Socorro! Onde eu guardo tudo isso?
Irlei Wiesel
02/09/2008

A palavra que está atualmente em maior evidência é: consumir. Todas as faixas etárias e sociais estão engajadas para fazer circular, no planeta terra, tudo o que for produzido pelos seus habitantes.

O engraçado é que, entre os inúmeros produtos consumidos, há os que não têm o menor fundamento. Mesmo assim, exercem um verdadeiro fascínio sobre determinadas pessoas.

A febre de consumo é tamanha que pode ser considerada uma epidemia. O planeta Terra sofre uma invasão consumista.

O que preocupa não é a circulação do dinheiro, reflexo direto do consumo, mas sim, a grande mentira que está por trás do ato de consumir. Essa mentira está se tornando uma perigosa verdade universal.

O que acontece é que as pessoas acreditam que consumir diminui a incidência de solidão, tristeza, insegurança, medo, desilusão, além de outras dores que residem no fundo da alma humana.

Assim, inúmeras são as bactérias que estão dando altas risadas, enquanto se propagam, causando estragos na estrutura emocional e psicológica de infindáveis criaturas. O slogan que está vigorando parece ser:
Se o sintoma persistir, a loja mais próxima deverá ser consultada.
Ver o mundo como um grande shopping a céu aberto, faz-me lembrar, na verdade, de um imenso hospital psiquiátrico.

Claro que, guardadas as devidas proporções. No entanto, imagine só:
Ao invés de pacientes serem atendidos por enfermeiros vestidos de jaleco branco, entram, em cena, vendedores com o uniforme de uma empresa.

Ao invés de médicos simpáticos e atenciosos, entram em cena gerentes, extremamente treinados, para persuadir o cliente enfermo a realizar a compra do ano.

Ao invés de o receituário médico prescrever medicação contra depressão, ansiedade, tristeza, entram, em cena, coloridas cápsulas em forma de carros, roupas, enlatados, celulares, computadores, etc..

Ao invés de quartos de hospital confortáveis, para repouso e recuperação de uma enfermidade, entram, em cena, imensas telas de plasma que sugerem noites de insônia e fuga para o mundo de histórias irreais. Atores servindo de sedativos.

Ao invés de leituras instrutivas, capazes de fazer o paciente transcender em conhecimento e evolução, entra, em cena, o apelo colorido da internet. É como se profissionais da saúde, do grande hospital da vida, transitassem pelo complexo hospitalar completamente mudos. Afinal, os inúmeros doentes, mascarados de consumidores, necessitam manter-se alerta para os grandes lançamentos da indústria do consumo.

Ficar de fora dos lançamentos mundiais é, para muitos, inaceitável.
Por esse motivo, a grande maioria da população vive cada dia não como se fosse o último dia do ano, mas como se fosse o último dia para o consumo. Isso significa que muitos iniciam a semana, na segunda-feira, cansados de tanto comprarem no final de semana.

Introspecção? Por quê? Para quê?


Irlei Wiesel é Psicoterapeuta, Escritora.
E-mail: ilhw@terra.com.br
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