Toc - Transtorno Obsessivo Compulsivo
Por Ana Lúcia Pereira
10/06/2007
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) consiste na combinação de
obsessões (pensamentos recorrentes e insistentes que se caracterizam
por serem desagradáveis, repulsivos ou contrários à índole do
paciente) e compulsões (comportamentos estereotipados, repetitivos,
desagradáveis e inúteis).
No Transtorno Obsessivo- Compulsivo as obsessões vêm acompanhadas de
compulsões, pois as pessoas com TOC tentam afastar suas obsessões
pondo em prática algumas compulsões, como por exemplo:
Lavar as mãos constantemente, a ponto de torná-las avermelhadas e
inflamadas;
Verificar incessantemente se desligou o fogão ou o ferro, devido a
um temor excessivo de incendiar a casa;
Contar certos objetos sem parar, por uma obsessão de vir a
perdê-los.
Diferentemente dos atos de jogar ou beber compulsivamente, as
compulsões do TOC não trazem nenhum prazer ao indivíduo, sendo
realizados apenas para obter alívio do desconforto provocado pelas
obsessões.
Uma vez que sabe do absurdo ou exagero de seus comportamentos os
pacientes podem tentar evitar os pensamentos intrusivos e as
compulsões, o que causa uma tensão insuportável, motivo pelo qual
acabam cedendo às compulsões.
Os sintomas do TOC provocam angústia, consomem tempo e podem
interferir de maneira significativa no trabalho, na vida social e
nos relacionamento pessoais do portador. Como não sabem o que está
acontecendo, muitos temem estar enlouquecendo, sentem vergonha e por
isso são discretos com relação aos seus sintomas obsessivos e
compulsivos, preferindo ocultá-los a procurar ajuda especializada.
Com o que não deve ser confundida
Rituais culturais: práticas constantes e repetitivas como canções na
hora de dormir e práticas religiosas podem ter sido passados de
geração para geração e são consideradas manifestações normais da
cultura popular.
Superstições: bater na madeira três vezes ou fazer o sinal da cruz
são rituais que pertencem ao cotidiano de muitas pessoas e
representam uma forma simbólica de afastar o perigo, sendo
considerados normais desde que a pessoa não se torne prisioneira
deles.
Preocupações passageiras: o medo de contágio ou contaminação podem
ser aumentados em época de estresse, como por exemplo quando alguém
na família está doente ou morrendo.
Perfeccionismo: o perfeccionista tem altos níveis de exigência no
trabalho e no lazer, o que não chega a provocar sofrimento pessoal
ou comprometimento das atividades rotineiras. O portador de TOC, ao
contrário, pode envolver-se em situações como atrasar a redação de
um relatório em função de numerosas e demoradas revisões que jamais
considera “perfeitas"; apresentar grande dificuldade na
administração do tempo, deixando as tarefas mais importantes para a
última hora; dedicar-se tanto à tarefa de tornar cada detalhe de um
projeto absolutamente perfeito a ponto correr o risco de jamais
terminá-lo.
Transtornos de desenvolvimento: as crianças e adultos com
transtornos de desenvolvimento pervasivo (autismo, transtorno de
Asperger), são extremamente rígidas e compulsivas, com
comportamentos estereotipados, que muitas vezes se parecem com o TOC
grave. No entanto, pacientes com esses transtornos de
desenvolvimento têm problemas extremamente sérios de relacionamento
e comunicação com outras pessoas, o que não ocorre com o TOC.
Esquizofrenia Paranóide: ao contrário do esquizofrênico, o portador
de TOC tem a crítica do absurdo de suas preocupações. Além disso, a
natureza de seus rituais é menos bizarra.
Sintomas
Os sintomas obsessivos mais comuns são:
Presença de pensamentos invasores, ruminativos e difíceis de serem
afastados com a vontade. Os temas mais comuns desses pensamentos
são:
Temas relacionados a sujeira e contaminação: um pavor de se sujar ou
contaminar com suor, pêlos, germes, etc.;
Temas desafiadores: como resolver compulsivamente quebra-cabeças,
fazer contas (por exemplo, sentir-se obrigado a somar os números de
todas as chapas de carro), etc.
