Sombra
Por Vanilde Gerolim Portillo
15/02/2007
A sombra apresenta-se, conforme C. G. Jung, como o mais poderoso de
todos os arquétipos, já que é a fonte de tudo o que existe de melhor
e de pior no ser humano. Como todo e qualquer elemento psíquico, a
sombra possui aspectos positivos e negativos para o desenvolvimento
da personalidade.
Enquanto a anima ou animus, projeta-se no sexo oposto, determinando
a qualidade das relações entre os sexos, a sombra influirá nas
relações com pessoas do mesmo sexo.
Se a persona é desenvolvida com o objetivo de facilitar a
convivência do homem na sociedade onde vive, onde, então, se
apresentarão aqueles conteúdos não compatíveis com esta adaptação? A
sombra é o arquétipo receptáculo dos aspectos que foram suprimidos
no desenvolvimento da persona, e mais que isto, ela contém conteúdos
que nem chegaram a passar pelo crivo do consciente. Estes conteúdos
podem, potencialmente, emergir a qualquer momento na consciência, se
considerados do ponto de vista energético.
Quanto mais unilateral se torna o consciente; tanto mais a persona é
banhada de purpurina e mais acentuados são os elementos que compõem
a sombra. Importante salientar, no entanto, que a sombra não é o
lado oposto da consciência, mas representa o que falta a cada
personalidade consciente.
Um dos maiores trabalhos no processo de individuação, que consiste
no desenvolvimento da personalidade total, é sem dúvida a integração
da sombra na consciência. Uma vez reconhecida, a sombra, como parte
de si mesmo, o ser humano irá fazê-lo constantemente, pois os
conteúdos sombrios não se esgotam, porque sempre que houver processo
de escolha, consciente, haverá também, o lado que ficou
negligenciado ou não escolhido, aquele que poderia ter sido vivido e
não foi. Neste sentido, a sombra estará sempre ao lado do indivíduo
e focaliza o resultado de suas escolhas.
Normalmente, reconhecer a sombra implica em “arrumar encrenca” e
colocar em questionamento toda a consciência de si: os hábitos,
crenças, valores, afetividade, etc. É um mergulho no desconhecido, é
ficar sem chão, é perder o apoio.
Sendo o confronto com a sombra um dos primeiros aspectos do processo
de individuação, é necessário um ego bem estruturado para reconhecer
que tudo aquilo que projetamos nos outros, principalmente as coisas
que menos gostamos, são nossas e de mais ninguém.
A sombra não possui, porém, somente aspectos negativos e rejeitados.
Possui também aspectos que impulsionam o ser humano para a
criatividade e busca de soluções, quando os recursos conscientes se
esgotaram. Por sorte, a sombra é insistente e não se sente acuada
com a repressão exercida pela consciência. Sempre arranja um jeito
de se manifestar, a inspiração é uma destas maneiras. Uma vida sem a
presença da sombra torna-se sem brilho e sem criatividade.
Quando, para a nossa adaptação social, desenvolvemos a persona,
somos obrigados a descartar vários aspectos que não condizem com a
atitude da consciência naquele momento. Estes aspectos poderão ser
úteis em outra época de nossas vidas, poderão voltar, uma vez que
não serão mais prejudiciais à nossa adaptação e poderão mudar o rumo
de nossa história.
A sombra, quando trabalha em harmonia com o ego, deixa a vida mais
colorida e rica.
Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
(11) 2979-3855