Por que dizer que Depressão não tem cura?
Por Jorge Antônio Monteiro de Lima
06/09/2010
A paciente chega à clínica desesperada. Entra no consultório
chorando. Agoniada esfrega as mãos.
Sem esperanças chora o tempo todo. É a quarta consulta que faz e já
não sabe mais o que fazer.
Tudo começou há alguns anos, desde sua separação, que foi um evento
traumático em sua vida.
Hoje ela não dorme, sente pressão em seu peito, muita ansiedade que
a fez perder muito peso, tem dores físicas em todo seu corpo. Muitos
diagnósticos e tratamentos, quilos de remédios até chegar a um
diagnóstico efetivo: depressão.
Quando pensou que seu calvário chegaria ao fim, o segundo evento
traumático se instalou. O "dotô" diz que o caso dela não tem cura.
Ela pode fazer o que quiser qque não tem jeito. Delicado e ignorante
o "doto" dono da razão, senhor do destino, desatualizado e
incompetente, usando seu sadismo, decreta e atesta sua própria
incompetência. No fundo ele diz: "não tenho instrumental, nem
estudei o suficiente para lhe proporcionar uma melhora".
Nesta hora, a paciente toma uma decisão triste. Segundo o
estabelecido pelo "profissional de saúde" vulgo "dotô", como não
haverá como por fim ao sofrimento por meio de tratamentos, a solução
é por fim a própria vida. Infelizmente é o que muita gente faz por
ser vítima de tratamentos ligados a profissionais mal preparados.
Estudos do professor Marcos Gebara do Departamento de
Neuropsiquiatria da UFRJ por meio de ressonância e tomografia
computadorizada mostram claramente que pacientes com depressão
encontram sua cura:
· Em 30% dos casos atendidos, quando tratados somente com medicação;
· Em 32% dos casos tratados apenas com psicoterapia;
· Em 72% quando da combinação de medicação com psicoterapia;
Acrescentamos ao estudo que em 86% quando da combinação de
medicação, psicoterapia e tratamento em grupo de apoio com cura
efetiva.
Estudos atuais que revelam a cura de pacientes depressivos existem
aos milhares.Os melhores tratamentos apontam os que integram
técnicas de atuação em sistema interdisciplinar.
No campo da psicologia muitos avanços surgiram, especialmente nas
últimas décadas. Tratamentos mais humanizados, privilegiando a
psicodinâmica, especialmente com as escolas pós-analíticas.
Trabalhos profundos da psicologia profunda, auxiliando o paciente a
compreender fatores que geraram a depressão, buscando o resgate do
sentido de vida perdido, reestruturando a personalidade, num
contexto psicodinâmico. Quando a depressão tem um fundo ligado a uma
crise de ordem afetiva, a elaboração do luto e o recomeço da vida
pelas inúmeras perdas que se instalam, faz parte do suporte proposto
pela psicologia clínica na psicoterapia.
Um dos erros mais crassos da psicologia advém do fato de ter se
associado à depressão a um evento estrutural da personalidade, o que
é um erro gravíssimo. Depressão jamais poderia ser vista como um
estado de ser, posto tratar-se de uma situação de crise, cujo
sofrimento é intenso. Caso fosse um aspecto estrutural da
personalidade, o hábito junto aos sintomas minimizaria seu impacto
sobre a vida, tornando-a patologia, uma situação de rotina, o que
não ocorre. Nem mesmo em casos de distimia, nem em casos de
transtorno bipolar ou patologias que têm ligação com eventos
depressivos, tal hábito é comum.
No entanto, hoje em dia, infelizmente é ensinado nas universidades
de psicologia que depressão é incurável, contrariando todos estudos
mais recentes e profundos.
Por outro lado, se um psicoterapeuta não reconhece uma possibilidade
de melhora em seu paciente, então porque tratá-lo? Se nada sei o que
fazer, o correto e ético, seria apenas encaminhar para outro colega,
talvez com mais experiência, e com uma visão psicodinâmica mais
profunda. Ninguém tem o direito de fechar as possibilidades de
melhora. A ciência da saúde tem evoluções quotidianas.
Porém em nossa experiência clínica outros dados e fatores precisam
ser apontados. Os pacientes com depressão que não encontram a cura
são justamente aqueles que são assistidos por profissionais radicais
e mal preparados. Estes preconizam que somente medicação, e ou
somente a psicoterapia fará efeito. Tal radicalismo inviabiliza o
tratamento. Há também os casos de pacientes que tomam medicação
errada, seja por péssima prescrição, seja por falta de informação,
auto-medicação e, ainda, há os pacientes que não tem aderência ao
tratamento e que também não tem suporte familiar.
Resumindo, dos pacientes com depressão, apenas 18% não encontram a
cura na atualidade, fato que se liga diretamente ao erro de
profissionais ou não aceitação e aderência ao tratamento.
Da mesma forma, a área medicamentosa evoluiu imensamente. Os avanços
da farmacoterapia são imensos, remédios com pouco efeito colateral,
com ações mais específicas hoje, são abundantes no mercado. Porém o
mercado é mercado, e a banalização de muitas ações são vistas com
freqüência na atualidade por alguns profissionais. O mesmo problema
da psicoterapia, ocorrendo com os médicos. Por uma visão
ultrapassada, por não acreditarem em melhora nem cura, passam a
manter seu veredicto: incurável.
O mercado de trabalho é seletivo. Se você leitor ouve de um
"profissional de saúde" que a depressão não tem cura, faça um favor
a você mesmo. Procure outro profissional mais atualizado.
No fundo este profissional está afirmando categoricamente que está
desatualizado e, sua falta de estudo na área é imensa.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental,
Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para
projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais
email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br