Temas violentos: como ter pensamentos horríveis sobre matar o filho,
matar alguém, imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas;
Temas profissionais: como terror infundado de perder tudo, ser
demitido e humilhado, etc.
Pensamentos sexuais urgentes e intrusivos;
Dúvidas morais e religiosas;
Uma das maneiras que essas pessoas encontram para diminuir a
ansiedade provocada pelos pensamentos obsessivos, e através de
rituais, que com o tempo acabam por se tornar compulsivos. Os
rituais mais comuns são:
Rituais de checagem: verificar ou examinar repetidamente situações,
como por exemplo se o gás está fechado, se a torneira está fechada,
a porta trancada, etc.
Rituais de limpeza: lavar repetidamente as mãos, roupas, objetos de
uso pessoal, etc.
Rituais de ordem: colocar objetos de forma invariavelmente igual,
seguindo um determinado padrão, como arrumar compulsivamente as
camisas ou meias sempre numa mesma ordem, etc.
Rituais de coleção: como juntar coisas sem uma finalidade, como
jornais velhos, tampas ou latas de cerveja, etc.
Rituais de destino: como ter que levantar sempre com o pé direito,
entrar num elevador de determinada maneira, repetir determinados
gestos;
Tocar ou contar objetos.
Relatos de portadores de Transtorno Obsessivo Compulsivo
“Com freqüência fico conferindo várias vezes coisas como se estão
fechadas as torneiras de água, a porta da casa, o gás”.
“Costumo perder prazos no trabalho porque presto demasiada atenção
aos detalhes”.
“Faço o máximo possível para não usar telefones públicos porque eles
são contaminados”
“Freqüentemente me percebo atrasado porque não consigo terminar
minhas coisas a tempo”.
“Mesmo quando faço alguma coisa com capricho e cuidado, em geral
sinto que não está muito bom”.
“Preocupo-me exageradamente com germes, doenças e limpeza”.
“Quando esbarro acidentalmente em alguém, fico muito preocupado se o
mesmo não estará contaminado”.
“Quando toco num animal, fico muito preocupado se o mesmo não estará
contaminado”.
“Quase que todo dia fico chateado com pensamentos desagradáveis que
surgem contra minha vontade”.
“Sou maníaco por limpeza”
“Sou uma pessoa muito rígida”.
“Tendo a conferir as coisas repetidamente”.
“Um de meus maiores problemas é prestar atenção exageradamente aos
detalhes”.
“Quando fico ansioso, faço compras bem acima de minhas posses”.
Exemplos Ilustrativos:
Um advogado sente-se obrigado a conferir depois de arranjar em uma
ordem precisa os objetos sobre uma estante. Ele completa essa série
de ações todos os dias antes de partir para o trabalho. Se ele não
ficar satisfeito com o cumprimento do ritual, ele o recomeça depois
de tê-lo iniciado, e chega bastante atrasado ao trabalho.
Um estudante adolescente está convencido de que se tocar maçanetas,
trincos e puxadores de portas e de outros objetos será contaminado
pela sujeira ou micróbios. Ele passa horas lavando as mãos e a
evitar qualquer contato social com as outras pessoas, por acreditar
que será contaminado.
Uma criança guarda fósforos usados para se proteger contra um
eventual incêndio em sua casa.
Uma jovem mãe está convencida de que pode fazer mal ao seu filho.
Incapaz de banir seus sentimentos obsessivos da mente, ela verifica
de maneira repetida os ingredientes relacionados nas embalagens dos
alimentos, a fim de se certificar de que eles não vão envenenar a
criança.
Convencido de que o contorno de algo no caminho trata-se de uma
pessoa, e que esta atacará qualquer um que nele passar, um homem que
fez uma bela carreira como representante de comércio, todos os dias
passa horas verificando a passagem para se assegurar de que ninguém
entrará em sua casa, ou o atacará à beira do caminho.
