A Psicanálise, a Medicina Psicossomática e o Coração
Por Dr. Wagner Paulon
20/04/2008
Toda moléstia é um problema de perturbação da psique e do soma;
assim, toda medicina é medicina psicossomática. De fato, quando isso
estiver perfeitamente compreendido não haverá mais a necessidade do
termo medicina psicossomática; ambas as partes do termo estarão
implícitas na palavra medicina.
Entretanto, a doença foi considerada por algumas décadas como devida
somente à patologia dos tecidos e somente há poucos anos que a
psicanálise psiquiatria e a neurologia, adquirindo maiores
conhecimentos sobre as neuroses, mostraram que a causa primária de
certos quadros mórbidos é antes psicopatologia que patologia dos
tecidos.
Portanto, a psicanálise e a medicina psicossomática no presente
momento abrangem, além das neuroses, uma extensão dos nossos
conhecimentos sobre neuroses à psicopatologia de outros estados
antes considerados como pertencentes ao domínio da medicina
puramente física.
A seguir serão feitas tentativas para demonstrar não tanto que o
problema médico é puramente funcional ou apenas físico, mas que os
fatores psicológicos e físicos estão ambos presentes e que a questão
se torna: quanto de um e de outro e qual a relação entre ambos.
A despeito da enorme incidência de doença cardiovascular, a maioria
dos pacientes que têm sintomas atribuídos à região do coração não
apresenta evidências de doença cardíaca orgânica. É fácil encontrar
o motivo.
Desde tempos imemoriais que o coração tem sido a tradicional sede
das emoções e atua, assim, como ponto focal para a angústia. Nenhum
outro órgão do corpo é usado tão freqüentemente de modo simbólico
para se referir ao amor e ao ódio, que, como assinalou W. C.
Menninger, nos levam a pensar na significação emocional das
perturbações que envolvem o coração. Como um símbolo do amor estamos
familiarizados com o uso do coração como um "representante do amor"
e a expressão coloquial de "coração quente", "amando com todo o meu
coração", "sentir de todo o coração". Falamos de "com alegria no
coração" e do coração "pulando de satisfação". Mas, falamos também
de estarmos com "coração triste" e "com peso no coração". Por
conseguinte, também falamos de "coração tímido" e de "coração
medroso"; ou pensamos no coração "disparando de medo", de "agitação
ou tremulação no coração". Ódio e hostilidade são expressos em
termos tais como "coração duro", "sem coração", de "sangue-frio" em
vez de "coração quente". À pessoa injuriada diz-se que sofre de "dor
no coração" ou que está com o "coração doente". Todas estas
expressões têm significação do ponto de vista da "linguagem dos
órgãos”.
Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista),
mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint
Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet)
USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista
por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.