O Sonho Alimenta a Vida
Por Jerônimo Mendes
11/01/2009
Desde pequeno fui acostumado a ler uma variedade de livros e depois
de crescido passei a cultivar o hábito saudável de comprá-los,
talvez com mais freqüência do que o necessário, uma boa herança
recebida do meu pai. Apesar do pouco estudo e das poucas posses, ele
sempre aparecia com alguma novidade do mundo literário, de Machado
de Assis à Enciclopédia Britânica. De vez em quando ele trazia um
exemplar da revista Status ou Ele e Ela, uma espécie de Playboy da
época, e eu sempre dava um jeito de ler (?) escondido e ainda me
dava ao trabalho de remover as digitais da capa com muito cuidado
para que ele não percebesse a minha ousadia. Havia boas reportagens
nessas revistas, juro.
O contraditório de tudo isso era o fato de que, se fosse possível
sonhar através dos livros, imediatamente os sonhos eram sufocados
pelo discurso da nossa condição de vida, pouco favorável em alguns
aspectos e extremamente favorável em outros, principalmente pela
infância inesquecível, a qual, independentemente da situação
financeira, valeu a pena ser vivida. É uma pena que a gente cresça.
Por várias razões, algumas explicáveis, outras nem tanto, poucos de
nós foram doutrinados para sonhar, voar mais alto e ir além quando
as circunstâncias são favoráveis, por livre e espontânea vontade. De
fato, as coisas vão acontecendo, nem sempre da forma como desejamos
e, em determinado momento, passamos a questionar a própria
existência, tamanha é a pressão que a sociedade exerce sobre nossas
frágeis cabeças.
Ao longo de sua existência, de alguma forma você é empurrado para
perseguir um sonho ou um ideal de vida, ora pelos livros de
auto-ajuda, ora pela mídia com seus exemplos de arrancar lágrimas em
menos de trinta segundos ou, em alguns casos, pelos próprios pais
quando estes notam que os filhos atingem a maioridade, vão se
acomodando e relutam para abrir mão da comidinha caseira, da roupa
sempre limpa e bem passada e do quarto arrumado exclusivamente para
eles, com o carinho de mamãe, é claro.
Afirmações do tipo “eu me odeio”, “o que eu estou fazendo aqui”, “eu
não mereço tudo isso”, “eu nunca vou conseguir”, “até que eu fui
longe demais”, “eu quero o suficiente para viver” ou ainda “o
dinheiro não traz felicidade” são decorrentes de circunstâncias
pelas quais você passa ao longo da vida enquanto amadurece. O lado
ruim dessas afirmações é que se você levá-las a sério, o que
geralmente você leva, elas acabam sufocando a sua auto-estima e você
passa a acreditar que isso é mesmo verdade.
Os adolescentes sabem do que estou falando. Nessa época
inesquecível, quantas vezes você foi despertado no auge de um sonho?
Acorda, criatura de Deus! Tá no mundo da lua? Pare de sonhar, vai
arranjar algo pra fazer. Isso não é para o teu bico. Já fez a lição
de casa? Estude, senão você não vai ser nada na vida. Trate de
arranjar um emprego. Isso é que dá ficar assistindo televisão até
tarde. Caia na real, e assim por diante. Portanto, é necessário
muito equilíbrio para superar as barreiras que surgem dentro da
nossa própria casa e que a mente custa a se livrar.
Um dos maiores erros que alguém pode cometer na vida é sufocar a
auto-estima das pessoas e, por conseqüência, o sonho. Isso pode
ocorrer de várias formas, voluntária e involuntariamente. No âmbito
familiar, quando cometemos os mesmos erros do passado, ao interferir
na carreira dos filhos, ao direcionar o curso que eles devem fazer,
ao escolher as pessoas com quem eles devem se casar, ao decidir tudo
por eles, como se ainda fossem as mesmas crianças mimadas de vinte
anos atrás.
Mais improdutivo ainda é quando você abre mão dos seus sonhos e,
todo sorridente e orgulhoso, afirma que “graças a Deus, hoje você
ganha o suficiente para dar aos filhos tudo aquilo que você não
teve”. Que bobagem! Isso é o mínimo, mas lembre-se de que a escassez
e as adversidades tornam o ser mais humano, equilibrado e sociável,
longe dos perigos da zona de conforto.
No âmbito profissional ocorre quando alguém faz questão de mencionar
o cargo em alto e bom som para todo mundo ouvir, quando humilha o
colaborador na frente dos colegas, quando remunera as pessoas de
acordo com a cor, sexo, opção sexual ou religião, quando faz valer o
cargo para intimidar alguém em benefício próprio, seja qual for o
benefício, ou ainda quando um ótimo colaborador está totalmente apto
para assumir um novo cargo, a oportunidade enfim aparece, e um
terceiro, que nada tem a ver com a história, é beneficiado pela
insegurança do chefe, o qual esquece que a capacidade do líder está
diretamente relacionada com a quantidade de líderes que ele ajuda a
criar.
