Você está pronta? A Gestação do papel de mãe
Por Sirley Bittú
16/06/2003
Uma mulher quando deseja ser mãe muitas vezes enfrenta alguns medos
e as perguntas mais freqüentes são: Será que vou dar conta?
Conseguirei oferecer ao meu filho todo carinho e amor de que ele
necessitará?
Serei paciente o suficiente? Conseguirei gerar um filho?
Conseguirei gerar um filho perfeito? Conseguirei educá-lo sem
traumas?
Conseguirei sustentá-lo? Saberei cuidar dele fisicamente?
E os primeiros banhos? E o umbigo?
Conseguirei protegê-lo da violência dos nossos tempos?
Repetirei com meu filho o que vivi como filha?
Algumas vezes o pavor é tanto que algumas mulheres desistem de
tentar ou muitas vezes nem conseguem engravidar.
Quando experimentamos um novo papel, deparamo-nos com sentimentos,
necessidades e percepções totalmente novas, pois o tipo de papel que
estamos tentando desenvolver nos é desconhecido de maneira profunda.
Cada papel novo que desempenhamos traz consigo outros papéis
relacionados, como nesse caso o papel de mulher, de mãe e de filha.
Só é possível assumir o papel de mãe quando conseguirmos deixar o
papel e filha, e o que isso significa? Implica em assumir a
responsabilidade sobre nossas vidas, passar do papel de ser cuidado
para o papel de cuidador. É quando naturalmente nos tornamos mães e
pais de nossos pais.
Em outras palavras a condução desse processo está relacionada a
nossa segurança interna e auto-estima.
O papel de mãe se fortalece sustentado pela própria capacidade da
mulher de sentir-se fortalecida com suas características, mesmo
estando consciente daquelas características que não gosta tanto.
Durante a vida, todos nós somos solicitados a treinar esse papel de
alguma forma; mesmo os homens. Isto acontece quando nos percebemos
sendo generosos, afetivos, espontâneos e criativos não apenas em
relação aos outros mas também em relação a nós mesmos. Acredito que
é o que mantém a esperança na natureza humana.
Nossa vivência de ser acolhido, certamente nos fortalece e nos
ensina a acolher o outro. Podemos ter essa experiência, não apenas
nas relações que tivemos com nossas mães de origem, mas em todas as
relações afetivas que estabelecemos durante nossas vidas.
Algumas vezes a maternidade chega sem sobreaviso trazendo à vida de
algumas mulheres, muitas vezes ainda meninas, uma mistura de
sentimentos, um emaranhado confuso entre amor, raiva, culpa,
desespero, insegurança e principalmente medo. Ainda são apenas
filhas e muitas vezes não estão prontas para assumir essa tarefa,
precisando de todo tipo de ajuda e principalmente de suporte
emocional.
E nossas dúvidas, há respostas para essas perguntas? Quando tentamos
responde-las, caímos no caos do desconhecimento, no escuro, no duro
limite de nossa potência e impotência sobre nossas vidas, pois não
temos como garantir que teremos dinheiro para alimentar o filho, por
exemplo, ou que conseguiremos evitar um assalto, um seqüestro ou um
atropelamento, e somos então invadidos pelo medo e pelo pavor. A
sociedade faz da violência uma constante em nossos dias, limitando
nossas vidas e nossos desejos.
Então o que temos? Temos o que sempre tivemos: nossa disponibilidade
e nosso amor. O ser humano nunca teve, e dificilmente terá, o total
controle sobre os acontecimentos, as frustrações e as dores que
inevitavelmente passamos durante nosso caminho de desenvolvimento; o
que temos é a certeza de que faremos o que estiver ao nosso alcance,
pois daremos o nosso melhor e com isso o medo não desaparecerá por
completo, mas se transformará apenas em nossa cautela, prudência e
sensatez que nos protegerão e nos acalentarão.
Maternidade é uma dádiva, e como tal, exige responsabilidade e
comprometimento de quem gera; trata-se de um comprometimento com a
vida, um pacto de amor e dedicação e para tanto a mulher deve
sentir-se preparada e estar disposta, para esse belo ato de coragem
e fé.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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