A Teoria de Maslow e sua Relação com a Educação de Adultos
Por Gloria Maria Veríssimo Lopes Pisandelli
18/06/2007


Introdução
O objetivo deste artigo é descrever de forma simples, a relação que existe entre a Teoria da Hierarquia das Necessidades do Psicólogo norte-americano Abraham Maslow, e a educação de adultos. Parte do pressuposto de que o adulto a ser alfabetizado está inserido na sociedade, da qual pode ou não se sentir segregado como conseqüência do seu despreparo para enfrentar, tanto os mais simples requisitos de qualificação tais como o letramento básico, ou requisitos mais complexos de leitura, escrita e interpretação de conceitos, como acontece em organizações complexas, como industrias, comércio, serviços e outros similares.

Teoria de Maslow - Hierarquia das necessidades

No contexto da educação de adultos é muito importante conhecer e avaliar o impacto da denominada Hierarquia das Necessidades de Maslow no processo de ensino.

Essa hierarquia nos permite estabelecer uma clara relação entre o processo de aprendizagem e o nível de motivação do indivíduo para se autodesenvolver, a partir do aprendizado contínuo.

Maslow, conhecido psicólogo consultor norte-americano, apresentou uma teoria para explicar as razões da motivação, segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influenciação.

Necessidades Fisiológicas

Necessidades de Segurança

Necessidades Sociais

Necessidades de Auto-estima

Necessidades de Auto-realização

Na base da pirâmide estão as necessidades mais primitivas (necessidades fisiológicas) e no topo, as necessidades mais refinadas (as necessidades de auto-realização), cada uma delas com os seguintes significados:

1. Necessidades fisiológicas: constituem o nível mais baixo de todas as necessidades humanas, mas de vital importância. Neste nível estão as necessidades de alimentação, de repouso, de abrigo, de sexo, etc.

As necessidades fisiológicas estão relacionadas com a sobrevivência do indivíduo e com a preservação da espécie. São necessidades instintivas, que já nascem com o indivíduo. São as mais prementes de todas as necessidades humanas: quando alguma dessas necessidades não está satisfeita, ela determina fortemente a estrutura comportamental do homem.

Uma pessoa com seu estômago vazio não têm outra preocupação maior do que se alimentar.

Porém, quando come regularmente e de maneira adequada, a fome deixa de ser uma motivação importante. Quando todas as necessidades humanas estão insatisfeitas, a maior motivação será a satisfação das necessidades fisiológicas, e o comportamento do indivíduo tem a finalidade de encontrar alivio da pressão que essas necessidades produzem sobre o organismo.

Necessidades de segurança: constituem o segundo nível das necessidades humanas. São as necessidades de segurança ou de estabilidade, a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga ao perigo.
Surgem no comportamento quando as necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. A partir do momento em que o indivíduo é dominado por necessidades de segurança, o seu organismo se orienta fortemente para a procura da satisfação dessa necessidade, alterando suas prioridades. A satisfação da necessidade de segurança tem grande influência no comportamento humano.

Vejamos, por exemplo, o caso de um empregado que está em uma forte relação de dependência com a empresa na qual trabalha. A ocorrência de ações administrativas arbitrárias podem provocar incerteza ou insegurança no empregado, quanto à sua permanência no emprego. Se essas ações ou decisões transmitem sentimentos de discriminação, favoritismo ou alguma política administrativa imprevisível, podem tornar-se poderosos fatores de geração de insegurança no inconsciente desse individuo.

Necessidades sociais: surgem no comportamento, quando as necessidades inferiores (fisiológicas e de segurança) encontram-se relativamente satisfeitas. Entre outras, as necessidades sociais estão relacionadas às necessidades de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor.
Podemos considerar o letramento como uma prática social, a satisfação de uma necessidade que, no modelo atual de sociedade tem se transformado em imprescindível para a correta inserção do indivíduo no meio.

