Quais são suas reais necessidades?
Por Rosemeire Zago
02/12/2009


Quantas vezes temos necessidades físicas e emocionais e as negamos como se não as sentíssemos? Você pode até dizer que sabe quando está com fome e por isso come até mais do que gostaria. Mas quantas vezes você comeu mesmo sem fome, só para satisfazer uma necessidade que pensava ser fome? Você tem certeza que sua necessidade em alguns momentos é mesmo de comida? Quantas vezes comeu por raiva, ansiedade, nervoso, preocupação e só percebeu seus reais sentimentos depois que comeu? Não percebemos nossas necessidades na mesma proporção em que não percebemos nossos sentimentos, negamos até mesmo necessidades básicas.

Desde muito pequenos aprendemos a nos distanciar daquilo que sentimos e a priorizar as necessidades dos outros. Você nunca deixou o maior pedaço de bolo ou o maior bife para que seu marido ou sua filha comesse? Quantas vezes deixou de comprar um roupa para você, mas não deixou de comprar para seu filho? Você nunca poupou seu marido de ter que fazer o supermercado e, mesmo sobrecarregada e sem tempo, você conseguiu fazer as compras?

Como são divididas as tarefas da casa? Igualmente entre todos? Você tem o privilégio de chegar em casa depois de ter trabalhado dia todo e ir direto para o banho, sem ter nada para fazer? Ou ao chegar você coloca roupa na máquina de lavar, o feijão para cozinhar, enquanto isso, liga o computador, recebe e-mails, retorna alguns telefonemas pendentes, conversa com o filho, arruma a mesa para o jantar e depois disso tudo, seu marido chega e ao encontrar tudo praticamente em ordem, ele vai direto para o banho? Acontece assim em sua casa? E ao sair do banho, ele vai deitar só um pouquinho porque está muito cansado. E você, como se sente? O que faz com que a necessidade do outro se torne mais importante que a sua? Geralmente sequer percebemos que temos necessidades. Algumas vezes, não falamos o que sentimos para evitar uma briga e chegamos a ponto de negarmos para nós mesmos o que sentimos e, assim, vamos levando, como diz o ditado: empurrando com a barriga. Mas até quando podemos viver assim? Você já parou para pensar nas possíveis causas dessas atitudes? O que faz com que neguemos nossas próprias necessidades enquanto buscamos suprir de quem está a nossa volta?

Muitas vezes aprendemos a negar nossas necessidades, ainda muito pequenos. Um exemplo: um bebê chora porque está com fome, mas a mãe não o atende. Por outro lado, quando não chora, a mãe o alimenta, pois está na hora. Assim, aos poucos, o bebê conclui que ao expressar sua necessidade, não é ouvido, mas quando não o faz, recebe atenção. Outro exemplo: a criança ao chegar da escola triste porque brigou com um amiguinho, ouve a mãe dizer que isso não tem importância, porque briga de criança logo passa, que isso é bobagem. O que é bobagem, a tristeza da criança? E as infinitas vezes que essa mesma criança ouviu que criança não sabe o que fala, ou que só faz coisa errada? E aquela mãe que diz não é nada quando a criança pergunta por que ela está chorando? Alguém chora por não estar sentindo nada? É possível se sentir digno de confiança dessa mãe que nega o que está evidente? Como alguém pode crescer se sentindo importante e consciente de seu valor enquanto pessoa se tudo que faz ou sente é errado, ou se não lhe dizem a verdade?
À medida que essa criança cresce irá registrando em seu inconsciente que é melhor negar e não demonstrar o que sente, pois aprendeu que mesmo que demonstre suas necessidades, elas não serão atendidas. E você, quantas vezes teve alguém que realmente se importou com o que sentia, com seus medos, seus pesadelos, suas dúvidas, quando era criança? Quem o ouvia com atenção e o fazia se sentir compreendido e seguro?

Antigamente, raramente os sentimentos de uma criança eram ouvidos e respeitados, levando-nos muitas vezes à conclusão que para satisfazer nossas necessidades não devemos demonstrar que as temos. É assim que desde crianças aprendemos a negar nossas necessidades, sentimentos e supervalorizamos as necessidades de outras pessoas. Assim, passamos a dar ao outro aquilo que gostaríamos de receber.
Como esse processo todo acontece de forma inconsciente, raramente percebemos que fazemos isso e até damos justificativas quando fazemos por alguém o que sequer pensamos em fazer por nós mesmos. Nos preocupamos com todos, buscamos suprir as necessidades de todos, amenizamos o sofrimento de muitos, mas insistimos em negar o que está dentro de nós. Resultado: insatisfação, depressão, doenças. Até quando você irá agir como se não sentisse?
Enquanto você mesmo não respeitar o que sente, o que precisa, dificilmente as pessoas irão respeitá-lo. Procure se ouvir mais. Identifique o que precisa, suas necessidades em todos os aspectos, não apenas físico, mas também, e principalmente, suas necessidades emocionais.
Do que você mais sente falta neste momento? De um colo, um ombro amigo para chorar?

Fale isso para seu namorado, marido, esposa, amigo. Deixe-o saber o que quer, assim dará ao outro a chance de fazer um pouco mais por você. Continue fazendo com que as pessoas que estejam ao seu lado se sintam importantes por serem tratadas da forma especial com que você as trata, mas isso não requer que deixe de lado suas vontades, desejos, necessidades e sentimentos. Não espere alguém perceber suas necessidades para que elas sejam supridas. Sabe aquela atenção, amor, carinho e dedicação que você distribui entre aqueles que ama? Dê um pouco para si mesmo, sempre e incondicionalmente!

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior. Email: r.zago@uol.com.br