Pegue no Ato!
Por Bruno Soalheiro
10/06/2008
Como consultor na área de Recursos Humanos, parte do meu trabalho é
“sentir” o clima da empresa e entender os processos de comunicação
entre as pessoas, portanto, na fase inicial de cada projeto sempre
passo algum tempo percorrendo os corredores e “observando” os
colaboradores durante o trabalho.
Há alguns anos, durante a realização de um serviço em uma empresa
familiar de pequeno porte, percebi algo interessante e, na verdade,
bastante comum no que diz respeito a gerenciar pessoas, e que
gostaria de compartilhar com o leitor.
Durante minhas caminhadas pela empresa, em pouco tempo notei algo
interessante no comportamento dos funcionários. A questão é que na
presença do dono, comportavam-se de uma maneira, e em sua ausência,
de outra, e bem diferente. Não necessariamente em relação à execução
do trabalho, mas em relação à maneira como se comunicavam. Se na
ausência do dono eram descontraídos e sorridentes, na presença deste
ficavam rígidos, sérios e extremamente cautelosos.
Perguntando depois, a alguns funcionários com os quais ganhei mais
liberdade, sobre a razão do fato, ouvi o seguinte: - Claro que
ficamos petrificados, ele pega no ato! Fica vigiando, procurando
algo minimamente errado e... Pula em cima!
Temos aqui um exemplo clássico (e jurássico) de gerenciamento
autoritário baseado na coação e no medo, que enfatiza muito os erros
das pessoas, esperando que isto faça com que elas revejam seu
comportamento e melhorem sua atuação. O que definitivamente não
acontece.
As teorias da psicologia e os modernos estudos na área de Gestão de
Pessoas nos mostram claramente que estilos autoritários de
gerenciamento, além de prejudicarem extremamente o clima
organizacional, não se mostram eficazes em aumentar ou mesmo manter
uma boa produtividade na empresa.
Em contrapartida, os modelos participativos e não–coercitivos de
gestão vêm se revelando extremamente valiosos para a criação de um
ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Entretanto, em algumas organizações, especialmente nas familiares e
mais tradicionais que vemos em nosso país, percebe-se a fervorosa
inclinação que alguns donos ou gerentes têm em ficar vigiando o
funcionário o tempo todo para “pegá-lo no ato”, fazendo algo que não
devia, e aí sim “passar-lhe o sabão”.
E ora, quem sou eu, mero consultor, para tirar-lhes o prazer de
vigiar seus subordinados!
Por isso, em meus trabalhos de consultoria, quando encontro tipos
assim costumo propor: -Ok, quer continuar pegando no ato? Então
vamos pegar! Mas que tal a partir de agora pegá-los fazendo a coisa
certa?
Nesta hora os gerentes geralmente me olham como se eu houvesse
perdido o juízo ou estivesse fazendo alguma brincadeira sem graça.
Mas com bom humor e um pouco de desafio sempre consigo convencê-los
a, pelo menos por um dia, experimentar a nova técnica.
E não foi sem boas risadas que todos presenciamos certa vez, no chão
de loja, em pleno meio da tarde, um gerente sair lá de trás do
estabelecimento em alta velocidade, apontar para um dos funcionários
que organizava os produtos na estante e disparar eloqüentemente: -
Ah! Peguei! Peguei no ato! Desta você não escapa, venha aqui
agora... – e então, abrindo um sorriso continuou -... Meus parabéns!
Não só arrumou os produtos adequadamente como também valorizou nosso
lay-out!
Descontração geral!
A verdade é que esta abordagem bem humorada e “positiva”, além de
gerar um clima bastante descontraído e alegre, é muitíssimo mais
eficiente para se eliminar comportamentos inadequados do que a
repreensão.
Quando chegamos até um colaborador e o elogiamos “publicamente” por
algo bem feito, é como se estivéssemos estabelecendo para ele um
compromisso. Ele se sente valorizado, reconhecido, e melhor, perante
todos os colegas! A partir daí, sua tendência é, se não melhorar,
pelo menos manter o nível do trabalho pelo qual foi elogiado,
afinal, todos agora sabem que “ele pode fazer bem feito”.
Há um ditado que diz: - Dê ao homem uma boa reputação e ele fará de
tudo para mantê-la! -. Da mesma forma, quanto mais encontrarmos
pontos positivos no trabalho de nossos colaboradores e os
elogiarmos, mais eles terão a tendência de manter o padrão pelo qual
foram valorizados; e por incrível que pareça, a partir daí, por si
só começarão a efetuar mudanças para melhor, algumas delas talvez
nem mesmo imaginadas ou cobradas pelos superiores.
Quanto mais ajudarmos as pessoas a enxergarem e perceberem o que
estão fazendo de bom e correto, gerando nelas uma imagem de
competência perante si mesmas, mais elas se esforçarão por manter
esta imagem e continuar fazendo tudo da melhor maneira possível. Aí
sim, elas crescem e se desenvolvem, como pessoas orgulhosas e
profissionais conscientes.
É por isso que de agora em diante costumo dizer, sem a menor
cerimônia, a alguns de meus clientes de consultoria: Vigie mesmo! E
pegue no ato, ora essa!
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.