Porque é tão
difícil falar em público?
Por Sirley Bittú
20/08/2004
A comunicação é inerente ao ser humano. Precisamos falar, expressar
nossas idéias e sentimentos e nem sempre nos sentimos preparados
para isso. Nas mais variadas situações que vivenciamos, desde uma
reunião informal, um encontro com amigos, ou nos desafios
profissionais, somos solicitados de forma direta ou indireta a
colocar nossas idéias, objetivos, a compartilhar nossa forma de
pensar e perceber o mundo, nossos significados e significantes.
O falar em público, pode tornar-se um grande sofrimento tanto
emocional como físico, pois está relacionado ao medo humano de não
ser aceito e não ser respeitado. Para seres sociais como nós, a
aceitação e o respeito do outro interferem diretamente no
desenvolvimento do nosso senso de existência, daí ser um assunto tão
amplo e complexo.
O falar em público é para algumas pessoas, uma situação tão
ameaçadora que o corpo lança mão de todas as alternativas possíveis
para proteger-se. São comuns os relatos de sensação de tremor,
taquicardia, sudorese, dores estomacais, dores de cabeça entre
outros sintomas físicos. Lembro-me de uma cena que um cliente me
trouxe, referindo-se à sua experiência traumática de falar em
público... Senti-me como uma lebre preste a ser atacada por aquele
bando de leões!... Só no que conseguia pensar era em como eram
eternos aqueles minutos... Não conseguia lembrar-me de uma linha do
trabalho que preparei durante dias para apresentar!... Neste
exemplo, o medo perdeu sua função natural de proteger a pessoa e a
paralisou, bloqueando o acesso a seu arsenal de conhecimento que
traria com ele toda a segurança e tranqüilidade necessárias para
executar a tarefa que se propôs. Todas as possibilidades de usar
seus recursos próprios para sair daquela situação desapareceram,
como se o indivíduo perdesse durante aquela fração de segundos sua
identidade.
O conhecimento que colecionamos durante nossa vida, nos define e com
isso nos norteia em nossas escolhas e atitudes. O conhecimento que
temos de nosso íntimo, de nossos desejos, gostos, características,
potenciais e limitações é o que nos dá a sensação de força ou de
fragilidade perante os desafios que surgem na vida.
A segurança é um sentimento construído a partir deste tipo de
conhecimento pessoal, e a insegurança é construída por nossos mitos,
nossas verdades inquestionáveis e principalmente nossos medos. Em
situações de stress, alguns indivíduos geralmente perdem esse link
interno, essa bússola pessoal, perdendo os próprios parâmetros.
Nesse momento os medos e as fantasias tomam conta trazendo um espaço
onde o outro (ou os outros) sempre ocupa um papel de perseguidor
forte, destemido, feroz e principalmente cruel.
Outro ponto importante na dificuldade de falar em público, além da
insegurança interna, é a busca por um modelo construído por nossas
idealizações e fantasias do perfeito, imaginário e que não é real. A
ilusão é necessária para o desenvolvimento emocional pois precisamos
do sentimento de segurança que ela proporciona, a realidade é
necessária, pois precisamos da objetividade que ela nos traz, nos
dando a sensação de existir concretamente, sermos vistos, olhados
amados, e aceitos, traz consigo a certeza de existirmos. A
maturidade emocional conta com esses dois pontos de apoio, pois da
área da ilusão nascem a fantasia e a esperança que auxiliam e
aconchegam e da área de realidade nasce o mundo objetivo que dá
segurança e concretude.
São inúmeras as situações onde o medo atua desta forma; o conhecido
branco que aparece em situações de testes ou avaliações das mais
diversos é o mais comumente relatado entre esses sintomas. O medo da
exposição está ligado ao medo da avaliação negativa, da reprovação e
principalmente do ridículo.
Todos esses medos fragilizam a coragem e a autodeterminação,
travando os conhecimentos que o indivíduo possui sobre si mesmo,
seus valores e suas competências, tornando-os inacessíveis.
E de onde nasce isso tudo?
A forma como nos apresentamos no mundo, está diretamente relacionada
à percepção que temos sobre nós mesmos, cada detalhe que compõe essa
apresentação está carregada de mitos e verdades pessoais,
características e peculiaridades, construídas ao longo de nossas
vidas. Como nos vestimos ou como utilizamos as palavras, nossos
gestos, gostos e preferências, contam um pouco de nós, de nossa
cultura e de nossas crenças.
E qual o caminho par resolver essa dificuldade?
O caminho mais eficaz é o desenvolvimento de sua auto-estima e o
fortalecimento de sua segurança interna, buscando identificar e
desatar os mitos pessoais que interferem negativamente em sua
autopercepção.
Este é um caminho de autoconhecimento e pode ser feito através da
psicoterapia. Neste processo você terá um espaço protegido para
cuidar dessas e de outras questões de ordem emocional que muitas
vezes atravancam sua vida, trazendo sofrimento e impedindo seu
desenvolvimento pessoal.
Da mesma forma que procuramos um especialista para tratarmos das
dores do corpo, muitas vezes precisamos de um especialista para
tratar das dores emocionais, ajudando a tornar nossa vida mais
prazerosa e feliz.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br