Terapia analítico - comportamental e o manejo do sentimento do Ciúme
Por Eduardo T. S. Alencar
06/03/2010
A psicologia, preocupada com o homem, complexo e único em sua
totalidade, estuda os fenômenos humanos sob o olhar de diferentes
vertentes teóricas. Uma delas, é a analise do comportamento baseada
na filosofia do behaviorismo radical de B.F. Skinner, que investe o
seu arcabouço teórico em avaliações funcionais não apenas do homem
em si, mas também, nas relações de suas ações nos ambientes com os
quais se relaciona / mundo, que tipo de conseqüências geradas nelas
tem impacto sobre a conduta deste mesmo sujeito e nos demais
sujeitos envolvidos, como se dão estes tipos de impactos, qual o
papel deles na manutenção, extinção ou instalação de novos
repertórios comportamentais e assim por diante.
Ao olhar para os sentimentos, a analise do comportamento se atentará
não apenas para relatos de natureza verbal de seus clientes (tatos,
mandos, ecóicos, etc), mas buscará diferentes níveis determinantes
de comportamento (ontogenético, filogenético e cultural) que possam
estar diretamente ou indiretamente envolvidos na construção de
cadeias de contingências ou de contigüidade, sejam elas observáveis
ou privadas em termos de acesso, única e exclusivamente a este
cliente, na forma manifesta e funcional de como este (s) determinado
(s) sentimento (s) geram conseqüências desejáveis ou indesejáveis na
vida do mesmo.
Por exemplo, no caso de sensações internas conscientes ou
inconscientes que levem o cliente a sentir e relatar “receio” ou
despeito de certos afetos alheios em função de não serem
exclusivamente para eles, podemos dizer singelamente, que este
cliente está sentindo e vivenciando uma gama de relações
comportamentais que trazem como sub produto o rótulo do sentimento
de ciúmes (uma espécie de generalização de vários comportamentos), o
que não significa que tal sentimento seja um repertório de
comportamentos 100% contingentes e reais, pode certamente estar sob
efeito de relações de contigüidade alterando na mesma proporção das
relações contingentes, as regras / cognições deste cliente na forma
de atuar no mundo.
Contingente ou contiguo, o cliente que busca ajuda em psicoterapia
para trabalhar o sentimento de ciúmes, já está dando dicas que estas
relações com o mundo estão de alguma forma gerando estimulação
aversiva, freqüentemente rotulada e manifesta como “dor e
sofrimento”. Não é papel do psicólogo, independente de vertente
teórica, ingressar em discussões de valores, bem como certo x
errado, verdadeiro x falso, entre outras.
Há décadas, as vertentes teóricas de psicologia trabalham
direcionando suas técnicas à amplitude da promoção de saúde,
qualidade de vida, prevenção e tratamento de psicopatologias e não
apenas à modificação de comportamentos alvos ou isolados taxados por
instituições, sociedades ou agências controladoras como certos x
errados. Tendo em vista o sentimento de ciúme como algo doloroso
trazido como queixa pelo cliente em clinica comportamental, o
psicólogo rapidamente iniciará junto a ele, uma série de avaliações
funcionais que tragam à consciência do mesmo, a sua forma particular
de agir no mundo, de agir junto as demais relações sociais e
afetivas e que tipo de conseqüências são geradas nestas ou em formas
alternativas de se relacionar, que possam de alguma forma, trazerem
comportamentos adjuntos traduzidos como “dor e sofrimento” ou como
“prazerosos ”.
Como dito anteriormente, o ciúmes tenderá a aparecer em algumas
situações cujo afetos (reforço) não serão apresentados ao cliente,
como se isso não bastasse, em concorrência, o reforço que era do
cliente, será apresentado a alguma outra pessoa. Tal cliente, a
depender de sua história de regras / cognições, interpretará ações
do parceiro como algo aversivo ou neutro (relações contingentes x
contiguas), concepção que vai de encontro com outras abordagens de
psicologia, como evolucionistas Daly, Wilson & Weghorst (1982,
citados por Buss, 2000), onde o ciúme consiste em um estado que é
despertado por uma ameaça percebida para uma relação ou posição
valorizada e motiva comportamento apontado para se contrapor à
ameaça, por Pines (1992), representante da Psicologia Social, onde o
ciúme é uma reação a uma ameaça percebida - real ou imaginária - a
uma relação valorizada ou de sua qualidades e pela própria abordagem
comportamental em De Silva (1997), definindo o ciúme como uma
espécie de expectativa / apreensão ou sinalização em perder o
parceiro, o seu lugar de afeição por parte do mesmo, e assim por
diante.
