Transtornos de Estresse Agudo
Por Jorge Antônio Monteiro de Lima
16/07/2010

Características Diagnósticas

A característica essencial do Transtorno de Estresse Agudo é o desenvolvimento de uma ansiedade característica, sintomas dissociativos e outros, que ocorrem dentro de 1 mês após a exposição a um estressor traumático extremo (Critério A).

Para uma discussão dos tipos de estressores envolvidos, ver a descrição do Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Enquanto vivencia o evento traumático ou logo após, o indivíduo tem pelo menos três dos seguintes sintomas dissociativos: um sentimento subjetivo de anestesia,distanciamento ou ausência de resposta emocional; redução da consciência sobre aquilo que o cerca; desrealização; despersonalização ou amnésia dissociativa (Critério B).

Após o trauma, o evento traumático é revivido persistentemente (Critério C), O indivíduo apresenta acentuada esquiva de estímulos que podem ativar recordações do trauma (Critério D) e tem sintomas acentuados de ansiedade ou excitabilidade aumentada (Critério E). Os sintomas podem causar sofrimento clinicamente significativo, interferir significativamente no funcionamento normal, ou prejudicar a capacidade do indivíduo de realizar tarefas necessárias (Critério F).

A perturbação dura pelo menos 2 dias e não persiste além de 4 semanas após o evento traumático (Critério G). Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (droga de abuso de medicamento) ou a uma condição médica geral, não são melhor explicados por um Transtorno Psicótico Breve nem representam uma mera exacerbação de um transtorno mental preexistente (Critério H).

Em resposta ao evento traumático, o indivíduo desenvolve sintomas dissociativos. Os indivíduos com Transtorno de Estresse Agudo apresentam uma redução de responsabilidade emocional, freqüentemente considerando difícil ou impossível ter prazer em atividades anteriormente agradáveis, e com freqüência se sentem culpados acerca de realizarem tarefas habituais em suas vidas.

Eles podem experimentar dificuldades de concentração, sensação de estarem separados do corpo, perceber o mundo como irreal ou "como um sonho", ou ter maior dificuldade para recordar detalhes específicos do evento traumático (amnésia disociativa).

Além disso, pelo menos um sintoma de cada um dos agrupamentos sintomáticos necessários para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático está presente. Em primeiro lugar, o evento traumático é persistentemente revivido (por ex., recordações recorrentes, imagens, pensamentos, sonhos, ilusões, episódios de flashbacks, sensação de reviver o evento, ou sofrimento quando da exposição a lembretes do evento).

Em segundo lugar, esquiva de lembretes do trauma (por ex., locais, pessoas, atividades são evitados). Finalmente, uma hiperexcitabilidade em resposta a estímulos que lembram o trauma está presente (por ex., dificuldade em conciliar o sono, irritabilidade, fraca concentração, hipervigilancia, resposta de sobressalto exagerada e inquietação motora).

Características e Transtornos Associados Características descritivas e transtornos mentais associados. Sintomas de desesperança e impotência podem ser experienciados no Transtorno de Estresse Agudo e ser suficientemente severos e persistentes para satisfazerem os critérios para um Episódio

Depressivo Maior, sendo que neste caso um diagnóstico adicional de Transtorno Depressivo Maior pode ser indicado.

Se o trauma levou à morte ou ferimentos graves em outra pessoa, os sobreviventes podem sentir terem oferecido auxílio suficiente aos outros. Os indivíduos com este transtorno freqüentemente percebem a si mesmos como tendo maior responsabilidade pelas conseqüências do trauma do que seria apropriado. A negligência das necessidades básicas de saúde e segurança após o trauma pode acarretar problemas.

Os indivíduos com este transtorno estão em maior risco de desenvolverem um Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Comportamentos impulsivos e arriscados podem ocorrer após o trauma.

Achados ao exame físico e condições médicas gerais associadas Condições médicas gerais podem ocorrer em conseqüência do trauma (por ex., traumatismo craniano, queimaduras).

Características Específicas à Cultura

Embora alguns eventos estejam propensos a serem universalmente vivenciados como traumáticos, a gravidade e o padrão de resposta podem ser modulados por diferenças culturais nas implicações da perda.

Também pode haver comportamentos prescritos de manejo,característicos de determinadas culturas. Por exemplo, os sintomas dissociativos podem constituir uma parte mais proeminente de uma resposta aguda ao estresse em culturas nas quais esses comportamentos são sancionados.

Prevalência:

A prevalência do Transtorno de Estresse Agudo em uma população exposta a um sério estresse traumático depende da gravidade e persistência do trauma e do grau de exposição ao mesmo.

Curso:

Os sintomas de Transtorno de Estresse Agudo são experimentados durante ou imediatamente após o trauma, duram pelo menos 2 dias e se resolvem dentro de 4 semanas após a conclusão do evento traumático; de outra forma, o diagnóstico é mudado.

