Qual é a sua missão no mundo?
Por Jerônimo Mendes
11/01/2009
É impossível acreditar que o ser humano seja fruto do acaso ou que
alguns nasceram para sofrer e outros para ser felizes. Esse
pensamento é típico da Idade Média, mais ou menos até o século XIV,
quando algumas seitas rebeldes e contrárias à posição da Igreja
Católica, começaram a quebrar a premissa bíblica do castigo
associado ao trabalho e, embora entendessem o trabalho como uma
tarefa “penosa e humilhante”, o mesmo devia ser procurado como
penitência para o “orgulho da carne”.
Durante o período do Renascimento, quando o homem deixou de ser um
animal teórico para se tornar um sujeito ativo, constituinte e
criador do mundo, as razões para trabalhar passaram a estar no
próprio trabalho e não fora dele, por gosto pessoal e afinidade.
Dessa forma, o trabalho já não recaía somente sobre os escravos e,
portanto, era uma questão de opção ou aceitação, ou até mesmo de
predestinação, também para os homens livres.
Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante, foi quem desassociou
esse conceito equivocado do trabalho ligado ao castigo, à tortura e
à predestinação do ser humano. Ele entendeu o trabalho como a base e
a chave da vida, portanto, a profissão passou a resultar de uma
vocação, sendo o trabalho o caminho religioso para a salvação.
Assim, o trabalho passou a ser entendido como uma virtude. Aliás,
segundo Max Weber, foi Lutero quem desenvolveu o conceito de vocação
- no sentido de uma tarefa de vida, de um campo definido a trabalhar
- ao longo da primeira década de sua atividade como reformador.
E o que tudo isso tem a ver com você? Há um bocado de gente que se
diz feliz fazendo coisas muito distantes da sua real natureza.
Pessoas que sorriem durante o dia e choram durante a noite ao
lembrar que, no dia seguinte, devem voltar a fazer algo detestável e
sem sentido, pessoas cuja segunda-feira é um martírio e sexta-feira
é pura alegria.
Durante minhas palestras costumo brincar que se alguém levanta na
segunda-feira pela manhã, indignado e já pensando na sexta,
possivelmente está no lugar errado. Alguns me olham desconfiados,
outros indignados, porém a maioria começa a refletir sobre a sua
real situação e volta para casa cabisbaixa, pensativa e disposta a
mudar essa realidade. O problema é que no dia seguinte você estará
no mesmo lugar, convivendo com as mesmas caras, o mesmo chefe e os
mesmos objetivos, a menos que você comece a reavaliar profundamente
suas habilidades, características e virtudes que o levarão a
produzir mudanças significativas no modo de pensar e agir. E isso
poderá ocorrer no mesmo local onde você se encontra, sem
necessariamente ter que mudar de emprego ou de profissão.
Gosto muito do Emerson, pensador americano e profundo conhecedor da
alma humana, quando diz: “Todo homem tem sua própria vocação. O
talento é a vocação. Há uma direção em que todo o espaço está aberto
para ele. Ele tem faculdades que silenciosamente o atraem naquela
direção em um esforço sem fim. Ele é como um navio em um rio;
obstáculos vêm em sua direção de todos os lados, exceto um; daquele
lado todos os obstáculos são retirados e ele desliza serenamente
sobre um canal que se aprofunda, até um mar sem limites.”
Talvez você esteja se perguntando, todos os dias, quando chega ao
local de trabalho ou depois de uma discussão acalorada com o chefe:
o que eu estou fazendo aqui? Se isto for verdade, comece a traçar um
plano definitivo para sair do marasmo e dar uma guinada importante
na vida, aquela que vai lhe proporcionar uma existência digna, rica
e em consonância com os seus valores e virtudes.
Qual é o meu lugar no mundo? Faço essa pergunta todos os dias,
quando levanto e quando me deito, para não perder de vista a minha
missão de “semear conhecimento e gerar prosperidade para o maior
número de pessoas possível, por meio de bons exemplos, disciplina,
otimismo e consideração pelo próximo.”
Se você ainda não encontrou a verdadeira vocação, não se desespere,
continue perseguindo a felicidade nas pequenas coisas e lute o tempo
todo contra aquela voz interior pessimista que tenta dizimar suas
esperanças de encontrar a profissão ideal e fazer do mundo um
ambiente melhor.
As palavras de Robert Wong, autor de O Sucesso está no Equilíbrio,
são muito apropriadas nesse sentido: todas as pessoas começam com um
emprego, depois adotam uma profissão, em seguida perseguem uma
carreira, com o tempo encontram a verdadeira vocação e, por fim,
assumem uma missão definitiva que os levará a uma vida plena de
realizações. Encontrar a missão é uma seqüência de perdas e ganhos,
erros e acertos, um processo de aprendizado constante.
Você possui características singulares e virtudes que outras pessoas
nem imaginam, cada qual com seu talento ou uma habilidade
inconfundível. E, além do mais, existe um mundo aberto a qualquer
iniciativa que agregue valor à vida das pessoas, não importa se você
é médico, professor, advogado, enfermeiro ou gari. O importante é
que você acrescente amor, paixão e determinação em todas as suas
ações.
Como lembra Joseph Campbell, autor de O Poder do Mito: “A vida é uma
grande escada corporativa. Depressão é quando você chega ao final e
descobre que ela está encostada na parede errada.” Depois de 70 ou
80 anos mal vividos, sobra pouco tempo para o arrependimento e não é
fácil dar a volta por cima. O que você vai fazer com essa idade, ao
olhar para trás e pensar que a vida poderia ter sido diferente?
Suicidar-se? Portanto, sempre é tempo de retomar o caminho e
cultivar exemplos que deixarão seus filhos orgulhosos e
comprometidos com o bem-estar da humanidade. O que você vai ser
quando você crescer? Como você gostaria de ser lembrado daqui a 30
ou 40 anos?
Seja íntegro, disciplinado, cultive o dom do relacionamento
saudável, comprometa-se a crescer e aprender todos os dias da sua
vida e, mais importante ainda, não perca de vista seus objetivos.
Pense nisso e seja feliz!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas
(Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE