Relações Interpessoais e Respeito no Trabalho
Por Marcus Facciollo
18/11/2009
Seja no trabalho, na escola, na família ou num grupo de amigos, as
relações interpessoais têm muito em comum, já que acontecem entre
pessoas, e pessoas têm características, emoções e atitudes
semelhantes onde quer que estejam. Mas, claro, dependendo do tipo de
grupo social no qual se encontram, há aspectos diferenciados nas
relações. No grupo social do ambiente profissional não se age
exatamente como no grupo social familiar, e por aí vai.
A grande maioria das pessoas, depois de certa idade, variável, passa
a integrar o mercado de trabalho, inserida num grupo de pessoas que
estão lá para a mesma coisa que ela: trabalhar. Trabalhar para obter
seu sustento financeiro, construir uma carreira, pôr em prática seu
conhecimento acadêmico, diferentes motivos que existem isolados ou
concomitantemente. Uma grande maioria trabalha principalmente porque
precisa do dinheiro obtido com sua atuação profissional para custear
sua vida, de sua família. Para poder comprar bens duráveis e não
duráveis, pagar as contas do mês, custear um curso, etc.
Sendo assim, em princípio, o ambiente de trabalho seria um ambiente
no qual as pessoas estão para desempenhar suas funções profissionais
e receber um salário por isso. As relações entre elas, nesse local,
seriam primeira e idealmente profissionais, acontecendo de forma
harmônica para que todas as funções se complementassem e isso
levasse a um objetivo maior, que visa à boa realização das tarefas
da empresa onde trabalham. Sim, há quem seja autônomo e trabalhe
sozinho, em casa, num consultório, escritório, mas o exemplo a que
me aterei aqui é mais o de pessoas que trabalham num ambiente de
empresa, onde há mais relações entre profissionais. E, sendo esses
profissionais seres humanos, as relações naturalmente não se limitam
ao aspecto profissional, como acabei de descrever. Acontecem
relações interpessoais que envolvem aspectos que não necessariamente
são os básicos de uma convivência empresarial; claro, não somos
robôs nem engrenagens numa máquina que trabalham em harmonia só para
produzir bem. Criamos amizades, inimizades, afetos e desafetos no
ambiente de trabalho, entram em cena egos, solidariedade, inveja,
amizade, o melhor e o pior do ser humano. Inevitável, já que somos
gente que tem sentimentos e individualidades.
Só que esses nossos sentimentos e personalidades, no convívio do dia
a dia do trabalho, necessariamente não têm de ser expostos e
vivenciados da mesma forma que num grupo de amigos, mesmo que
trabalhemos com amigos. O grande lance é saber que no trabalho
precisamos ter um tato, uma sensibilidade maior para perceber que há
fatores diferenciais envolvidos, próprios desse tipo de relação. Há
interesses econômicos, de carreira, de autoridade, que podem não
existir em outros grupos sociais. Não é de bom tom que no serviço
nos expressemos como se estivéssemos com a família em casa, por
exemplo, sem uma maior preocupação no uso das palavras. Falar com um
superior como se estivesse falando com a mulher ou com o filho
provavelmente não surtirá um efeito muito bom, esteja você falando
de forma carinhosa ou sobre qualquer problema. Usar o bom-senso e
lembrar que ali você é um profissional falando com outro é vital
para que o relacionamento entre vocês continue da melhor forma
possível. Isso não significa deixar de ser quem é, ser falso, mas
sim ser inteligente, sabendo que deve exercer sua autenticidade de
modos diferentes em ambientes com características diversas.
Um aspecto que deve permear as relações humanas, não só no trabalho,
deve ser o respeito. Pensando no ambiente profissional, o respeito é
fator fundamental para que as relações entre as pessoas existam de
maneira positiva. Não precisamos ser amigos de todos que trabalham
conosco, mas precisamos respeitá-los e por eles ser respeitados,
sejam subordinados ou superiores. Todo ser humano merece respeito.
Seja nas brincadeiras, seja no convívio diário, seja num momento de
algum tipo de conflito, perder o respeito pelo outro nesse tipo de
meio põe em risco muita coisa: o bom ambiente, a carreira, o
emprego... Tem-se muito a perder com a falta de respeito e polidez
no serviço. Uma grosseria ou brincadeira inoportuna pode marcá-lo
para sempre naquele ambiente.
Espera-se que os membros de uma equipe estejam sempre motivados e
pensando no objetivo maior da empresa, em seu sucesso no mercado. Só
que, para isso, não só um bom salário é o fato principal. Uma pessoa
que trabalha num ambiente no qual não é respeitada provavelmente
perderá a motivação e sua satisfação e motivação de ficar ali
cairão, caindo também seu rendimento. Além disso, o reconhecimento
profissional positivo é muito importante, pois faz com que o
profissional se sinta notado, valorizado. Dizer que trabalhar bem é
a obrigação e não se deve cumprimentar ninguém por isso é um
pensamento antigo, pouco produtivo e humano. Sim, se o indivíduo não
exerce sua função bem, pode-se pensar em substituí-lo por quem o
faça melhor, mas, primeiro, deve-se refletir por que essa pessoa não
está desempenhando suas funções a contento. Será falta de preparo,
de treinamento, de um ambiente motivador, é má vontade da pessoa,
imaturidade? Demitir alguém por ele trabalhar mal sem uma análise
geral da situação nem sempre resolve os problemas. A menos que essa
pessoa se mostre completamente despreparada, é válido refletir por
que ela não está bem em sua função. Se é completamente despreparada
mesmo, como foi contratada? Isso não foi notado por quem a
contratou, e não será(ão) essa(s) pessoa(s) também despreparada(s)
para contratar funcionários? Não valeria a pena treinar mais a
pessoa que não está realizando bem seu serviço?
O reconhecimento profissional vem em forma de feedbacks positivos,
menções, promoções, aumentos salariais, de uma forma ou de várias
juntas. Vem com o respeito à opinião e argumentos da pessoa,
confiança, respeito a seu espaço e jeito de ser e agir. Tudo o que
as empresas e profissionais deveriam saber, mas ainda muitas vezes
ignoram totalmente. Por mais que se fale em desenvolvimento humano,
motivação profissional, que existam palestras, cursos nesse sentido,
o que se vê muito na realidade é que isso não é aplicado.
Profissionais continuam sendo desrespeitados em seus ambientes de
trabalho. Seja por que eles próprios agiram de maneira a se
prejudicar, agindo de maneira inadequada e conquistando antipatias,
construindo uma imagem negativa, ou porque as outras pessoas não têm
sensibilidade e preparo suficientes para se relacionar positivamente
com os demais membros da equipe.
Observemos, então, o profissional que se prejudica no ambiente
profissional. Ele próprio cria um ambiente negativo à sua volta, com
colegas, subordinados e superiores. Como já dito, não se pode falar
com os outros no ambiente de trabalho como se estivesse em casa. As
pessoas ali, em geral, não têm um histórico de vida, um envolvimento
afetivo como seus familiares têm com você e nem sempre estão
dispostos a entender e a passar uma borracha sobre os deslizes reais
ou imaginários que se possa cometer. Sim, porque é comum algo ser
mal entendido por alguém e aí gera-se uma antipatia difícil de
anular posteriormente. Precisamos ter sempre em mente que no
trabalho precisamos ter educação, respeito pelo outro, falar de
maneira clara e polida, observando diferenças e hierarquias, sempre
com cortesia, mas nunca esquecendo que seu superior tem autoridade
para lhe delegar tarefas e que seu subordinado ou pessoa em posição
abaixo da sua não é uma pessoa inferior no aspecto humano por causa
disso. Pode-se falar uma série de coisas, desde uma advertência, um
pedido de ajuda, uma reclamação, até um elogio ou uma brincadeira,
mas sempre com respeito, profissionalismo e bom-senso. Observe o
ambiente a seu redor, as pessoas que estão nele. Procure entender as
mensagens que passam com suas atitudes e jeito de ser. Isso é a
melhor forma de aprender a como agir e se comunicar com elas.
Podemos nós mesmos fazer com que se perca o respeito para conosco se
agirmos mal. Se seu emprego lhe interessa, seja porque no momento
precisa dele ou porque realmente o aprecia, ou as duas coisas, aja
de maneira correta nele. Se está cansado dele, procure meios de
conseguir um novo trabalho, mas sem criar um clima ruim no seu
atual, isso pode prejudicá-lo por muito tempo, até mesmo em novos
empregos. Os profissionais se comunicam, uma má fama extrapola
muitas vezes o ambiente de uma empresa. Se errou, procure não
cometer de novo o mesmo erro. Ganha quem constrói relações positivas
no local de trabalho, em qualidade de ambiente, motivação,
desempenho. Relacionamentos positivos hoje podem gerar muitas
possibilidades boas no futuro. Uma boa rede de contatos
profissionais é importante na hora de procurar um emprego; por
exemplo: um ex-colega de trabalho pode dar indicações importantes.
Entendamos que para isso não é necessário ser falso, "puxa-saco",
político ao extremo. Ser político no trabalho deve(ria) ser
entendido como ser equilibrado, polido, relacionar-se bem com
diferentes pessoas. Não precisa ser amigo de quem não quer, é só ser
profissional e respeitoso; demonstrar iniciativa e boa vontade na
realização de seu serviço (desde que isso seja minimamente
verdadeiro) gera uma percepção de que é um profissional interessado
e positivo, mostra suas qualificações, conhecimentos. E isso dá um
retorno bom. Se não é possível, se não tem como ser motivado no
ambiente em que está, analise o que acontece. É algo seu ou do
ambiente, mesmo? Se for algo de sua parte, tem como corrigir? Vale a
pena? Se é do ambiente, é válido insistir e permanecer nele?
Sim, muitas vezes o problema está no ambiente. Seja por causa do
desrespeito entre as pessoas, seja por causa das condições precárias
de trabalho, isso tudo pode gerar uma situação extremamente
negativa. Um colega que sabota seu trabalho, um superior
despreparado que o trata de forma pouco adequada, real falta de
identificação com a equipe. São muitas as hipóteses. O que
precisamos ter sempre em mente é que trabalho nenhum vale mais que
nosso bem-estar. Um trabalho que exige sua presença além do que
gostaria e seria racional, ou uma equipe de pessoas que não consegue
trabalhar em concordância de forma alguma... Tentemos entender a
situação e ver se podemos mudá-la por nós mesmos. Há alguém com quem
falar sobre o que acontece que poderá efetivamente fazer algo para
melhorar a situação? Se sim, ótimo, demos essa oportunidade e
façamos nossa parte. Não há como mudar as coisas? Há como a gente se
adaptar à situação, encará-la? Vale a pena? Muitas vezes, pensamos
que precisamos de qualquer jeito suportar uma situação que nos
agride, porque precisamos daquele emprego ou porque ali
construiremos uma brilhante carreira. Só que, se a situação não tem
possibilidade de mudar para melhor, não adianta. Que custo isso terá
para nós, ficar naquele ambiente? Stress, insatisfação,
desmotivação, desrespeito? Desrespeito para com nós mesmos, que
permanecemos num meio hostil. Será que não há possibilidade de
procurar outra coisa, mesmo permanecendo nesse ambiente enquanto não
aparece algo melhor? Será esse emprego o último da face da Terra?
Sempre há uma saída, mesmo que pensemos que não no momento. É
questão e refletir e tentar achar alternativas, sozinho ou com ajuda
de alguém. O que não se pode é permanecer indefinidamente num meio
que o incomoda além do que pode ser tolerável, isso variando de
pessoa para pessoa. Não há emprego perfeito, só com aspectos bons.
Natural. Mas, quando os aspectos ruins se mostram em maior número e
mais significativos que os bons, é importante repensar-se nesse
emprego.
A saúde física e mental de ninguém vale menos do que um trabalho.
Quem pensa diferente, que colha as consequências negativas no
futuro. Se um colega seu está satisfeito com as condições da empresa
e você não, que bom para ele. Vocês são pessoas diferentes, o que é
bom para ele não precisa ser para você. Insistir num ambiente que o
estressa traz uma série de malefícios à sua qualidade de vida e a
seu próprio desempenho profissional. Você reflete se está agindo com
boa vontade e da melhor forma que poderia, sinceramente, insiste da
maneira que pode, tenta, mas será difícil manter um bom nível de
trabalho; mesmo que consiga, estará motivado, feliz? Provavelmente,
não. Isso transparece para os outros e pode causar sua demissão,
principalmente se estiver num meio em que a cobrança por motivação e
satisfação a qualquer custo for muito grande. Você se desrespeita e
fica exausto para permanecer no ambiente, insatisfeito, e acaba
perdendo o emprego pelo qual lutava erroneamente para manter. Teria
sido melhor ter procurado outro antes que isso acontecesse, já que
não estava mais satisfeito. Muitas vezes pior ainda quando não é
demitido, fica anos num meio que o faz mal de muitas maneiras.
O que proponho que se faça é uma reflexão sobre a importância do
respeito para conosco e para com os outros no ambiente de trabalho e
em suas relações nele. Se temos enfrentado problemas nesse sentido,
procuremos identificar suas causas e possíveis soluções. Passamos
tanto tempo de nossas vidas no ambiente de trabalho! É algo muito
importante para ser ruim ou insatisfatório, o que traz consequências
importantes para nós. Se não podemos mudar as relações entre as
pessoas como achamos que deveríamos, nem as relações
empregador-empregado, se a mentalidade das pessoas muitas vezes está
mais para o século XVIII do que para o que deveria ser do século
XXI, apesar de aparências de evolução e humanismo, podemos procurar
para cada um de nós caminhos profissionais melhores, mais adequados
a nossas características, necessidades e desejos. Sem faltar com o
merecido respeito para com os outros e para conosco. Com isso,
ganhamos não só profissionalmente, mas em qualidade de vida em
geral, que é o que realmente importa.
Marcus Vinícius P. Oliveira - Psicólogo organizacional, palestrante
e consultor de empresas. Autor do livro de bolso “O passo além da
competição”. Diretor da Liner Consultoria.