Sou Pavio Curto - O que é Maturidade Emocional?
Por Sirley Bittú
07/10/2002
O pavio curto é aquele que facilmente explode o famoso tolerância
zero. A pessoa que age como um pavio curto na vida, é na verdade
comparável a uma criança mimada grande, que nega-se a aceitar seus
próprios limites e os limites dos outros faltando com o respeito a
si e aos demais.
Em nosso aprendizado de relacionamentos, absorvemos nossa cultura e
através dela aprendemos a reagir. Enquanto bebês, precisamos da
sensação de onipotência oferecida por nossa mãe ou cuidadores. Essa
sensação é resultante de termos o que precisamos, no momento que
precisamos. O bebê tem fome e recebe o alimento , tem frio e é
acolhido, tudo isso num ritmo que o faz pensar que tudo faz parte
dele, tanto a fome como o alimento. Mundo interno e externo ainda
estão confusos e misturados, é a fase em que o bebê ainda não possui
a noção do que é dele e do que não é. Essa sensação primária de
onipotência é extremamente importante e ajuda o bebê em seu
desenvolvimento e na formação de sua identidade emocional.
O esperado é que gradativamente o bebê passe a perceber esses
limites ao passo que comece a vivenciar algumas pequenas
frustrações, como por exemplo, ter de esperar pelo leite. Este
delicado e complexo caminho do desenvolvimento humano foi estudado
em minúcias por vários especialistas em comportamento e
desenvolvimento emocional como D. WINNICOTT, SPITZ, e outros; o
objetivo não é traze-lo por completo neste artigo, apenas utilizar
alguns aspectos como base de raciocínio.
Durante nosso desenvolvimento caminhamos dessa sensação de
Onipotência/Impotência para a percepção clara de nossos limites e
potencialidades que poderíamos chamar de poder pessoal, ou
simplesmente de maturidade emocional. Na vida adulta nos descobrimos
interdependentes com o meio, precisamos nos relacionar para
sobreviver, precisamos do outro e o outro de nós. A maturidade
emocional se faz quando percebemos esta difícil e delicada
inter-relação, pois para nos relacionarmos precisamos conhecer
nossos limites e os limites do outro. A sociedade impõe regras
inerentes à sua cultura e o ser humano impõe regras inerentes à sua
saúde emocional.
Estamos todo o tempo nos relacionando em diferentes papéis sociais,
quanto maior nossa clareza sobre nossos potenciais, limites e
responsabilidades, maior nossa capacidade para perceber o outro como
ele é, pois nos tornamos capazes de trocar de papel, nos colocarmos
no lugar do outro, entendendo melhor suas motivações e atitudes.
Ganhamos a possibilidade de tornar a vida mais ensolarada, e menos
nublada por nossas desconfianças , medos e conclusões equivocadas.
Vamos dar um exemplo: se estamos nos sentindo carentes afetivamente
teremos a tendência a olhar o mundo como povoado por seres egoístas
e pouco afetivos. Não conseguimos ver aquilo em que não acreditamos,
se acreditamos que não poderemos receber afeto, realmente não
receberemos, simplesmente pelo fato de que não estaremos abertos a
perceber o que já temos, apenas o que nos falta.
Existem muitas pessoas que vivem se lamentando de suas amarguras e
ressentimentos com o mundo, cobrando algo que a muito elas não
oferecem... amor, atenção, carinho e respeito. O pavio curto é na
verdade alguém que tem dificuldade em aceitar seus limites e
frustrações, não consegue lidar com eles, portanto grita primeiro
numa desesperada tentativa de evitar a frustração. A fantasia
associada é a mesma que o bebê tem, ou seja, de que não conseguirá
sobreviver à dificuldade e que não tem recursos internos que o
ampare. A nossa capacidade de tolerar frustração é a base da
maturidade emocional principalmente porque nos dá a habilidade
necessária para distinguir fantasia de realidade. O ser humano é
falível, porém, cheio de potenciais que precisam ser descobertos
para serem estimulados e aproveitados.
A energia de vida humana é o que nos move, o que nos impulsiona para
saborear a vida, quando acreditamos que o mundo nos deve algo, que
ele é mau, uma das saídas emocionais que algumas pessoas encontram é
agredir o mundo, usando esta energia para este fim. O mundo não é
bom ou mau, ele é as duas coisas, como o ser humano. O pavio curto
agride o mundo numa desesperada tentativa de se defender, como se
ele estivesse antecipando o ataque que acredita que receberá.
Se você já está esmurrando a mesa, ao passo que vai lendo este
artigo, não se preocupe, ser pavio curto é uma dificuldade emocional
e não uma doença, portanto a busca de autoconhecimento e de
superação de seus limites é possível e está a seu alcance. Não
podemos esquecer que você, que se considera uma pessoa de
temperamento explosivo, pode aprender a utilizar essa sua energia à
seu favor. Existem outros aspectos também relacionados a esta
característica emocional, como a dificuldade de perdoar e de ser
humilde para reconhecer seus erros e suas dificuldades.
No processo psicoterapêutico buscamos desenvolver a autoconsciência
ou seja, a capacidade de observar a si mesmo e descobrir o que
sente, o que pensa e o que percebe aprendendo as diferenças sobre
essas coisas e descobrindo novas formas de reagir, tornando-se mais
dono de si.
A arte de fazer escolhas ou nossa capacidade de tomar decisões está
relacionada à noção de ter de perder algo para ganhar algo e
relaciona-se com nossa capacidade de avaliar os reflexos de nossos
atos, assumindo a responsabilidade pela conseqüência de nossas
ações.
A maturidade emocional implica também na compreensão de que a
onipotência é apenas uma ilusão criada por nossa mente inicialmente
primária, para nos ajudar a sobreviver à nossa fragilidade
emocional.
Precisamos desenvolver nossa capacidade de rir de nós mesmos, num
movimento de aceitação tanto de nossas características boas como das
não tão boas, para que possamos ter a humildade de tentar
superá-las.
Negar nossas dificuldades é negar o humano que existe em nós.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br