Nem sempre têm sido assim. Historicamente, a escrita remonta suas origens a uma época situada aproximadamente a 5.000 anos antes de Cristo. Esta não surge de repente, mas é resultado de uma construção realizada lenta e trabalhosamente pelo ser humano, na busca imperiosa de uma forma de expressar, inicialmente e transmitir, a seguir suas idéias. Nessa época, a escrita, e o letramento não formavam parte de uma hierarquia dentro da evolução social, pois simplesmente não existiam.

Mas a necessidade de comunicação era premente. A escrita pode ser considerada como uma das principais causas do aparecimento das civilizações modernas e do desenvolvimento científico, tecnológico e social. Neste contexto, ela assume o papel de “elemento de poder e de dominação”. É nesta situação onde o domínio da leitura e escrita, passa a ser uma necessidade social definitivamente essencial para a evolução do indivíduo no seu meio.

O letramento é o que as pessoas fazem com suas habilidades para leitura e escrita, no contexto social em que atuam, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais. Podemos considerar que o letramento é uma forma de adaptação ao meio.

Scribner (1984) reforça a importância do letramento funcional ou de sobrevivência, ao escrever:

“A necessidade de habilidades de letramento em nossa vida diária é obvia; no emprego, passeando pela cidade, fazendo compras, todos encontramos situações que requerem o uso da leitura ou a produção de símbolos escritos. Não é necessário apresentar justificativas para insistir que as escolas são obrigadas a desenvolver nas crianças as habilidades de letramento que as tornarão aptas a responder a estas demandas sociais cotidianas. E os programas de educação básica têm também a obrigação de desenvolver nos adultos as habilidades que devem ter para manter seus empregos ou obter outros melhores, receber treinamentos e os benefícios a que têm direito, e assumir suas responsabilidades cívicas e políticas”.

Para Vigotski (2000) o letramento representa o coroamento de um processo histórico de transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores. Representa também a causa de elaboração de formas mais sofisticadas do comportamento humano que são os chamados “processos mentais superiores”, tais como raciocínio, abstrato, memória ativa e resolução de problemas. Enfim, a alfabetização só ganha sentido na vida do adulto se puderem aprender algo mais que juntar letras. Junto com o aprendizado da escrita, eles precisam desenvolver novas habilidades cognitivas de compreensão, elaboração e controle da própria atividade. Precisam também criar novas motivações para transformar-se a si mesmos e ao meio em que vivem. Fica desta forma caracterizado o letramento como uma das mais importantes necessidades sociais do indivíduo. Quando as necessidades sociais não estão suficientemente satisfeitas, o indivíduo torna-se resistente, antagônico e até hostil com relação às pessoas que o cercam. Em nossa sociedade, a frustração das necessidades de amor e de afeição conduz à falta de adaptação social e à solidão. A insatisfação da necessidade social de letramento provoca, no indivíduo, um sentimento de incompetência e de incapacidade de pertencer ao meio, como membro participativo.

Esta sensação isola o indivíduo do meio e provoca uma queda muito forte na sua auto-estima.

Necessidades de auto-estima: são as necessidades relacionadas com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. Envolvem a auto-apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestigio e consideração, de confiança perante o mundo, independência e autonomia. A satisfação dessas necessidades conduz a sentimentos de autoconfiança, de valor, força, prestígio, poder, capacidade e utilidade.
A sua frustração pode produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo que, por sua vez, podem levar ao desânimo ou a atividades compensatórias que, em casos extremos podem provocar até sua destruição.

5. Necessidades de auto-realização: são as necessidades humanas mais elevadas e que estão no topo da hierarquia. São as que permitem a cada pessoa identificar o seu próprio potencial e autodesenvolver-se continuamente. Essa tendência geralmente se expressa através do impulso de a pessoa tomar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser.

Enfim, essas necessidades tomam formas e expressões que variam enormemente de pessoa para pessoa. Sua intensidade e manifestação também são extremamente variadas, obedecendo às diferenças individuais entre as pessoas.

A teoria da hierarquia de necessidades de Maslow pressupõe os seguintes aspectos:

a) Somente quando um nível inferior de necessidades está satisfeito ou adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge como determinante do comportamento.

Em outros termos, quando uma necessidade de nível mais baixo é atendida, ela deixa de ser motivadora, dando oportunidade para que um nível mais elevado possa se desenvolver.

b) Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessidades.

Algumas pessoas - devido às circunstâncias de vida - chegam a se preocupar fortemente com necessidades de auto-realização; outras estacionam nas necessidades de auto-estima; outras ainda nas necessidades sociais, enquanto muitas outras ficam ocupadas exclusivamente com necessidades de segurança e fisiológicas, sem conseguir satisfazê-las adequadamente. São os chamados “excluídos”.

c) Quando as necessidades mais baixas estão razoavelmente satisfeitas, as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a dominar o comportamento.

Contudo, quando alguma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a ser fator predominante no comportamento, enquanto continuar a gerar tensão no organismo. A necessidade mais importante ou mais premente monopoliza o indivíduo automaticamente a organizar a mobilização das diversas faculdades do organismo para atendê-la.

d) Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Todos os níveis atuam conjuntamente no organismo, dominando as necessidades mais elevadas sobre as mais baixas, desde que estas estejam suficientemente satisfeitas ou atendidas. Toda necessidade está intimamente relacionada com o estado de satisfação ou insatisfação de outras necessidades.

Seu efeito sobre o organismo é sempre global e conjunto e nunca isolado.

e) Qualquer comportamento motivado é como um canal pelo qual, muitas necessidades fundamentais, podem ser expressas ou satisfeitas conjuntamente.

f) Qualquer frustração ou possibilidade de frustração da satisfação de certas necessidades passa a ser considerada ameaça psicológica. Essa ameaça é que produz as reações gerais de emergência no comportamento humano. Essas reações de emergência, alteram significativamente o comportamento assim como o grau de motivação do individuo para realizar tarefas que não estejam relacionadas com a eliminação dessa frustração.

A Teoria de Maslow está claramente relacionada com as reações comportamentais que observamos em sala de aula, notadamente na educação de adultos. Não podemos, nem devemos ignorar que o aluno adulto, muito mais que a criança, encontra-se influenciado e pressionado pelo ambiente e a comunidade a qual pertence.

Devemos, sim ficar atentos aos sinais que nos mostram mudanças de comportamento, de interesse, de motivação e outros, pois certamente serão indicadores da existência de dificuldades ou problemas externos ao processo de aprendizagem, que estão determinando essa mudança comportamental.

Glória Maria Veríssimo Lopes Pisandelli
Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Universidade Vale do Acaraú - UVA).

Filiada à Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp - CE).

Consultora em Psicopedagogia da CTA – Consultoria, Treinamento e Avaliações Ltda.

Membro da Diretoria do CCDS - Conselho Comunitário de Defesa Social de Tabapuá, ligado à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará.

Coordenadora do CAPAF - Centro de Apóio Psicopedagógico à Família no CCDS.

Gestora do Programa de Avaliação e Prevenção Psicopedagógica da Comunidade - PAPPC implementado no CAPAF.

spisandelli@yahoo.com.br

Bibliografia
SCRIBNER, S. Literacy, in tree metaphores, American Journal of Education, v.93, n. 1, 1984, p. 9

VIGOTSKI, L. A pré-história da linguagem escrita In- , A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000

CHIAVENATO, I. Teoria Geral da Administração, v 2, São Paulo, Atlas

NORWOOD, G. Maslow's Hierarchy of Needs, http://www.connect.net/georgen/maslow.htm, Junho, 1996.

MASLOW, A. Motivation and Personality, 2nd ed., Harper & Row, 1970.

GUALAZZI, Abordagem Comportamental da Administração, http://www.unimep.br/*