A Sua Crise é a Crise da Falta de Percepção de Si Mesmo
Por Silvia Malamud
28/01/2011
A grande maioria das pessoas que vem por conta própria em busca de
um tratamento psicológico tem a certeza de que está passando por
algum tipo de crise.
Mas que tipo der crise poderia ser esta?
Na história e na crescente formatação da consciência humana, podemos
notar que o indivíduo permanece incessantemente entrando e saindo de
espaços fechados, todos configurados em meio a diversas leis e
sistemas. Se a pessoa não está dentro de um contexto familiar, está
dentro de um contexto de trabalho ou em alguma outra situação
sócio-cultural que o requisite num estado padronizado de
manifestação que interage e modifica a sua biografia pessoal. É
deste modo que podemos observar o movimento que gera o
aprisionamento do nosso ser essencial em uma trama que, ao atar,
cega.
O mais triste deste estado é que o cegar vale tanto para uma visão
mais acurada sobre a realidade externa, como também para uma visão
interior. A crise, portanto, acontece quando o indivíduo passa a se
dar conta de que não se entende nos vários sentimentos e sensações a
que é acometido. Sente uma ruptura no sentido da vida.
Muitos se queixam de terem dificuldades para dizer um não ao mesmo
tempo em que outros se observam extremamente impacientes e até
violentos em determinadas situações. O que todos estão falando é que
algo acontece dentro de si mesmos que resulta em algum tipo de
manifestação não satisfatória e sem controle do próprio eu.
Outra queixa comum daqueles que se percebem em estados mais
depressivos é a falta de ação, mas mesmo neste estado de aparente
não ação, exacerba-se mais uma amostra de um tipo de manifestação
também sem controle.
Notem que quando abordamos a palavra controle, não é referente ao
controle que estamos acostumados a viver ou a ouvir por aí, estamos
falando da presença do Eu lúcido em qualquer situação que estamos
criando ou à qual podemos ir de encontro.
Sabemos que processos vivenciados dentro de uma psicoterapia
auxiliam o indivíduo a entrar em contato com os aspectos que o
estruturaram e que, dentro deste processo, a pessoa tem a
oportunidade de se observar e de se transformar.
Isto gera a possibilidade de um reconhecimento perceptivo a respeito
de nós mesmos e dos possíveis motivos que chegaram a nos distanciar
de quem realmente somos.
Acontece que num processo gradativo a nossa percepção pouco a pouco
acaba sendo minada. Passamos a achar normal uma vida medíocre sem
grande entendimento sobre nós mesmos. Achamos que é normal corrermos
atrás de uma ganância desenfreada alimentada por uma competição
atroz.
Pouco a pouco perdemos a referência de quem somos e o pior é que
passamos a achar que a baixa qualidade de prazer que temos na vida é
normal.
Não nos apropriamos de nós mesmos e como conseqüência deixamos de
existir como consciências quânticas que somos, passando a funcionar
num limiar muitíssimo baixo.
De repente, porém, este nosso Si Mesmo passa a desconfiar de que
algo não vai bem ou que talvez poderia estar melhor. Este é o
precioso momento onde o indivíduo tem a chance de se resgatar, de se
ganhar de volta. Nesta hora percebemos que tudo poderia ser
diferente do que está, começamos a entrar em contato com várias das
nossas questões que são emergenciais para que nos atualizemos como
existências completas. Percebemo-nos em crise.
O exagrama chinês de crise é composto de dois caracteres, um
representando o perigo e outro a oportunidade.
Notamos que falta a percepção do por que estamos funcionando de modo
tão insatisfatório há tanto tempo...
É lógico que temos toda uma história por trás que construiu e que
ainda constrói tanto os nossos pensamentos, como a maneira de nos
compreendermos como entidades dentro de toda esta trama. Isso inclui
todas as nossas possibilidades de ação até o presente momento.
