Você sofre com a falta de atitude de alguém?
Por Rosemeire Zago
17/09/2009
A maioria das queixas que recebo no consultório é sobre a decepção
que as pessoas nos causam, principalmente nos relacionamentos
afetivos, e todos buscam entender as possíveis causas. É claro que
não podemos responder por ninguém, mas podemos refletir um pouco
sobre o assunto.
Quantas vezes você esperou que alguém tivesse uma atitude numa
determinada situação e se decepcionou porque a pessoa nada fez ou
ainda, se fez, foi algo que estava longe do que esperava? Todos nós
sabemos que criar expectativas é o melhor caminho para a decepção,
mas qual de nós não espera ser reconhecido, valorizado, não só por
aquilo que faz mas, principalmente, por aquilo que é? Sim, nós
mesmos devemos nos aprovar, reconhecer e aceitar, mas há relação sem
troca?
O ser humano precisa de quatro condições básicas para viver:
atenção, admiração/reconhecimento, afeto/amor e aceitação. Ao
recebermos isso daqueles que nos são caros e, especialmente, da
pessoa amada, muitas de nossas necessidades emocionais são
satisfeitas, mas se não recebemos, a tendência é nos sentirmos sem
valor algum e, assim, tudo fica vazio, sem sentido de existir.
Claro que não podemos nem devemos colocar nosso valor -enquanto
pessoa- nas mãos de alguém, mas quem não espera um abraço num
momento de dor? Uma mão estendida, quando perdido? Uma palavra amiga
quando nos sentimos fracos? Um singelo e simples obrigado por tudo
que se fez pelo outro? Qualquer necessidade que temos, sobretudo
nossas necessidades emocionais, quando não supridas, geram
insatisfação, decepção, e alguns conflitos internos que nem sempre
percebemos. E quando isso ocorre é inevitável que nos sintamos
desamparados e totalmente perdidos.
O que mais queremos é que a pessoa que amamos esteja ao nosso lado,
incondicionalmente, que chegue o mais perto possível daquilo que
esperamos e sentimos em nosso coração, e quase sempre, suas
atitudes, ou a falta delas, se fazem tão distantes de nós e daquilo
que necessitamos, e neste momento constatamos uma cruel realidade:
estamos sós! Sós na dor, no sofrimento, na busca por uma saída ou um
caminho menos doloroso. Queremos alguém que nos salve! Nos tire
desse lamaçal de sofrimento. Mas quem poderá fazer isso por nós?
Muitos de nós pedimos e esperamos tão pouco, que até esse pouco
algumas pessoas são incapazes de nos dar: um abraço, uma atenção,
uma palavra, carinho, compreensão, apoio, exatamente num determinado
momento que mais precisamos.
E ao nos sentirmos sozinhos, literalmente abandonados, entramos em
desespero e começamos a cobrar, alguns chegam a exigir aquilo que
não estão recebendo, tornando o relacionamento insuportável para
ambos.
Muitas vezes nos esquecemos que cada um dá aquilo que tem. Será que
adianta pedir, implorar por algo que não veio espontaneamente?
Algumas pessoas dizem amar e sequer percebem o pedido de socorro
daqueles que gritam por amor e atenção. E esse grito pode se
transformar em diversas formas de amenizar uma dor... seja comendo,
bebendo, dormindo, trabalhando excessivamente, enfim, tentando fugir
do que tanto dói. Tudo para preencher um vazio que nada parece
conseguir ocupar.
Na verdade, quem não consegue se doar, ouvir o outro, é porque não
consegue ouvir nem seu próprio sussurro numa noite silenciosa.
Ignora o outro na mesma proporção que ignora a si mesmo. Algumas
pessoas ao longo do tempo se tornam agressivas como uma forma, ainda
que inconsciente, de se defenderem. Mesmo desejando uma palavra
amiga, só sabem devolver agressão, talvez a mesma que receberam em
algum momento de suas vidas, mas ninguém quer ser saco de pancadas
de ninguém, não é mesmo?
Nem sempre o que se expressa em palavras representa o que é sentido
verdadeiramente, mas como vamos diferenciar se o que foi dito é
sincero ou e é apenas um desabado de dor? Só sabemos que nos
machucam! Às vezes, machucam para sempre, por mais que se possa
perdoar, a cicatriz permanecerá.
E assim, choramos, e em lágrimas acabamos por adoecer. Sentimos a
dor em nossa alma e mesmo quando olhamos ao lado e vemos que há
alguém, ainda nos sentimos completamente sozinhos, nos sentimos mais
desvalorizados, menosprezados e, desta forma, mais machucados
ficamos. Nos sentimos sós no amor que expressamos, na dor que
sentimos. Sós na atenção esperada e no desprezo recebido. Sofremos,
sim, quando esperamos atenção que nunca recebemos, em palavras que
nunca se transformam em atitudes que se concretizam. E passam
minutos, horas, dias e meses que se transformam em anos e
continuamos a permitir que nosso sofrimento se estenda. Por quê?
Pela falta de atitude do outro? Não! Sofremos pela nossa própria
falta de atitude ao aceitarmos que tal situação se mantenha.
Sofremos quando somos rígidos e resistimos a mudar! Sofremos quando
não temos coragem de dizer basta! Sofremos quando insistimos em
manter um relacionamento por medo de ficarmos sós, mesmo quando já
estamos sozinhos por anos. Sofremos quando não nos sentimos amados,
não recebemos atenção, não nos sentimos importantes, quando nossas
necessidades e nossos sentimentos não são respeitados. Mas, com
certeza, sofremos muito mais quando nos sentimos incapazes de dar
tudo isso a nós mesmos, independente da situação externa.
Enquanto esperar que o outro enxugue suas lágrimas, venha salvá-lo
(a), dê-lhe um abraço ou uma palavra de esperança, faça-o acreditar
que você é importante... e por mais que espere, você nada recebe,
pergunte-se: até quando?
Será que não está apenas estendendo seu sofrimento até um ponto em
que não terá mais forças para sair de onde está neste momento? Será
que a hora de reagir não é agora?
Converse com a pessoa que ama e se perceber que ela é incapaz de lhe
dar o que tanto precisa, ao menos nesse momento, reavalie se alguém
merece todo seu sofrimento, todas suas lágrimas, sem sequer se dar
conta do quanto o(a) faz sofrer. O outro pode, se quiser, mudar, mas
não podemos nos permitir sofrer tanto, dilacerar nossa alma por quem
não percebe nosso real valor.
Olhe bem dentro de você e lembre de quantas situações difíceis já
conseguiu superar. Essa mesma força ainda está dentro de você!
Busque-a, ainda que esteja muito escondida no meio de tanta dor.
Encontre sua força, sua coragem, determinação, esperança e faça algo
por você, apenas e simplesmente por você! E o outro? Aprenda com
tudo que lhe fez, ainda que no meio a tanta dor é possível sempre
aprender e crescer! Considere sua realidade e não as ilusões que
você criou em função de suas necessidades. Afinal, você quer
crescer, ser feliz ou quer continuar chorando e esperando por aquilo
que está tão distante do que você deseja para sua vida? Só você
poderá responder! Mas lembre-se de que a atenção e o amor por si
mesmo(a) só dependem de você!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br