A Síndrome de Gabriela
Por Rogerio Martins
01/04/2008
Certamente quem já passou dos 40 lembra da novela Gabriela, Cravo e
Canela. Mais precisamente da protagonista: Sônia Braga. No auge da
beleza ela dava vida ao personagem desejado pelos homens e invejado
pelas mulheres: Gabriela. Mas o que tem a ver novela com o mundo
corporativo? A novela em si quase nada, mas a música tema da trama
brilhantemente escrita por Jorge Amado tem sim tudo a ver. Os versos
cantados por Maria Bethânia traziam um tom brejeiro para o
personagem e dizia assim: “eu nasci assim, eu cresci assim, e sou
mesmo assim, vou ser sempre assim... Gabriela... sempre Gabriela”.
A partir destes versos eu afirmo: tem muita gente com síndrome de
Gabriela! Quantas pessoas você conhece que repetem o discurso: eu
nasci assim, e sou mesmo assim e não mudo, não mudo e não mudo!
Tenho certeza que já se deparou com diversos colegas que falam,
pensam e agem desta forma.
O fato é que com tantas mudanças ocorrendo no mundo afora ainda tem
gente que insiste em querer fazer tudo igual, sem chance de abrir
uma possibilidade para o novo. Pior é quem acredita que essa postura
retrógrada é boa para si e para a empresa. A única certeza que temos
é que tudo mudará! Para uma empresa crescer é necessário passar por
mudanças. Para um profissional ascender na carreira também. Claro
que nem toda mudança é positiva, mas quanto mais resistimos ao
inevitável, mais sofremos. Por isso, é preciso aprender sobre elas e
com elas.
Realmente não é fácil lidar com as mudanças. Existem muitos fatores
que levam as pessoas a lidar de forma negativa com as mudanças.
Entre eles destaco três: a homeostase, o interesse pessoal e o
pensamento de curto prazo. Existe uma velha frase no meio esportivo
que reforça a idéia de homeostase: em time que está ganhando não se
mexe. É aquela pessoa que quando sai de férias viaja sempre para o
mesmo lugar e faz tudo sempre igual. Seguramente está perdendo a
oportunidade de aprender com o novo e de descobrir outras
possibilidades.
Há pessoas que simplesmente não mudam por puro interesse pessoal.
Infelizmente vemos diversos casos assim na política nacional, nas
entidades de classe, em cargos de comando nas empresas e em outros
ambientes onde estas pessoas se beneficiam de alguma forma com esta
estagnação. O pensamento de curto prazo normalmente acomete as
pessoas por falta de hábito em planejar. Enquanto há aqueles que
vivem planejando e raramente fazem alguma coisa, há também outros
que não pensam no futuro. Somente vivem suas vidas como aquela outra
música do Zeca Pagodinho e que chamo de hino da inoperância : “deixa
a vida me levar, vida leva eu...” Como tem gente nas empresas agindo
assim e se sentindo o máximo.
O resultado de tudo isso é o medo! Basicamente as pessoas têm medo
das mudanças por causa do medo. O medo nosso de cada dia: o medo de
dar errado, o medo de não conseguir, o medo de se frustrar, o medo
de arriscar, o medo do ridículo, o medo de não ser aceito, o medo de
sentir medo.
Diante de tudo isso, será que é possível lidar bem com as mudanças?
Claro que sim, mas para isso é preciso criar um ambiente corporativo
favorável e que passa por alguns aspectos: melhorar a comunicação
entre todos os níveis; fortalecer o pensamento estratégico e de
longo prazo a todos os funcionários; preparar mais e melhor as
lideranças; gerar oportunidades para que as pessoas tentem e
participem sem o medo de punição; e fundamentalmente difundir o
conhecimento, os planos de futuro e as expectativas do presente. Com
estas ações é possível criar um clima interno de motivação para a
mudança.
Outro fato é que a mudança está cada vez mais acelerada. Com os
avanços tecnológicos e das comunicações o mundo se torna
constantemente mais veloz. Também temos o fator densidade
populacional. Há mais pessoas no mundo o que aumenta a concorrência.
Para se destacar em meio à multidão é preciso uma excelente
capacidade de adaptação. As teorias de Charles Darwin também podem
servir para o mundo corporativo. Ou seja, hoje em dia e no futuro
sobreviverão aqueles que forem mais ágeis, mais rápidos, mais
dinâmicos e assertivos. Portanto, fique alerta para perceber se você
também não pegou o vírus da síndrome de Gabriela. O primeiro sintoma
é começar a achar que tudo está bom do jeito que está!
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
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