Fazendo um recorte histórico, podemos observar algo sobre parte
desta construção de nós mesmos que se passou entre a Primeira e
Segunda Guerra Mundial, o que houve no antes e no depois, só para
dar um pequeno exemplo evidenciando como foram se construindo as
nossas "pseudoverdades":
- Desde o final da Segunda guerra mundial a sociedade vem
"evoluindo" em ordenação de serviços, em ordenações psico-lógicas.
Ordenações absolutamente necessárias para a tentativa de
organizar-se no caos instalado nesta época de pós-guerra.
Em nome de se deter vários tipos de doença, o processo de
higienização enunciado no início do século passado, devido a doenças
contagiosas resultantes de constelações familiares atípicas dentro
dos padrões atuais, pôde ter um desenvolvimento mais efetivo. Deste
modo a estrutura familiar como a concebemos nos dias de hoje, teve
um maior respaldo para se configurar no mundo como uma verdade
importante e absoluta a ser vivida.
Indivíduos buscando segurança em diversos níveis passaram a
compactuar com vários tipos de crença desta matriz, acreditando ser
a estrutura familiar como a conhecemos, a forma ideal para se viver.
Então, em nome de se deter as doenças transmissíveis e também de
cuidar do tipo de patrimônio gerado pelo capitalismo, as famílias
passaram a funcionar de modo monogâmico.
Notem que nada temos contra as estruturações familiares monogâmicas,
assim como nada temos contra as estruturas poligâmicas, etc, etc,
apenas estamos como observadores destas organizações, verificando
também o desenvolvimento do psiquismo e da crença humana de acordo
os diversos tipos de sistemas vigentes.
A formatação, o viver dentro de determinados conceitos, leva
ilusoriamente o indivíduo a sentir que pode controlar tudo... o que,
como sabemos, é um paradoxo. Não dá para se controlar nada enquanto
formos frutos inconscientes de um controle.
Temos nos trabalhos também determinados padrões de controle, na área
da ciência outros grupos de controle e assim por diante.
No final das contas todos vivem como se fossem funcionários de uma
grande indústria, onde o pensamento global de uma arrecadação maior
gera pensamentos locais de arrecadações individuais, tudo na
inconsciência, longe do que é de fato o Ser. Em outras palavras,
cada um pensa em si, mas está preso a um pensamento maior.
O próprio pensamento não advém das necessidades básicas e pessoais,
mas sim da construção gerada pelo corpo maior que dá a ilusão de uma
base que sempre será faltante, por isso a busca frenética do ter.
Mas isso tudo também é uma construção que não tem nada a ver com a
realidade interna do indivíduo.
Somos os atores de nós mesmos, por isso é que necessitamos saber com
clareza de que modo estamos atuando e sendo a cada instante, podendo
assim desenvolver as nossas habilidades, tornando-nos os senhores
criadores das nossas realidades com maior consciência, deixando de
sermos autômatos conscienciais, ou seja, sem a percepção lúcida de
nós mesmos.
A proposta é o agir de modo simultâneo, porém extremamente
consciente, ora como participantes ativos inseridos dentro de um
suposto contexto, ora como observadores, porém sem jamais nos
perdermos novamente daquilo que somos em essência.
Ao longo dos nossos estudos, temos notado o importante auxílio,
suporte e complementação que a Psicologia, têm oferecido.
A meditação também passa a ter importância definitiva no movimento
de conhecimento e transformação pessoal. É por intermédio da
meditação que a pessoa pode passar por alguns estágios em que seu
complexo bioenergético fica totalmente ativado pela energia vital
gerada e, de acordo com os nossos estudos, já sabemos que esta
pessoa obterá um novo impulso que facilitará sobremaneira sua
transformação pessoal em vários níveis; estando muito mais
dinamizada e fortalecida para conseguir aprofundar-se em si mesma,
podendo se transformar de modo mais autoconsciente e centrado.
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado. Autora do Livro: Projeto
Secreto Universos. Email: silvimak@gmail.com