Uma mulher fecha e torna a fechar sua porta antes de ir para o
trabalho todo dia por meia hora, por medo que algo de ruim aconteça
a seus filhos.
Um garoto de 14 anos se atrasa todo dia para ir à escola, pois não
consegue sair do chuveiro até que tenha se ensaboado e enxaguado
exatamente 41 vezes.
Uma criança checa inúmeras vezes se o interruptor da luz está
desligado, mesmo parecendo ser óbvio que a luz está apagada.
Um garoto de 5ª série não consegue deixar o vestiário da escola até
que seu tênis esteja com o laço amarrado simetricamente.
Tratamento
Nos últimos 20 anos a literatura tem indicado a psicoterapia
cognitivo-comportamental como um tratamento promissor para o
Transtorno Obsessivo Compulsivo, pois tem apresentado excelentes
resultados e se mostrado suficiente nos casos menos severos. Essa
abordagem trabalha basicamente com o controle e reavaliação dos
pensamentos irracionais que culminam nas compulsões e ensinando
estratégias que visam controlar e mudar os comportamentos
compulsivos.
Nos casos mais severos o psicólogo deve trabalhar em parceria com o
psiquiatra, pois o tratamento medicamentoso se faz necessário, sendo
normalmente ministrados inibidores de reabsorção de serotonina
(SRI), que ajudam a controlar a ansiedade típica do paciente de TOC.
Sempre visando o melhor benefício ao paciente, é aconselhável que os
profissionais solicitam auxílio aos familiares e amigos do paciente,
pois os mesmos são de grande utilidade na avaliação inicial, já que
podem relatar sintomas que passaram despercebidos do próprio
paciente, auxiliando na elaboração das listas de rituais e de
evitações valiosas para a elaboração do plano de trabalho.
Quando crianças e adolescentes são portadores de TOC, é importante
que seja realizado um trabalho junto aos professores, para ter
certeza de que eles compreendem o transtorno.
Se você foi diagnosticada como portador do Transtorno
Obsessivo-Compulsivo (TOC) saiba que:
o Você não está sozinho. Nos Estados Unidos, um em cada 50 adultos é
atualmente portador de TOC e duas vezes esse número já sofreu da
doença em algum momento da vida. No Brasil, esse número corresponde
a aproximadamente 3 milhões de pessoas;
o Você não está a caminho de perder o juízo. Seus sintomas são
resultantes de um distúrbio sobre o qual você não tem nenhuma
responsabilidade, logo não deve ter nenhuma vergonha por causa
deles;
o Procure tratamento adequado. Caso já esteja em tratamento discuta
seus sintomas de maneira completa e aberta com o seu terapeuta e com
o seu psiquiatra, lembre-se que eles estão preparados para tratar do
assunto com respeito e eficácia;
o Procure ser ativo, se você enfrentar seus temores e tentar não
ceder aos seus comportamentos compulsivos, isso o ajudará a diminuir
os efeitos do Transtorno Obsessivo Compulsivo sobre sua vida.
Se você é parente ou amigo de alguém que foi diagnosticada como
portador do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) saiba que:
o Não deve culpar essa pessoa, pois o TOC não têm nada a ver com uma
falta de força de vontade e a pessoa não tem a intenção de perturbar
a sua vida com suas manias e rituais;
o Pode ajudar incentivando ativamente a pessoa sofredora de
Transtorno Obsessivo Compulsivo a procurar a ajuda de um
profissional;
o Deve oferecer apoio aos esforços do paciente em querer se tratar.
Uma maneira simples é elogiar todos os sucessos, ainda que
limitados, obtidos por na luta contra os sintomas.
Ana Lúcia Pereira é Psicóloga Clínica, professora Universitária e
Consultora Organizacional. Email: alp@analuciapsicologa.com -
http://www.analuciapsicologa.com