Skinner (1991), ainda pela ótica da analise do comportamento defende
que o ciúme enquanto gama de relações de eventos privados, do tipo
sentimento, é produto tanto de condicionamento reflexo como
operante. O condicionamento reflexo dá conta de explicar as reações
fisiológicas que são sentidas quando um indivíduo descreve estar com
ciúme, por exemplo, quando o cliente diz que está se sentindo um
“lixo”, sensação de nó na garganta, outras. O mesmo autor e Tourinho
(1997) defendem que o condicionamento operante permite compreender
como se estabelecem as relações entre o que ocorre fisiologicamente
com o indivíduo e o que ele faz quando está diante dessa sensação,
assim como tentar avaliar funcionalmente o que e por que faz o que
faz.
Cabe ao terapeuta, discutir e refletir junto ao cliente, não apenas
as ações dos seus parceiros (ou falta delas), mas as suas
propriamente ditas (ou falta delas), como é a intensidade, a
magnitude, a proporção, o contexto e freqüência destas, e assim por
diante. Discutindo tais ações, estratégias de modelagem de regras e
comportamentos operantes, estabelecimento e fortalecimento de
vínculo terapêutico, remoção de estímulos aversivos, promoção e
acesso de reforçadores positivos, ampliação de quadros relacionais,
propostas de aceitação e compromisso, entre outras, entram em cena
de forma personalizada, ou seja, o ciúme pode ser algo generalizado
tratado em sociedade, taxado como certo x errado por agências
controladoras, pode ter um valor evolucionista filogeneticamente,
mas, sendo o homem é único em sua complexidade e totalidade,
evitar-se-á o julgamento de valores, afim de que os manejos clínicos
– comportamentais focados neste tipo de sentimento possa tomar forma
positiva na vida do cliente e das pessoas com o qual ele se
relaciona.
Exemplos de algumas relações e topografias que compõe o ciúmes e
podem vir a ser objeto de trabalho em clinica:
Fazer inúmeras perguntas a (o) parceira (o);
Proibir de sair;
Brigar pelo afeto que foi direcionado a um terceiro;
Proibir determinadas amizades;
Proibir determinadas vestimentas;
Agressão física ou verbal direcionada à relação do parceiro com
terceiros;
Sentir-se ameaçado pela relação (por exemplo amizade) do parceiro
com outros;
Sensação de haver um rival real ou imaginário;
Sensação de perda do objeto amado e / ou de seus reforçadores;
Depressão;
Raiva;
Desejo de eliminar o possível rival;
Baixa auto – estima;
Etc.
Bibliografia
Buss, M.D. (2000). A paixão perigosa. Rio de Janeiro: Objetiva.
De Silva, P. (1997). Jealousy in couple relationships: nature,
assessment and therapy. Behaviour Research and Therapy, 35, (11),
973-985.
Pines, A. M. (1992) Romantic jealousy - the shadow of love.
Psychology Today, 25 (2), 48-55.
Skinner, B. F. (1991). Questões recentes na análise comportamental.
Tradução de A.L. Neri. Campinas: Papirus. (trabalho original
publicado em 1989).
Tourinho, E.Z. (1997). Eventos privados em uma ciência do
comportamento. Em R.A. Banaco (Org), Sobre comportamento e cognição:
aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do
comportamento e terapia cognitivista, vol.1. (pp. 174-187). Santo
André: ESETec Editores Associados.
Eduardo Alencar é Consultor de RH de empresa líder na
comercialização de artigos esportivos em toda América Latina,
colunista de portais de psicologia e administração de empresas,
membro associado da ABPMC (Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental) desde 2004, possui formação técnica em
administração de empresas, graduação em psicologia pela UNINOVE/SP,
Pós graduação em Terapia Cognitiva e Comportamental pela USP,
Extensão universitária em Organizational Behavior Management e em
Acompanhamento Terapêutico pelo Núcleo Paradigma de Analise do
Comportamento/SP, Especialização em Grafologia pelo Instituto Paulo
Sérgio Camargo e cursa MBA em Gestão Empresarial pela UNIP/SP.