Síndrome do eu também quero
Por Rogerio Martins
22/11/2007
Anos atrás conversava com uma consultora amiga sobre a mania que
algumas pessoas tinham de pedir as coisas nos grupos de discussão
pela internet. Na época participávamos de alguns grupos de discussão
e era comum mensagens do tipo: “Alguém tem um formulário para
entrevista?”, ou “Amanhã vou dar um treinamento e preciso urgente de
uma dinâmica para desenvolver aspectos de liderança”, ou ainda
“Preciso de um texto que trate de comportamento no trabalho, mas
nada muito teórico,,,”. De certo que estas pessoas não cresceram em
suas carreiras profissionais. Afinal, aqueles que só copiam, sugam
ou simplesmente imitam o trabalho dos outros não tem futuro em um
mercado cada vez mais competitivo e que busca diferenciais.
Recentemente visitando algumas comunidades no orkut, pois não
participo mais daqueles grupos de discussão pelas razões acima
apresentadas, percebi a mesma situação. E pior: desenvolveu-se a
síndrome do eu também quero. Não bastasse o bando de chupins
pedindo, pedindo, pedindo, agora têm em maior número aqueles que
simplesmente vão na cola e escrevem: “eu também quero!”. O que será
que está havendo? Será que estamos vivendo uma era de pura
ignorância produtiva? Será que ler num livro o assunto que necessita
ou pesquisar o material é muito para uma cabeça limitada? Talvez
seja isso, mas o que mais incomoda é que não há troca. Não há debate
de idéias, troca de informações. Como meio de disseminação de
cultura e informação a internet é fantástica, mas seu uso está aquém
de suas possibilidades.
Analisando estas comunidades do orkut vi que os comentários onde
alguém abre uma discussão ou debate chega a ter três a seis
respostas. Isso com uma análise otimista. Enquanto isso, naqueles
onde alguém escreve que está oferecendo um e-book ou vídeo de
treinamento, certamente pirateados, há mais de cinqüenta respostas
com a famigerada frase: “eu também quero”. Acredito que o velho
guerreiro Chacrinha estava certo: “aqui nada se cria, tudo se
copia”.
Já tive artigo clonado, copiado, inserido em sites e revistas sem
autorização. Tudo isso faz parte do mundo moderno, não que eu ache
certo. O fato é que uma grande parcela das pessoas que circulam pela
internet tem assumido uma postura passiva de criação. Preferem
copiar, clonar, “chupar” e distribuir aleatoriamente, algumas vezes
autointitulando-se autoras da obra. É um crime!
Muitas universidades e faculdades vêm desenvolvendo em seus quadros
de alunos um número maior destes aprendizes de clonagem do
conhecimento. A direção e os professores tem sido coniventes na
“deformação” destes alunos. Cada vez mais vemos surgir instituições
que valorizam quanto seus alunos poderão produzir de dinheiro para a
própria instituição, ao invés de pesquisa, artigos ou pensamento
acadêmico. Óbvio que temos fantásticas instituições de ensino, onde
se estimula a produção científica e o pensamento analítico, mas o
crescimento destes estabelecimentos focados no retorno financeiro é
preocupante.
Com tudo isso, estamos criando uma nova cultura, típica de países
subdesenvolvidos, a cultura da cópia. Quantos ganhadores de prêmio
Nobel temos na história de nosso país? Agora, quantos “hackers de
sucesso” temos em nosso país? Essa conta está semelhante à
desigualdade sócio-econômica do Brasil. Se continuarmos nesta toada
seremos eternamente o país do futuro e nunca do presente. Estaremos
constantemente “correndo atrás do prejuízo”, invés de criarmos o
próprio lucro.
Para mudar é preciso começar com uma atitude pessoal. Sair da
acomodação natural de quem se acostumou a pedir tudo. É preciso
fugir da tentação da “coisa fácil”. Não é das tarefas mais fáceis,
pois toda mudança implica em perdas e ganhos. Talvez a sensação de
perda seja maior no início, mas com o tempo todos ganham. A medida
que somos agentes ativos do conhecimento nos tornamos independentes,
nos tornamos fortes, nos tornamos ricos. Vale a pena tentar!
Importante ressaltar que sou a favor da disseminação do
conhecimento, mas contra a síndrome do eu também quero. Trocar,
debater e compartilhar é fundamental para nosso desenvolvimento
pessoal, profissional e cultural. Mas, simplesmente, copiar, clonar
e piratear só nos faz estagnar e até regredir como pessoas e
sociedade.
Ah, se for utilizar este artigo informe a fonte e repasse essa
idéia.
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
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