O seu Chamado interior, cenário ilustrativo
Por Silvia Malamud
29/01/2009
Claudio (nome fictício) é um poderoso executivo de uma multinacional
e tem uma família absolutamente perfeita nos moldes esperados pela
sociedade que compactua. Tem filhos em plena idade de crescimento e
noção das mazelas do mundo e da realidade social da qual fazem
parte. É casado com uma mulher bonita e inteligente que de modo
exímio o acompanha em todas as atividades necessárias.
Como inúmeros executivos deste porte, Claudio viaja constantemente a
trabalho deixando, com freqüência, esposa e filhos esperando pelo
seu retorno.
Toda essa vida agitada e correta acaba por incentivá-lo mais e mais
para que ele evolua e cresça nas áreas em que já está atuando sendo
que constantemente se vê abrindo novos horizontes para que
empreendimentos mais arrojados tomem posse de sua vida.
Este executivo, como tantos outros em posição dinâmica, esteve por
anos situado numa suposta categoria de rei de um universo pessoal
perfeitamente compreensível em pleno século XXI. Modelos como estes
estão em ascensão atualmente. Aqueles que não se encontram no topo
deste tipo de pirâmide buscam freneticamente estar, não importando
como.
Voltando ao caso de Claudio, tudo estava correto, impecável. O que
ele não contava, porém, é que repentinamente começaria a escutar uma
espécie de chamado interior. Este chamado já observado e estudado
por diversos estudiosos do ser humano que vem desde os
existencialistas aos filósofos e até aos mais espiritualistas,
começa através de certo desconforto, onde gradativamente todo o
sentido anterior de vida passa a ser questionado.
Este é o processo da individuação como Jung sabiamente precisou. O
processo pelo qual todo ser humano tem a oportunidade de transitar
durante a sua existência. É quando somos convocados a dar um salto
quântico para uma vida muito mais significativa e atraente do que
outrora. E isso ocorre por mais que as nossas vidas possam ser boas.
Independe de qualquer situação anterior
.
Acontece quando o si mesmo pede passagem para se expressar e ter
ciência de si. Acontece quando deixamos de lado as personalidades
que nos foram inseridas e entendidas como eficientes para que
transitássemos dentro do contexto que nascemos. Esta é a fase de
transição, onde temos a chance de separar definitivamente o joio do
trigo, ou seja, o que nos serve e o que a partir de agora deixa de
nos fazer sentido.
No caso deste executivo, como exemplo de muitos que estão por aí
totalmente automatizados, o incômodo sentimento o impulsionou para
que de algum modo pudesse sentir a vida realmente correndo em suas
veias. Por não saber como sair desta angústia silenciosa, começou a
achar tudo à sua volta enfadonho, monótono. Sua esposa não mais o
encantava tanto, seus amigos falavam demais...
Começou por se interessar por outras mulheres, buscou novos amigos
e, mesmo assim, o vazio e a falta de sentido na vida ainda o
assolavam. Claudio não era do tipo que cai facilmente em depressão.
É reativo e nunca foi dado a pensar mais profundamente sobre si
mesmo. Por essa mesma razão, todas essas questões -além da falta de
solução- o deixavam cada vez mais confuso e irritadiço, por vezes
apático. Seu mundo interior estava em plena revolução, num caos que
ele próprio não compreendia.
Num dado momento, quando não agüentava mais as suas insatisfações,
foi buscar ajuda de um amigo; não satisfeito, recorreu à sua crença
religiosa, mas absolutamente nada afastava seus sentimentos de vazio
existencial e de falta de significados.
Por fora, buscava viver uma vida como antes, mas por dentro havia
uma revolução!
Um amigo mais sensível, percebendo suas inconstâncias, sugeriu que
ele procurasse auxilio terapêutico ou mesmo que parasse com a sua
aceleração e tivesse a coragem de se comprometer com o que de fato
fazia sentido para si mesmo.
No princípio, Claudio hesitou negando toda aquela estória maluca que
o amigo dizia. Durante a conversa, porém, por alguns infindáveis
instantes, sua vida pareceu ser apenas e tão somente um filme rodado
sem o menor significado... No final daquela conversa, pela primeira
vez na vida, sentiu uma espécie de pânico. – Teve medo de morrer sem
ter nascido.
A partir deste encontro marcante com seu amigo, pouco a pouco passou
a redefinir a sua existência. Com o passar do tempo, sua vida foi
gradativamente se transformando. Claudio chegou até a mudar a forma
de se vestir. Foi ficando mais leve, mais jovem, porém mais maduro.
Em momentos de angústia e de aumento máximo deste sentimento de
vazio deste período de transformação, agora acolhidos por ele mesmo,
iniciou um processo terapêutico e no final deste ciclo memorável de
grandes mutações, acabou se dando muitíssimo bem.
Claudio não precisou mudar de profissão, largar a esposa, etc.
Apenas conquistou um outro olhar e sensibilidade para tudo o que
existe. Muitas coisas tiveram que se transformar dentro e fora dele,
mas outras continuaram as mesmas, porém infinitamente mais vívidas.
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado. Autora do Livro: Projeto
Secreto Universos. Email: silvimak@gmail.com