Você tem medo da paixão?
Por Sirley Bittú
21/10/2002
A paixão é comparada ao fogo: intensa, forte, quente, envolvente e
extremamente sedutora. Não manda aviso que está chegando nem pede
licença para entrar em sua vida.
Algumas pessoas temem a paixão pelo movimento de entrega que ela
implica. Paixão é envolvimento, o apaixonado mistura-se ao outro e
às próprias expectativas em relação ao outro.
Usamos o termo cegos de paixão, porque realmente esta dança parece
algo cega, não enxergamos o outro como se houvesse entre nós uma
cortina de fumaça composta por nossas ilusões, fantasias e desejos.
Na paixão enxergamos apenas o que queremos ver, nossas necessidades,
nossa completude.
E o que isso significa? É ruim a paixão? Saúde ou loucura?
Toda cegueira traz consigo a escuridão e a insegurança. O sentimento
de segurança não se desenvolve a partir de nossos olhos, mas dentro
de nós. O que nos protege contra o medo é nossa certeza de poder
superá-lo. A paixão é uma forma de envolvimento emocional; o que
possibilita o permitir-se apaixonar é a sensação de individualidade;
quando sabemos quem somos e o que desejamos, a paixão chega como um
movimento que acrescenta e nos transforma, mas, quando estamos
perdidos dentro de nós, frágeis e imaturos, a paixão torna-se
perigosa e viciante, nascem as relações doentias onde o outro passa
a ser a parte que necessitamos insanamente.
A maturidade emocional traz segurança e parâmetro para nos lançarmos
na paixão. Isto não significa medir o quanto se entregar, ou
envolver-se de forma moderada tentando evitar um possível
sofrimento, pelo contrário, significa ter internamente a certeza que
existe um eu que está se apaixonando, capaz de se defender e que não
desintegrará com uma frustração, sofrerá sim, caso se decepcione ou
não for correspondido, mas certamente sairá renovado e fortalecido
dessa experiência.
A paixão é um movimento intenso onde reina a emoção e onde a razão
de nada ou pouco interfere. Como todos os movimentos humanos, pode
ser positiva, à medida que possibilita crescimento e transformação,
ou negativa à medida que torna o indivíduo alienado e dependente
emocionalmente.
O ser humano necessita amar e ser amado para se desenvolver. Existem
várias formas de amar, acredito que o amor é um sentimento que
conquistamos, implica em carinho, ternura, gratidão, companheirismo,
desejo, amizade, aceitação, e muitas outras coisas, mas,
principalmente implica em conhecer o outro.
É comum as pessoas se apaixonarem por alguém que conhecem muito
pouco, simplesmente, porque a paixão vem de outra esfera, a esfera
da ilusão, tão necessária para nossa vida. Com o decorrer da
relação, e ao passo que as pessoas vão se conhecendo melhor, suas
qualidades e desejos, suas particularidades, ela vai naturalmente
tomando novas formas podendo se transformar em amor, amizade,
ternura ou - nas piores hipóteses - em relações doentias, onde
reinam outros sentimentos como raiva, posse, inveja, mágoa e
ressentimento.
Muitas vezes nos relacionamos buscando no outro o que não temos, ou
o que pensamos que não temos. Nas relações patológicas o outro passa
a desempenhar o papel ou a função na qual temos dificuldade. Por
exemplo, se não sabemos nos defender, colocamos o outro como nosso
defensor ao assumirmos a posição de vítimas, enquanto poderíamos
usá-lo como modelo, aprendendo com ele a nos autoproteger, a sermos
mais seguros e assertivos em nossos desejos e responsáveis por
nossas atitudes.
O caminho que cada relação vai tomar, dependerá da saúde emocional
de cada um dos envolvidos. Devemos cuidar de nossa saúde emocional
da mesma forma que cuidamos de nossa saúde física, pois ela
interfere em todas as relações que fazemos, sejam pessoais ou
profissionais e em nossa busca de viver de forma prazerosa e feliz.
Em síntese: Paixão é vida, é arriscar, é ousar, é envolver-se, é
sentir e não apenas pensar. Aprendemos com a experiência a avaliar a
relação custo/benefício de nossos atos, mas também aprendemos que a
vida não pode ser conduzida pelo medo, pois é preciosa demais para
ser desperdiçada.
Então... você ainda tem medo da paixão?
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br