Os Perigos do "Catastrofismo" e da
profecia autorrealizável
Por Ana Lúcia Pereira
13/07/2009
Os perigos do “catastrofismo” e da profecia autorrealizável
Todos nós, em determinadas circunstâncias, tendemos ao pessimismo. É
o que o psicólogo Arthur Freeman chama de “catastrofismo”.
“Catastrofizar” é acreditar no pior, no desastre, no perigo
iminente, mesmo na ausência de evidências que apontem para esse
desfecho.
Infelizmente, sofrimento desnecessário é o menor dos problemas
provocados pelo “catastrofismo”. Essa tendência a pensar no pior
pode acabar fazendo com que o pior – ou algo tão ruim quanto – de
fato aconteça. É a profecia autorrealizável.
A profecia autorrealizável é uma previsão sobre o futuro que
influencia o comportamento da pessoa de tal forma que acaba se
cumprindo. Sendo assim, profecias catastróficas conduzem a
resultados catastróficos.
Essa dupla perigosa, “catastrofismo” e profecia autorrealizável,
invariavelmente levam à perda de oportunidades. Se eu me convenço de
que posso ser aprovada em um concurso público, por exemplo, é
provável que eu escolha um material de apoio adequado; faça um bom
planejamento de estudo e a ele me dedique com disciplina e empenho;
realize a prova com atenção e alcance meu objetivo. Mas se, a
priori, acho que não sou capaz, talvez nem chegue a inscrever-me no
concurso; e se o fizer encontrarei, inconscientemente, outras
maneiras de me autossabotar: não estudarei adequadamente, me
distrairei com outras coisas ou desistirei ao menor sinal de
cansaço. Afinal, se estou convencida de que morrerei na praia, posso
considerar a possibilidade de parar de nadar como a menos
frustrante.
O processo que leva ao “catastrofismo” e à profecia autorrealizável
é desencadeado na medida em que a pessoa vai conversando consigo
mesma e se convencendo do pior. Pense em um universitário, que
aleatoriamente chamaremos de Douglas. Estudante dedicado, Douglas
confia em sua habilidade intelectual e costuma se sair muito bem nas
provas. Mas a simples idéia de apresentar um seminário o transforma
em um “pudim ambulante”. Embora domine o conteúdo, ele tem certeza
de que vai dar tudo errado e uma sucessão de cenas apavorantes lhe
passa pela cabeça: “Vou ficar nervoso, com isso começarei a
gaguejar, então vou me confundir todo, os colegas vão rir de mim e
meu professor vai ficar furioso”.
Em pouquíssimo tempo Douglas não só escreveu o roteiro de seu
fracasso como se convenceu que não pode fazer nada para evitá-lo.
Então, a profecia se realiza: na hora do seminário, a língua de
Douglas parece “colada” ao céu da boca, suas mãos estão suadas, seus
joelhos bambos e sua voz trêmula. O que Douglas não percebe é que
foi ele mesmo o responsável pelo desastre, ao deixar-se dominar pelo
“catastrofismo”.
Isso significa que o caminho é partir cegamente para o pensamento
positivo? Não mesmo... Por obvio que possa parecer, o mais saudável
é simplesmente ser realista. Mas veja bem, ser realista é muito
diferente de chegar à conclusão precipitada de que o “mundo vai
desabar”, criando problemas que de outro modo não existiriam.
Tampouco implica em alienadamente acreditar que “nada pode dar
errado comigo”. Aqueles que cultivam o pensamento realista não negam
que o pior seja possível e sofrem decepções como qualquer outra
pessoa, mas não supervalorizam o perigo nem a decepção, não se
deixam escravizar pelo medo e procuram alternativas para melhorar as
situações adversas. Pense nisso!
Ana Lúcia Pereira é Psicóloga Clínica, professora Universitária e
Consultora Organizacional. Email: alp@analuciapsicologa.com -
http://www.analuciapsicologa.com