Provocando Mudanças no Clima e na Cultura Organizacional
Por Bruno Soalheiro
10/06/2008
Embora saibamos que gerar mudanças em uma organização é uma das
coisas mais difíceis de se conseguir, e que um simples texto jamais
poderia nos dar a dimensão exata dos enormes desafios deste
processo, gostaria de refletir com o leitor sobre um ponto
importante.
Muitas vezes os processos de mudança nas organizações não são bem
sucedidos porque, apesar de deixarem bem claras e comunicadas as
novas necessidades, os gestores nem sempre atentam para o fato de
que as pessoas são seres muito mais do que lógicos. São também seres
emocionais e comportamentais.
Transformar hábitos e desenvolver novos comportamentos é um trabalho
que deve levar em conta todo o campo perceptivo dos colaboradores,
buscando envolvê-los literalmente “de corpo e alma” nas
transformações que se busca implantar. E isto, logicamente requer
comprometimento e tempo.
Por vezes vemos ações destinadas a “abrir as pessoas” para mudanças,
que se baseiam em eventos pontuais e desconectados da realidade
cotidiana da organização. Organiza-se uma palestra, faz-se um
treinamento isolado, e se espera que isto surta efeito na qualidade
dos relacionamentos e na maneira como as pessoas encaram as
novidades. O que não acontece!
Todo processo de transformação que se pretenda realizar em uma
cultura organizacional, por menor que seja a empresa, deve
considerar não somente o aspecto lógico, mas também o emocional e
comportamental das pessoas, além de levar em conta o fato de que
este é um processo gradual e muitas vezes lento, que deve se basear
em ações constantes e bem “amarradas”, ao invés de eventos isolados,
por mais sensacionais que sejam.
De maneira simples, ao tentar provocar tais mudanças há dois
aspectos principais a serem considerados: O entender e o sentir.
O entender diz respeito à transmissão de conhecimento aos
colaboradores através de processos de treinamentos e/ou palestras
que ofereçam ferramentas e conceitos claros para enfrentar a
realidade de constante mudança atual, como noções de comunicação,
feedback, relacionamento interpessoal, negociação, ética e outros
mais.
O sentir, que é altamente importante e algumas vezes negligenciado,
diz respeito a gerar sensibilização e trabalhar o conteúdo emocional
das pessoas. Isto não se dá através da simples transmissão de
informações. É quase ingenuidade achar que, porque os funcionários
assistiram a uma palestra sobre: “Ética na vida e trabalho”, eles
vão mudar seu comportamento uns com os outros.
Transformações de fundo emocional e comportamental não podem ser bem
sucedidas apenas através da transmissão lógica de conhecimento.
Nestes casos é preciso tocar muito mais fundo, é preciso apelar para
o “sentir”.
As modernas técnicas de desenvolvimento de pessoas, baseadas no
conceito andragógico de aprendizagem, valorizam a vivência e o
lúdico como maneira de acessar o que há de mais profundo no ser
humano. Às pessoas não basta saber, elas precisam “experimentar
sensações” para que transformações de cunho relacional possam se
efetivar realmente.
Portanto, caso você note que, por mais que haja treinamentos em sua
empresa sobre assuntos que dizem respeito a relacionamento e
convivência, as pessoas parecem não mudar, pode ser que a parte
emocional do aprendizado esteja sendo pouco valorizada.
Lembre-se de que as pessoas costumam agir em diversas situações
baseadas em crenças e emoções, e não a partir da razão. Não basta
saber, é preciso sentir, experimentar, vivenciar!
Levando em conta estas duas dimensões (lógica e emocional) das
pessoas, certamente o gestor terá condições de conceber um programa
sólido de mudança que venha realmente a surtir efeitos na qualidade
do clima organizacional.
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.