O Resgate da Memória Afetiva
Por Vanilde Gerolim Portillo
26/03/2006
A memória é formada pelas lembranças que estão na consciência. Nos
primeiros anos de vida não existe uma memória contínua, como também
não há uma consciência pronta, mas sim, pontos isolados. Podemos
dizer que existe consciência quando a criança se refere, a si mesma,
na primeira pessoa. Consequentemente, nesta fase, haverá uma
continuidade da memória.
Para a formação da memória, a atenção é fundamental. Esta, por sua
vez, pode ser mobilizada pelos afetos. Tendemos a prestar mais
atenção nas coisas de maior interesse. Os assuntos que nos trazem
prazer e satisfação são os que dispensaremos mais tempo em
conhecê-los e compreende-los. Assim os afetos estão na base da
formação da memória.
Nossos afetos vão se aglomerando em torno de um determinado núcleo
que trazemos conosco ao nascer, que são os arquétipos. Toda vez que
houver uma renovação da qualidade do afeto, através de nossas
experiências, mais carga será depositada ao redor deste núcleo
formando, desta maneira, os nossos complexos. Eles são os motores
que impulsionam nossas vidas.
Uma memória afetiva pode se desenvolver a partir de uma percepção
sensorial como um odor, um som, uma cor, desde que tal percepção
esteja ligada a um momento afetivo importante.
O resgate da memória afetiva é fundamental no nosso processo de
desenvolvimento psicológico, de autoconhecimento e desenvolvimento
pessoal. Quando resgatamos nossas memórias estamos trazendo com elas
a possibilidade de revisar, compreender e digerir determinadas
situações que podem estar bloqueando nosso ir em frente. Podemos
estar paralisados, sem perceber, em situações antigas que não foram
bem resolvidas e entendidas.
Ao acessarmos nossos registros pessoais antigos ou nem tanto antigos
temos a oportunidade de transformar idéias e pressupostos que hoje
podem estar contendo nosso desenvolvimento e nos deixando até mesmo
doentes. Podemos transformar atitudes negativas perante a vida em
outras mais positivas, facilitando o nosso crescimento. O resgate da
memória afetiva, quando bem orientada, trará a possibilidade de
ampliarmos nossa consciência na medida em que integramos qualidades
ao nosso mundo atual. Ampliar a consciência é aumentar a visão sobre
nós mesmos e sobre o mundo; é desatar os nós de energia que ficaram
presos em situações passadas que nos impedem de ver a vida com
verdadeiros olhos adultos; é aceitar o novo e o diferente; é
corrigir pressupostos que perderam a razão de ser e a capacidade de
nos orientar na vida adulta.
Quando trazemos à tona nossas memórias afetivas estamos elaborando e
compreendendo experiências carregadas de afetos do nosso passado e
que se depositaram, no fundo da alma, sendo dolorosas ou não fazem
parte da edificação do nosso ser.
Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
(11) 2979-3855