Transtornos Alimentares e Obesidade
Por Maria da Guia Ramos Miranda
26/03/2007
Atualmente têm-se questionado a influência dos fatores culturais nos
transtornos alimentares e obesidade, e observamos que as condições
do relacionamento social cotidiano, nas sociedades que se baseiam na
produção em massa e no consumo de massa, estimulam uma atenção sem
precedentes nas imagens e impressões superficiais, a um ponto em que
o eu torna-se quase indistinguível de sua superfície, reproduzindo
assim, uma sociedade narcísica em que a individualidade e a
identidade pessoal tornam-se problemáticas, como se pode facilmente
perceber pela efusão de comentários psiquiátricos e sociológicos
sobre esse tema.
De acordo com essa visão, é justamente a abundância de opções à qual
as pessoas estão expostas que fundamenta o mal do homem moderno. aí
onde estão disponíveis alternativas complexas em uma sociedade,
torna-se necessário para o indivíduo dirigir a sua própria
existência sem os suportes tradicionais, isto é, sem os laços
étnicos, de classe e de parentesco. pois os valores são sempre
impostos a vítimas relutantes. e a principal tese defendida é a de
que, sob o regime de uma moral civilizada, a saúde dos indivíduos
estaria sujeita aos danos causados pelos sacrifícios que lhes são
exigidos. prova disso é o significativo crescimento da busca de uma
dieta eficaz, das academias de ginástica e clubes de malhação, em
que o espelho dita o ideal de beleza e escraviza o sujeito,
frequentemente em um ritual coletivo. e o adolescente que apresenta
uma vulnerabilidade especial para assimilar os impactos projetivos
do ambiente torna-se um receptáculo propício para encarregar-se dos
aspectos mais doentios do meio em que vive. pois, na busca de
segurança e de estima pessoal, eles tendem ao processo de
superidentificação em massa, tornando-se vulneráveis ao modismo e a
padrões de beleza idealizados, às vezes impossíveis de serem
vivenciados por eles, devido sua própria estrutura étnica.
concluímos então, que é a sociedade que recorre a um mecanismo
esquizóide fazendo com que o indivíduo em conflito, absorva seus
aspectos doentios, projetados e desenvolva características
sadomasoquistas como a bulimia e masoquistas como a anorexia, que em
última análise representa um processo de autodestruição. daí, o que
surge frequentemente como demanda para tratamento é a busca de um
antídoto contra o sentimento de incompletude narcísica e social.
sentimento esse, que vem carregado de angústias e ansiedades, gerada
pela busca frustrada da imagem ideal. contexto que promove a cisão
entre realidade e imagem e o sujeito adota uma visão teatral de sua
própria performance. nesse processo, o corpo como veículo da
experiência se torna um espetáculo onde são encenadas as distorções
da auto-imagem que podem determinar os transtornos alimentares.
A discrepância entre peso ideal e o real levam a um estado de
constante insatisfação com o próprio corpo e as dietas para perder
peso tornam-se extremamente freqüentes surgindo assim, um campo
fértil para os transtornos alimentares. Entretanto, é dentro dos
transtornos alimentares que as alterações da imagem corporal ganham
status de sintoma de primeira ordem.
Nietzsche vai dizer que a vulgaridade está no indistinto e associa
isso a alimentação do homem moderno que acredita poder digerir
muitas coisas ao mesmo tempo. nesse sentido nos tornamos sociedade
de consumo enquanto sistema simbólico. e o corpo gordo, muitas
vezes, se dá como o reservatório desse consumo, do que é engolido e
não é digerido por não compreender sua função nessa peça.
Considerando a obesidade como sintoma, uma formação reativa,
entendemos os pacientes que apresentam algumas dificuldades de
entendimento e aprendizagem, relativos às dietas que não podem ser
somente explicadas através da questão intelectual, apontando para
uma nítida negação que as impossibilita de unir o que sabem com o
que fazem com a própria alimentação.
Não entendo porque engordo tanto? Eu como tão pouco!
Tal dificuldade de perceber o que come e não come realmente,
refere-se à própria dificuldade de formular e elaborar mentalmente
os problemas subjacentes a sua obesidade.
Diante do exposto, acredita-se que é preciso atingir um nível
simbólico no processo de perda de peso para entender a atuação.
VÁRIOS " Anais do II congresso brasileiro de prevenção e tratamento
dos transtornos de ansiedade, depressão e transtorno de pânico" -
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