Quando os sintomas persistem além de 1 mês, um diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático pode ser apropriado, caso sejam satisfeitos todos os critérios para Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

A gravidade, duração e proximidade da exposição de um indivíduo ao evento traumático são os fatores mais importantes para a determinação da probabilidade do desenvolvimento de um Transtorno de Estresse Agudo.

Existem algumas evidências de que suportes sociais, história familiar, experiências da infância, variáveis de personalidade e transtornos mentais preexistentes podem influenciar o desenvolvimento do Transtorno de Estresse Agudo. Este transtorno pode desenvolver-se em indivíduos sem quaisquer condições predisponentes, em particular se o estressor for especialmente extremo.

Diagnóstico Diferencial:

Alguma sintomatologia após a exposição a um estresse extremo ocorre universalmente e muitas vezes não exige qualquer diagnóstico. O Transtorno de Estresse Agudo apenas deve ser considerado se os sintomas duram pelo menos 2 dias e causam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes ou prejudicam a capacidade do indivíduo de executar alguma tarefa necessária (por ex., obter a assistência necessária ou mobilizar recursos pessoais, contando aos membros da família sobre a experiência traumática).

O Transtorno de Estresse Agudo deve ser diferenciado de um Transtorno Mental devido a uma Condição Médica Geral (por ex., traumatismo craniano) e de um Transtorno Induzido por Substância (por ex., relacionado a Intoxicação com Álcool), que podem ser conseqüências comuns da exposição a um estressor extremo.

Em alguns indivíduos, sintomas psicóticos podem ocorrer após um estressor extremo.

Nesses casos, faz-se o diagnóstico de Transtorno Psicótico Breve ao invés de Transtorno de Estresse Agudo. Se um Episódio Depressivo Maior se desenvolve após o trauma, o diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior deve ser considerado, além do diagnóstico de Transtorno de Estresse Agudo.

Um diagnóstico separado de Transtorno de Estresse Agudo não deve ser feito se os sintomas representam uma exacerbação de um transtorno mental preexistente.
Por definição, um diagnóstico de Transtorno de Estresse Agudo aplica-se apenas a sintomas que ocorrem dentro de 1 mês após o estressor agudo. Uma vez que o Transtorno de Estresse Pós-Traumático exige mais de 1 mês com sintomas, este diagnóstico não pode ser feito durante o período inicial de 1 mês.

Para os indivíduos com o diagnóstico de Transtorno de Estresse Agudo cujos sintomas persistem por mais de 1 mês, o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático deve ser considerado. Para os indivíduos com um estressor extremo, mas que desenvolvem um padrão sintomático que não satisfaz os critérios para Transtorno de Estresse Agudo, um diagnóstico de Transtorno de Ajustamento deve ser considerado.

A simulação deve ser descartada naquelas situações em que entram em jogo uma remuneração financeira, qualificação para benefícios ou determinações forenses.

Critérios Diagnósticos para F43.0 - 308.3 Transtorno de Estresse Agudo

1. Exposição a um evento traumático no qual ambos os seguintes quesitos
estiveram presentes:

(1) a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram morte ou sérios ferimentos, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros;
(2) a resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror;

B. Enquanto vivenciava ou após vivenciar o evento aflitivo, o indivíduo tem três (ou mais) dos seguintes sintomas disociativos:

(1) um sentimento subjetivo de anestesia, distanciamento ou ausência de resposta emocional;
(2) uma redução da consciência quanto às coisas que o rodeiam (por ex., "estar como num sonho");
(3) desrealização;
(4) despersonalização;
(5) amnésia dissociativa (isto é, incapacidade de recordar um aspecto importante do trauma).

C. O evento traumático é persistentemente revivido no mínimo de uma das
seguintes maneiras: imagens, pensamentos, sonhos, ilusões e episódios de flashback recorrentes, uma sensação de reviver a experiência, ou sofrimento quando da exposição a lembretes do evento traumático.

D. Acentuada esquiva de estímulos que provocam recordações do trauma (por ex., pensamentos, sentimentos, conversas, atividades, locais e pessoas).

E. Sintomas acentuados de ansiedade ou maior excitabilidade (por ex., dificuldade para dormir, irritabilidade, fraca concentração, hipervigilância, resposta de sobressalto exagerada, inquietação motora).

F. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo e prejudica sua capacidade de realizar alguma tarefa necessária, tal como obter o auxílio necessário ou mobilizar recursos pessoais, contando aos membros da família acerca da experiência traumática.

G. A perturbação tem duração mínima de 2 dias e máxima de 4 semanas, e ocorre dentro de 4 semanas após o evento traumático.

H. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral, não é melhor por um Transtorno Psicótico Breve, nem representa uma mera exacerbação de um transtorno preexistente do Eixo I ou Eixo II.


Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br