A prática da humildade realmente te
fragiliza?
Por Rosemeire Zago
06/03/2010
Por que é tão difícil encontrarmos pessoas que tenham a humildade em
suas características? O orgulho, a vaidade, o poder, a soberania e a
arrogância parecem sempre se sobrepor nas relações humanas. Algumas
pessoas consideram a humildade como um ser menos digno, com menos
potencial, menos capaz. Quanta ignorância! E assim querem ser tudo,
menos humildes. Pisam nos outros, como se estivessem lidando com
seres isentos de qualquer sentimento.
Na verdade, tratam aos outros dessa maneira, pois não consideram os
próprios sentimentos, pois ter sentimento pode representar ser
fraco. Não respeitam nada nem ninguém, pois também não se respeitam.
Apenas estendem aos outros a maneira como foram tratadas na maior
partes de suas vidas e como ainda se tratam. No fundo, sentem que
não são merecedores de amor e assim se tornam incapazes de amar,
tornando as relações com quem se envolvem como grande fonte de
sofrimento.
A pessoa arrogante, orgulhosa, não conquistou a humildade, pois não
sabe apreciar e valorizar a simplicidade. Tem sempre que demonstrar
seu ar de superioridade, nem que para isso seja preciso menosprezar
quem está ao seu lado, pois acredita ser esse o caminho que irá
garantir ser reconhecido. Ao desprezar o outro, com tudo que ele faz
e demonstra, o faz acreditar ser que é melhor, superior.
Claro que falar de humildade não torna ninguém humilde. Mas por que
é tão difícil praticar a humildade? Nossa sociedade ainda e,
infelizmente, associa humildade com inferioridade, fraqueza. Associa
ainda com submissão e pobreza. Quando na verdade está relacionada
com distinção, respeito, gentileza, sensibilidade, graciosidade,
simplicidade...
Características muito diferentes do que acreditam ser humilde.
Afinal, quem tem plena consciência do seu valor pessoal não precisa
se exaltar, se mostrar aos outros, nem se comparar, nem ser melhor.
Não sente necessidade de exibir sua capacidade, seu poder, se o
tiver, seu prestígio ou cultura, porque tem consciência de seus
valores internos. Não precisa diminuir o outro para que consiga se
elevar.
As pessoas humildes realçam e valorizam as "pequenas grandes"
conquistas do dia-a-dia em sua essência. Tratam as outras pessoas
como seres dignos de respeito, pois possuem a capacidade de se
colocarem nos lugar do outro em seu sofrimento.
E você, como se comporta perante o sofrimento de quem ama? Como
trata as pessoas que estão a sua volta? Como valiosos presentes em
sua vida ou como se estivessem sempre atrapalhando? Como enfrenta as
dificuldades que surgem em seu caminho? Como trata aqueles que por
vezes te machucam? Você trata com humildade, serenidade, confiando
em sua capacidade de superar e aprendendo com cada uma delas; ou
você julga e condena essas pessoas? Por que por vezes se torna tão
complicado ser flexível diante de alguns acontecimentos? Por que
tendemos a agir por impulsividade, sem pensar e sem analisarmos as
próprias atitudes, como se só o outro fosse errado? Por sermos
superiores? Sermos o certo? Quem nos garante que agimos da melhor
maneira? Será que somos honestos com o outro como gostaríamos que
fossem conosco?
Creio que seja preciso um tempo para refletir sobre essas questões e
conseguir responder essas perguntas.
Pode ser valioso também aprofundar essa análise em sua infância.
Conviveu com pessoas arrogantes, orgulhosas? A criança que convive
com o preconceito, incompreensão, críticas excessivas, pais
inseguros, inflexíveis, dominadores, pode ter dificuldade quando
adulto de desenvolver a humildade, pois para ser aprovada era
necessário muitas vezes ser igual, experimentando sempre uma
sensação de carência. Assim, se tornam pessoas orgulhosas, não de
quem são, mas de quem acreditam ser.
O orgulho, a arrogância, em geral, faz parte de pessoas com pouco
autoconhecimento. Por não se conhecerem precisam passar uma imagem
de pessoas seguras, exatamente ao contrário do que se sentem. Pisam
nos outros como sentem que foram pisadas durante parte de sua vida.
Estão sempre buscando corresponder às expectativas dos outros para
serem aceitas, ignorando os próprios sentimentos e quem são na
verdade.
Isso pode gerar um sentimento crônico de insatisfação, buscando
sempre ser admirada de alguma maneira. Acredita que o externo, com
seus aplausos e reconhecimento, através de sua vaidade extrema e
pela busca de status, poderão compensar a falta de contato com seu
mundo interior que sequer conhece.
Com isso, busca transmitir uma imagem idealizada de ser extremamente
importante, não se importando os meios pelo quais irá atingir essa
imagem. Mas será que vale mesmo a pena ser orgulhoso e arrogante?
Será que vale perder um amor por orgulho? É mais importante manter
sua imagem, do que ser humilde o suficiente para admitir seu erro e
pedir desculpas? Por que não ser mais amoroso consigo mesmo e aos
poucos perceber a riqueza que existe dentro de si? Por que não mudar
a maneira de tratar a si mesmo e estender aos outros? Por que não
perceber que o aplauso mais significativo com certeza sempre será o
seu? Pense sobre isso acima de tudo com muita humildade!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br