Você quer ser feliz ou ter razão?
Por Suyen Miranda
16/05/2008
Num treinamento recente ouvi de um participante esta frase. Gostei
dela.
Num primeiro momento, confesso: preferi ter razão. É aquela coisa de
“querer fazer justiça, fazer o que é certo”. Afinal, assim é que
aprendemos ao longo da vida, fazer o que é certo, o que é devido.
Até aí, tudo bem. Não quero dizer que as coisas erradas, fora do
padrão ético, devam ser acatadas, aceitas. Fazendo isso estaria
sendo conivente com o que não concordo e passa a interferir no
outro. OK.
Mas o que veio num segundo momento de pensamento é que não preciso
convencer o outro de que ele está errado. É aquela situação: o
motorista passou no sinal vermelho, que estava fechado para os
carros e aberto para os pedestres. Esta situação, no Brasil,
acontece muito. Mas vai adiantar se os pedestres se unirem para
bater no motorista infrator? Ele irá aprender a conduzir melhor se
isso acontecer? Creio que não...
Estaria assim gerando mais um problema a partir de uma infração. E
quando o motorista comete a barbárie, o outro motorista resolve
xingar o primeiro e dar uma lição de moral? Já vi motorista que
perdeu a cabeça mas lembrou que tinha um revólver bem ali no
porta-luvas e resolveu colocar a arma em uso... depois virou notícia
no jornal onde eu trabalhava. Ao entrevistar o acusado (até prova em
contrário e julgamento final é acusado, ok?) ele sustentava a
questão de estar certo, “pois afinal ele tinha razão”...
A segurança de si mesmo prevê que busquemos seguir normas de conduta
que, se acatadas por todos, trarão condições melhores de vida. Este
é o objetivo de tudo: gerar qualidade de vida de forma espontânea,
sem coação. Portanto, podemos seguir o que consideramos o valor da
nossa segurança, mas não precisamos nos transformar em arautos do
que é certo ou errado. Não é nosso papel.
Só para lembrar, ensinamos muito mais pelo exemplo do que pelo que
dizemos – ou escrevemos. A ação cotidiana cria o exemplo. Eu canso
de ver pessoas ditas certinhas corrigindo os outros porque estão na
sua razão – e depois baixam a guarda e cometem infrações
semelhantes. Ai de você se for lembrá-las...
Reforço novamente que não sugiro um comportamento passivo e
ultratolerante com o errado. Longe disso. O que quero lembrar e
refletir é a necessidade de conflito. Por que entrar numa discussão
por um erro do outro que pouco ou nada irá interferir na sua vida,
na sua segurança e qualidade de vida?
O custo desta ação tem sido alvo de estudos em Neurociência e
Comportamento. Daí nota-se que não é irrelevante ou coisa de simples
observação. Muitos casos de pronto socorro nos grandes hospitais
partem de acidentes ridículos com origem na necessidade de alguns de
“fazer provar seus direitos”, “mostrar o que é certo e o que é
errado”, “fazer valer o que é certo”, entre outros ditos populares.
E muita gente dita “justiceira” acaba indo para o lado dos anjinhos
ou para dentro do camburão... E depois a conta – afinal, tudo tem
preço! – fica para os descendentes ou o erário.
Existem formas mais inteligentes de fazer a coisa certa, ser justo,
qualquer que seja a forma. E a mais comum delas é o exemplo do viver
bem, usando inteligência nas emoções, sendo um pouco mais racional e
ter o foco em si mesmo ajustado.
Nada custará mais do que sua segurança, seu viver bem. Esta relação,
bem azeitada, vale mais do que o externo possa mostrar. Seu
equilíbrio interno, sua força, são os pilares da sua felicidade.
Assim sendo, busque ser feliz!
Suyen Miranda é publicitária, jornalista, consultora em qualidade de
vida, pesquisa o comportamento humano nas sociedades e realiza
palestras motivacionais, treinamentos comportamentais e coaching,
com experiência internacional. Mais detalhes no site
www.suyenmiranda.com.