Naturalmente, o bom senso me faz lembrar que as coisas são muito
mais simples no papel, mas sonhar é uma questão de exercício diário.
Você imagina uma situação melhor, calcula a distancia entre a
situação atual e a desejada, relaciona os objetivos a serem
atingidos, exalta seus pontos fortes e trabalha seus pontos fracos,
fortalece os pensamentos e a mente vai ganhando consistência. Um
sonho é construído aos poucos, sonho por sonho, ação por ação.
As pessoas sempre apresentam uma série de razões estúpidas - você
não, é óbvio - para realizar o sonho e impedir o próprio
desenvolvimento quando justificam sua falta de ação ou, no mínimo,
tentam retardá-la. É o que se chama comumente de procrastinação, a
arte de arranjar desculpas e adiar as ações, uma praga dos tempos
modernos que deveria ser banida do vocabulário.
Para que você continue vivo, não deixe morrer o sonho. Quando o
sonho morre, você morre junto com ele e torna-se difícil reanimá-lo.
Quem me conhece sabe o quanto eu abomino comentários do tipo “não
vejo a hora de me aposentar para fazer aquilo que realmente gosto”.
Esperar a aposentadoria para colocar em prática uma idéia
relacionada com a sua vocação será um tremendo desperdício de
energia vital. Perseguir um sonho até o fim dos seus dias é a única
forma de torná-lo mais ativo, criativo e completo.
Sonhar faz parte da natureza humana e para isso é necessário
conhecer-se internamente, saber quem você realmente é para encontrar
a potencialidade que o fará construir um futuro melhor. Segundo
Deepak Chopra, é no conhecer-se que reside a capacidade de
realização de todos os seus sonhos, portanto, tenha em mente que a
leitura de livros e mais livros simplesmente não basta. Pare de se
iludir, de ler O Segredo e acreditar que um dia, de tanto você
pensar, algo vai cair do céu e presenteá-lo com coisas maravilhosas
que você não fez o mínimo esforço para conseguir.
Sonhar é bom, porém como diria Abílio Diniz, Presidente do Grupo Pão
de Açúcar, “enquanto alguns sonham com o sucesso, nós acordamos cedo
para consegui-lo”, ou seja, a prática diária de pequenas ações
consistentes é que vai conduzi-lo ao que você realmente deseja. Eu
aprendi tarde a alimentar o sonho que existia dentro de mim desde
que eu era criança. Por um bom tempo ele ficou apagado, mas consegui
reacendê-lo, voltei a escrever e estou refazendo meu caminho com
muita paixão e determinação.
Desejo muito que você resgate o seu, razão pela qual divido contigo
a minha fórmula pessoal para que isso aconteça e espero que lhe seja
útil. Daqui a algum tempo, quando nos encontrarmos, quero ver o
sorriso estampado nos seus lábios, de orelha a orelha, por conta das
transformações que você será capaz de fazer por iniciativa própria.
Eu demorei a me conscientizar do quanto eu era capaz e alguns livros
me ajudaram muito, por isso eu acredito nos livros e naqueles que
dividem o conhecimento com as pessoas.
1. Sonhar não custa nada. Pense todos os dias, ao acordar e antes de
dormir, o que você precisa para colocar uma simples idéia em
prática. É importante que o sonho esteja relacionado com aquilo que
você realmente gosta de fazer, caso contrário, passa a ser um
martírio;
2. Sonhar apenas não basta. Relacione no papel aquilo que você
gostaria de ter e de realizar. Não se baseie em John Lennon que
afirmou que “a vida acontece enquanto você faz planos”; está provado
que os objetivos colocados no papel são mais factíveis e passíveis
de realização;
3. Sonhar é agir. As pequenas ações que determinam o grau de sucesso
das suas conquistas e quanto mais cedo você começar, quanto mais
cedo estimular os filhos, maior a chance de ter o sonho concretizado
em vida;
4. Sonhar faz bem para a alma. É melhor sonhar do que se lamentar o
tempo todo, porém não se esqueça de trabalhar. O descontentamento
permanente é a falta de confiança em si mesmo, afirmava Emerson,
pensador americano;
5. Sonhar faz a gente crescer interiormente. Busque o melhor de si
em todas as suas realizações, seja determinado, tenha fé e
paciência. Leva tempo para descobrirmos o quanto somos ricos.
Por fim, transforme seus sonhos em pequenos objetivos. Fica mais
fácil atingi-los e, mais importante de tudo o que foi escrito,
enquanto os sonhos não se realizam, continue caminhando, caminhando,
caminhando...
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas
(Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE