoma que reflete uma conduta desadaptada.
Para Corsini (2004) a maneira de reagir a agressividade varia de
acordo com a cultura, onde alguns comportamentos agressivos são
tolerados, outros repreendidos.
Pode-se perceber que nas sociedades ocidentais, a agressividade é
aceita quando vista como iniciativa, ambição, decisão ou coragem;
mas é punida quando vista como atitudes hostis e de sentimentos de
cólera.
Contudo, a agressividade não é somente caracterizada por ação motora
violenta e destruidora, o comportamento negativo de recusa ao
auxílio e o simbólico como a ironia, também podem funcionar como
agressão.
No dependente químico a agressividade pode surgir por vários
fatores, tais como: uso abusivo ou abstinência de drogas,
preconceitos (social e familiar) e pelo surgimento da paranóia, uma
vez que esta suscita no indivíduo a resposta ao estímulo da
perseguição.
Dependência química é entendida como uma doença caracterizada por
comportamentos impulsivos e recorrentes da utilização de uma
determinada substância, que envolve aspectos biopsicossociais. O
motivo de muitas pessoas que utilizam drogas tornarem-se dependentes
é que a substância ingerida e sua consequente ação no sistema
nervoso propiciam sensações prazerosas, ainda que momentâneas.
O dependente químico pode vir a apresentar dois tipos de
dependências: (a) a física e a (b) psicológica.
(a) A física é caracterizada pelo sistema de recompensa cerebral,
responsável pela principal fonte de liberação do neurotransmissor
dopamina, responsável pela estimulação do prazer.
(b) Quanto ao aspecto psicológico, o uso de drogas pode erroneamente
ser associado ao alívio de sensações desconfortáveis, como:
ansiedade, medos, tensões, entre outros. Dessa forma, a droga é
capaz de anestesiar a dor de existir, mantendo o indivíduo alheio às
dificuldades que deveria enfrentar na vida cotidiana. Sem o consumo
desta, a pessoa tem a sensação de incapacidade de viver.
A droga traz para o indivíduo um contexto lúdico e fantasioso, só
que na prática esse não é um agente de lapidação, mas sim de
destruição, por isso, pode-se perceber nitidamente nos dependentes a
distorção do sagrado, que é a forma alterada de ver o mundo, uma vez
que na possessão do vício a pessoa se modifica, pois na busca do
prazer imediato utiliza-se da agressividade. Neste ponto o vício tem
a capacidade de deixar a pessoa sem percepção, vivendo somente de
sensação, por isso a necessidade do prazer imediato e a não visão de
que a droga é algo capaz de matá-lo, podendo surgir a
auto-destrutividade e o auto-boicote.
A paranóia surge como um caráter de defesa, apresentando delírios
pouco sistematizados, acompanhada da perda de sentimentos, podendo
acarretar a agressividade devido a dificuldade que os dependentes
possuem de conviver com o social e de se integrarem a ordem (regras
sociais).
Pode-se dizer que na dependência química encontra-se presentes os
complexos materno e de inferioridade. Entende-se por complexos um
conjunto de idéias carregadas afetivamente que evoluem para a
formação do ego, tendo origem nos arquétipos.
O complexo materno apresenta certas características, como:
ansiedade, necessidade de quebra de contrato, agressividade,
persecutoriedade e desrespeito as regras sociais, portanto, pode-se
afirmar que dentro deste complexo estão todas as dependências e
drogadições.
Existe um padrão que é arquetípico no complexo de inferioridade, no
qual a pessoa se acostuma com a forma destorcida de ganhar amor, que
leva a uma fixação nesse processo propiciando o auto-boicote. Este
complexo está estritamente associado a criação, rejeição dos pais e
falta de afetividade, portanto, para que o indivíduo possa suportar
viver no complexo de inferioridade ele infla seu ego, ou seja,
aparenta uma superioridade que não possui.
Sendo assim, pode-se dizer que essas pessoas não vivem, mas sim,
co-existem em meio ao seu próprio caos.
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